No princípio era o verbo. Décadas se passaram e pouca coisa mudou. O Mercosul foi criado em 1991, recheado de expectativas em torno da livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos, além do estabelecimento de políticas em consonância entre os membros. Contudo, para especialistas, depois de 25 anos, o bloco entregou menos do que prometia.
Razões há de sobra: vão da falta de interesse e investimento por parte dos dois principais parceiros, Brasil e Argentina, vezes pressionados por crises econômicas, vezes simplesmente satisfeitos com os bons preços das commodities; até a harmonia que nunca existiu na região entre custos de produção, energia e logística. Todas, entretanto, levam ao denominador comum: “o Mercosul não soube se operacionalizar”, resume o economista e professor da Universidade Positivo, Lucas Dezordi.
Combustível da América, agronegócio também enfrenta desafios
Se o Mercosul ainda luta para se manter em pé, o campo destoa e aparece como ilha de prosperidade no continente, amparado pela valorização do dólar e uma China altamente importadora nas últimas décadas.
“Aproveitamos bem, mas não dá para continuar apostando que a demanda chinesa será igual”, analisa o economista e professor da FAE, Gilmar Mendes Lourenço. “Temos que diversificar nossa base de exportação. As commodities sofrem muitas alterações. O frango é um exemplo, com uma cadeia altamente tecnificada e valor agregado”, acrescenta.
Além disso, é consenso entre os estudiosos que um bloco comercial forte teria resultado num desempenho ainda melhor. Para Lucas Kerr de Oliveira, da Unila, a saída passa igualmente por soluções integradas de pesquisa e financiamento para a agroindústria. “Não houve aliança entre os países, nem investimento em infraestrutura. Temos desafios enormes pela frente, como a expansão das hidrovias. É a forma mais barata de transporte e temos um potencial enorme. Isso permitiria negociar preços mais competitivos”, analisa.
Para avançar, o bloco necessita de uma revitalização efetiva, como será debatido na 4ª edição do Fórum de Agricultura da América do Sul, entre os dias 25 e 26 de agosto, em Curitiba. “A negociação em bloco é a forma de conseguir o máximo cedendo o mínimo possível. Mas pra isso você precisa ter políticas de estado que não mudem conforme mudam os governos”, pontua o professor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), especialista em relações internacionais, Lucas Kerr de Oliveira.
Vizinhos
Enquanto o Mercosul patina, outros países da região navegam em águas mais calmas. É o caso de Chile e Peru, que, num acordo recente, uniram-se a Japão, Estados Unidos e mais oito nações ligadas pelo Pacífico. “Eles vão crescer mais do que nós, pois têm segurança e juros menores. No nosso caso, esse custo é muito alto e tira competitividade”, avalia Dezordi.
“É preciso coordenar as políticas, reduzir a carga tributária e dar crédito às empresas com circulação no continente. Para o Brasil, a estratégia de curto prazo seria negociar com países da África, do Oriente Médio e da Ásia”, reforça o professor. No futuro, porém, salienta Lucas de Oliveira, “quem não estiver em bloco será engolido pelos gigantes”.
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