Países sul-americanos produzem 37,7 milhões toneladas de carnes (bovina, suína e de frango), quantidade que dá à região 28% do comércio global de proteína animal.| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

O aumento da população urbana em todo o mundo e o desenvolvimento econômico de países emergentes como a China criam uma nova janela de oportunidades para a cadeia produtiva da carne na América do Sul. Consumidores que conquistam aumento na renda média e ampliam a demanda por proteína sem abrir mão da comodidade forçam o setor a se adaptar rapidamente buscando mercado e renda. Para isso, além aproveitar a disponibilidade favorável de fatores de produção -- como terra e água -- a indústria aposta em cortes adaptados ao paladar global para garantir clientela sem perder valor agregado, mostraram os debates sobre o setor no 3° Fórum de Agricultura da América do Sul.

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“O Brasil e boa parte dos países da América Latina reúnem os quatro principais elementos que favorecem a produção de carne: disponibilidade de grãos, terra e água, além de um imenso potencial para a geração de biomassa”, resume o vice-presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin. Para ele, as demais regiões do globo reúnem apenas algumas dessas condições no mesmo espaço. “Com isso estamos preparados para ser a cesta de alimentos do mundo”, acrescenta.

Santin avalia que a expansão populacional torna o crescimento na demanda por proteína inevitável. Ele se baseia em projeções da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), que indicam incremento de 10 quilos no consumo per capita de carnes até 2024. “Uma entre cada nove pessoas sofre com a fome e outros 2 bilhões têm deficiência de micronutrientes. É inevitável que ocorra uma transição para dietas ricas em proteínas”, argumenta.

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Para aderir a essa onda de crescimento, a produção precisa ser versátil, seguindo modelos como o da avicultura brasileira. Hoje, o país exporta para 157 nações, em cortes que contemplam desde a venda dos pés das aves (para África do Sul e China, por exemplo), até a cartilagem (para o Japão). O fato ajuda a explicar a liderança do Brasil nas negociações externas da proteína branca.

Além de oferecer produtos acabados que atendam ao gosto urbano, a cadeia produtiva também precisa estar atenta a novos elementos que pesam na decisão dos consumidores, contextualiza o veterinário e professor da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp, Pedro Eduardo de Felício. “As pessoas estão mais atentas à questão da sustentabilidade. Hoje elas levam em conta até a quantidade de grãos, terra, água e energia gasta para se produzir um hambúrguer”, exemplifica.

Efeito multiplicador

A flexibilidade na produção se converte em garantia de mais renda, aponta o diretor-executivo da Frimesa, Elias Zydek. Ele indica que enquanto um quilo de suíno vivo custa em média R$ 3,55, a carne processada (850 gramas) vale R$ 10,20 na indústria, e chega a R$ 16,32 no varejo. “Além disso, quanto mais tecnificada for a indústria, menor será a concorrência”, pontua.

O ganho também é sentido no meio urbano. Zydek cita o exemplo da cooperativa, que gera um emprego direto para cada 200 cabeças de suínos abatidas, em média. “Como o Paraná abate 6,5 milhões de cabeças por ano, isso representa 32,5 mil empregos criados”, compara.