Há 32 anos, entrou em cartaz nos cinemas o filme De Volta para o Futuro. O carro dos viajantes do tempo utilizou a energia gerada por um raio para funcionar. Na falta de um novo raio, foi utilizada a casca de banana. Deu certo: a experiência inovadora mostrou que era possível utilizar biomassa para gerar energia. Pelo menos no cinema...
Hoje, o futuro chegou. A analogia com o filme, apresentada por Eduardo Trindade, gerente CI Biogás Itaipu, moderador do painel “Bioenergia e Etanol de Milho: Demanda Sustentável, Diversificação e Viabilidade”, no 5º Fórum de Agricultura, serviu de lembrança que o mundo está cada vez mais exigente quanto às energias renováveis, e que após o boom do etanol de cana, agora é a chance do etanol de milho crescer no Brasil.
Um dos convidados para mostrar esse potencial foi um representante da primeira usina de produção exclusiva de etanol de milho no Brasil, inaugurada em agosto: a FS Bioenergia - as outras usinas que utilizam o cereal no Brasil são flex, produzem etanol a base de cana e milho.
Eduardo Mota, gerente de novos negócios da empresa, considera a geração de etanol a partir do milho mais do que uma oportunidade para o país, que vê montanhas de grãos espalhadas pelos estados produtores. A produção é uma necessidade. “No mercado brasileiro há a necessidade de abastecimento pelos Estados Unidos”, afirma. Ele revelou que a empresa, que possui investidores brasileiros e norte-americanos, já pensa em ampliar sua recente produção, que irá gerar 240 milhões de litros de etanol por ano.
Etanol de milho: polêmica alimentar
Apesar do potencial, há fortes críticos da produção de etanol. A Comissão Europeia, por exemplo, se posiciona contra a produção de combustível a partir de produtos alimentares. Porém, Antônio Álvaro Purcino, gerente geral da Embrapa Milho, garante:
“A produção de etanol a partir de milho não resultaria na escassez do grão para alimentação animal (ração), nem humana e não teria impactos no preço da saca”, afirmou em sua palestra no Fórum.
Ele explicou que o Brasil sequer dá conta de consumir suas quase 100 milhões de toneladas produzidas. “Gastamos apenas 53 milhões de toneladas, e se precisarmos de mais milho, temos área para produzir ainda mais”, explicou. Ele apresentou um estudo que mostra que estados como Mato Grosso e Paraná, líderes nacionais no plantio, possuem aumentar em quase 4 e 2 milhões de hectares, respectivamente, suas áreas de cultivo do grão.
Outro incentivo para aumentar a produção do etanol de milho é justamente a dependência do produto que vem dos Estados Unidos, também citada por Eduardo Mota, e a intensa redução das exportações do etanol brasileiro nos últimos dez anos. “Nossa produção deve ficar cada vez mais focada no mercado doméstico”, afirma Purcino.
Globalmente, o Brasil tem quase 30% da produção mundial de etanol (incluindo milho e cana-de-açúcar), e os Estados unidos mais de 40%.