O tradicional churrasco de fim de semana ganhou novas nacionalidades. Nos últimos anos, o consumo de carne de raças europeias tem aumentado significativamente no Brasil. Apesar do setor não possuir números fechados, o produto conquista cada vez mais espaço entre os criadores que buscam ciclos mais curtos e consumidores ávidos por carnes diferenciadas, tanto na qualidade como no preço. São os chamados cortes especiais.
A “invasão” europeia se intensificou há cerca de cinco anos, quando os animais começaram a ser inseridos no rebanho nacional. As raças como o Angus, oriundo da Escócia, e o Hereford, originário da Ingla-terra, hoje se misturaram ao Nelore, que ainda compõe 80% do plantel brasileiro.
Destes cruzamentos surgiram animais mais precoces, com maior rendimento carcaça (relação carne X osso) e com mais gordura entre as fibras. “Essa camada de gordura confere mais maciez e suculência à carne. É fundamental para dar o sabor”, avalia Clóvis Antonio Bassani, médico veterinário que trabalha com controle de qualidade e autor do livro “Aspectos e generalidades sobre a carne bovina”. “Essa gordura também serve para evitar a queima da carne durante a estocagem na câmara fria”, complementa.
De olho no mercado ascendente, alguns núcleos especializados em carnes especiais se estabeleceram no Paraná. Em Londrina, no Norte do estado, a cooperativa Maria Macia precisou elevar a produção para atender à demanda crescente. Em 2008, quando abriu as portas, abatia 20 cabeças por semana. Hoje, chega a 250 animais/semana. “No início, o pessoal achava que era loucura. Mas quando a clientela começou a conhecer os cortes diferenciados o crescimento foi espantoso, rápido demais”, contextualiza Bassani.
Na mesma toada, boutiques de carnes e restaurantes se especializaram em oferecer cortes especiais como shoulder, choriço, ancho e prime rib, que chegam a ter preços até 30% superiores aos de peças tradicionais encontradas nos supermercados. “Diferente da carne de raça não definida, o consumidor não terá surpresa negativa ao comprar uma picanha de Angus”, garante Marcos Canan, sócio da Bull Prime, açougue e restaurante de carnes nobres em Curitiba.