O número de cabeças de gado do Paraná vem caindo continuamente desde 2002. A redução chega a 17% (de 10 milhões para 8,3 milhões de animais). Porém, o volume de carne produzido se mantém praticamente inalterado em 520 mil toneladas anuais. Os números são do Sindicarne e Anualpec e mostram intensificação da atividade, com redução no ciclo dos plantéis de corte.
De acordo com produtores e especialistas ouvidos pelo Agronegócio Gazeta do Povo, a redução do rebanho está ligada à transformação de pastagens em lavouras, estimulada pela valorização internacional dos grãos. Com área menor, a bovinocultura busca ganho de produtividade por meio de qualidade genética e tecnologia no manejo. Os resultados apareceram no encurtamento do período de engorda. Com novo perfil, a pecuária obtém animais de maior peso em menos tempo.
“Estamos fazendo pecuária com mais tecnologia. Antes, o gado era abatido com 3 a 4 anos, hoje conseguimos abater entre 24 e 30 meses”, afirma o pecuarista e presidente da Fundação Meridional, Luís Meneghel Neto. “O desenvolvimento do complexo genético e as melhorias na alimentação têm contribuído de forma muito grande.”
Segundo Meneghel Neto, que foi pioneiro em melhoramento genético de gado limousin, o ganho de produtividade é imprescindível para a sustentabilidade da pecuária diante da maior rentabilidade dos grãos e da cana-de-açúcar no Paraná. “Em um hectare, a cana e os grãos dão faturamento de até R$ 4,5 mil ou mais por ano. Na pecuária, com duas cabeças por hectare, você chega a R$ 3 mil por ano mais ou menos. Essa diferença contribuiu para a migração de atividade.”
Além da genética, houve incremento nas plantas de confinamento. Enquanto num pasto de boa qualidade o boi ganha, no máximo, 800 gramas por dia, num confinamento eficaz chega a engordar 1,5 quilo.
“Num estado como o Paraná, onde a competição com a produção agrícola é muito forte, o confinamento otimiza a produção e aumenta a rentabilidade por hectare”, afirma Bruno de Jesus Andrade, gerente executivo da Associação Brasileira de Confinadores (Assocon). “É esse o caminho da pecuária.”
Segundo dados da Assocon, entre 2011 e 2012 o número de animais em confinamento aumentou 18% nas pastagens paranaenses – de 86.320 para 102.076 cabeças. O número total de animais ainda é baixo em comparação com o de estados do Centro-Oeste, mas coloca o Paraná em quinto no ranking dos maiores confinadores do Brasil. “Se o produtor souber diversificar a atividade, o confinamento acaba servindo como uma ‘terceira safra’ para quem planta soja e milho”, afirma Andrade.
Confinamento acelera engorda e promete retorno com mais tranquilidade
Os investimentos em tecnologia e confinamento têm revolucionado a criação de gado na Fazenda Cachoeira, em São Sebastião da Amoreira (Norte Pioneiro). Com licenciamento ambiental e alta produtividade, a unidade é considerada modelo pela Associação Brasileira de Confinadores. Estão sendo abatidos 200 animais por semana – o equivalente a 10 mil por ano.
Com capacidade estática para 2.160 bovinos, uma área de 3,3 hectares tem o piso inteiramente recoberto por concreto e captação completa de dejetos. Com o novo modelo, o tempo de engorda para abate caiu de 260 para apenas 80 dias – com ganho de 1,5 kg a cada 24 horas. A rentabilidade média da atividade chegou a 4,5% ao mês, de acordo com o proprietário da Fazenda Cachoeira, André Carioba.
Economia de terra
O confinamento também permitiu a redução do espaço utilizado para produção de alimentos para o gado. Entre área de confinamento e de cultivo de matéria-prima para silagem, são usados 629 hectares. Se o mesmo rebanho fosse criado no pasto, seriam necessários 7,3 mil hectares, estima o pecuarista.
“A sinergia com outras atividades é que é bonita: a ração é produzida com os cereais que cultivamos aqui e com folhas do tomate que plantamos. Só o sal é que vem de fora. Os dejetos da pecuária vão como adubo para a lavoura. E no futuro, queremos trabalhar com geração de energia”, conta Carioba.
Os custos da pecuária intensiva, por outro, crescem sempre que o preço do milho sobe no mercado internacional, o que não ocorre na criação a pasto. A saca de 60 quilos do cereal, hoje cotada em cerca de R$ 20, passou de R$ 30 no Paraná na safra passada. Mesmo diante desses altos e baixos, a intensificação é considerada mais lucrativa.
Bois poderiam ser abatidos com 100 quilos a mais
Com 32 anos de experiência em pecuária, André Carioba aponta que a produtividade dos confinamentos e das fazendas de pastagem ainda tem espaço para crescer no país. A conversão de ração em carne estaria sendo suspensa precocemente, por limitações da genética dos animais e do próprio manejo. “Nos Estados Unidos, o gado é abatido com média 600 quilos; no Brasil, a média não chega a 450 quilos”, compara. Em sua fazenda, o abate ocorre com aproximadamente 540 kg.
Essa mudança requer investimento de peso. Carioba gastou aproximadamente R$ 5 milhões para chegar ao modelo atual. Por outro lado, os resultados estimulam ampliação do negócio. Ele deve investir mais R$ 1,5 milhão para incrementar o abate em 3 mil cabeças por ano.
“Hoje, 35% do faturamento da fazenda vêm do gado [e o restante da produção de grãos]. Estamos muito satisfeitos. A pecuária, além de tudo, gera fluxo de caixa o ano inteiro, diferentemente da agricultura. Isso faz muita diferença”, afirma.
8 em cada 10 hectares de pastagens são liberados para a agricultura quando fazendas de criação extensiva de gado são convertidas em confinamentos. O modelo intensivo, no entanto, assume ritmo industrial e exige altos investimentos.