Enquanto a maior parte das culturas periféricas perde espaço para a soja, a seringueira registra crescimento no Paraná. No intervalo dos últimos 12 meses, a área destinada à produção do látex aumentou 42%, de 1,4 mil para 2 mil hectares. O estado ainda está longe da meta de 35 mil hectares, mas o avanço segue o cronograma traçado para a fase de estruturação da cadeia, apontam os especialistas.
“Se pensarmos que a cultura não tem tradição no estado e que estamos realizando um trabalho de convencimento junto aos agricultores, o crescimento é bom”, afirma o engenheiro florestal Camilo Mendes Junior, do Departamento de Florestas Plantadas (Deflop) da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab). “A nossa escala prevê crescimento de 500 hectares nos primeiros anos, depois mil, até chegar a 2 mil [por ano]”, complementa.
Dos novos 600 hectares, quase a totalidade situa-se no Noroeste do estado. Dentre as explicações está a conformidade de clima e solo para a cultura, principalmente no Arenito Caiuá. A região, bastante sensível à seca, apresenta baixa produtividade para os grãos. Porém, é considerada excelente para o plantio de seringueira, cultura tolerante a estiagem e ao solo pobre.
Além desses fatores, os produtores são atraídos pela promessa de ganhos financeiros consideráveis. De acordo com a cooperativa Cocamar, que mantém projeto de fomento junto aos associados, a renda líquida de um hectare, a partir do sétimo ano do plantio, chega a R$ 3 mil por ano, podendo dobrar após a décima temporada, quando a árvore atinge seu auge de produção de látex (3,9 mil quilos de borracha por hectare).
“O cultivo de seringueira gera renda em pequena área, além de não exigir muito tempo de dedicação. Ou seja, o produtor diversifica os negócios”, aponta o agrônomo Renato Watanabe, responsável pelo Projeto Seringueira da Cocamar, que atraiu 60 associados no último ano.
O produtor Luiz Carlos Haeberlin decidiu apostar na cultura do látex, depois de anos de problemas com a soja e a laranja. No segundo semestre, cerca de 10% dos 200 hectares da propriedade em São João do Caiuá, no Noroeste do estado, serão cobertos com 10 mil mudas de seringueiras. O investimento inicial é de R$ 100 mil.
“Aqui o clima é complicado e o solo arenoso. Cultura anual é um risco muito grande. Por conta disso resolvi apostar na seringueira. A intenção é, aos poucos, transformar toda a propriedade em floresta”, afirma Haeberlin.
Para decolar
A fase inicial da expansão da seringueira esbarra até na falta de mudas, mas mercado é promissor
Viveiros
Após constatar que o estado se obriga a importar mudas de seringueira de São Paulo, o Instituo Agronômico do Paraná (Iapar) identificou sete multiplicadores, que estão sendo treinados para assumirem a tarefa. Esse processo deve durar 18 meses.
Apoio
O governo do estado e 12 prefeituras do Noroeste prometem subsídio de R$ 800 mil para pagar 50% do valor das mudas. Devem ser atendidos cerca de 10 produtores por município. Cada muda custa R$ 7 (R$3,5 mil por hectare).
Importador
O Brasil produz apenas um terço da borracha que consume. O restante é importado principalmente da Ásia. A demanda cresce impulsionada pelo setor automobilístico. A Cocamar planeja instalação de indústria para agregar valor ao látex.
Custo financiado
A implantação e a condução dos seringais até o sétimo ano, quando começa a produção, custa de R$ 6,5 mil e 8 mil por hectare. O crédito rural pratica juro de 2% ao ano, com oito anos de carência e 20 para quitação. É possível recuperar o investimento em dez anos.