Imagem mostra atividade agroindustrial na região de Ponta Grossa. Logística favorece verticalização mas mercado desestimula investimentos.| Foto: Foto: Josua© Teixeira/gazeta Do Povo
Obras de duplicação na BR-376, próximas a Ponta Grossa. A Rodovia do Café é cada vez mais usada como corredor da soja e concorre com a PR-151, agora chamada de Rodovia do Leite

 

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O Paraná chegou a um estágio em que praticamente todo o espaço disponível na zona rural é aproveitado para produção agropecuária, e segue ampliando o agronegócio com a expansão industrial. Nos últimos cinco anos, as agroindústrias somam investimentos de mais de R$ 10 bilhões em um leque diversificado de projetos, direta ou indiretamente ligados ao campo.

A maior parte das indústrias em implantação no estado está sendo enquadrada no programa Paraná Competitivo, que concede benefícios fiscais no pagamento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Cerca de um terço dos protocolos para adesão ao programa tem relação com a cadeia agropecuária, apontam dados da Secretaria da Indústria, do Comércio e de Assuntos do Mercosul (Seim). Considerando apenas municípios que estão recebendo investimentos acima de R$ 50 milhões, há cerca de 30 projetos ligados ao campo.

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A onda de novos investimentos foi beneficiada pela maior disponibilidade de crédito, mas também é uma estratégia para ampliar a renda, explica o coordenador técnico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Flávio Turra. “Há uma demanda crescente por alimentos processados em todo o mundo, fato que, aliado à abertura de novos mercados, viabiliza as indústrias”, diz.

Para o diretor de pesquisas do Instituto Paranaense de Desenvol­vimento Econômico e Social (Ipardes), Júlio Suzuki, os municípios do interior tendem a ser beneficiados nessa nova leva de investimentos. “Os espaços em grandes centros como Curitiba estão se esgotando, gerando um interesse maior por outras áreas”, pontua.

Regiões como os Campos Gerais são protagonistas nessa nova onda de expansão. Em Ponta Grossa e Castro, os investimentos somam R$ 3 bilhões. Também está na região o maior projeto industrial em construção do estado, com custo estimado em R$ 6,8 bilhões: a nova fábrica da Klabin, do ramo de papel e celulose. A unidade está sendo instalada em Ortigueira e deverá ser concluída em 2016, criando mais de 1,4 mil empregos. Outro investimento de peso está sendo feito pela Ambev, numa fábrica de bebidas de R$ 580 milhões que promete elevar a demanda por cevada e trigo.

Parte das indústrias já está em operação, como é o caso da biorrefinaria para processamento de milho da norte-americana Cargill. A estrutura foi inaugurada em fevereiro, em Castro, ao custo de R$ 500 milhões, e deve atrair outras quatro empresas para a região, demandando entre 400 mil e 500 mil toneladas do milho por ano.

Outra unidade recém-inaugurada é fruto da parceria das cooperativas Capal, Batavo e Castrolanda. Ao custo de R$ 60 milhões, o trio construiu um moinho de trigo às margens da BR-376, em Ponta Grossa. A operação foi iniciada no começo de junho e a capacidade inicial de processamento é de 120 mil toneladas de trigo por ano. A meta, contudo, é dobrar esse volume, com um investimento complementar de R$ 25 milhões. O mesmo grupo também articula a construção de um frigorífico de suínos, com capacidade para abater 2,3 mil animais por dia, ao custo de R$ 100 milhões.

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Isso poucos anos depois da inaurugação das usinas de beneficiamento de leite da Castrolanda (R$ 95 milhões, 2008) e da Batavo (R$ 60 milhões, 2013), que elevaram o faturamento individual das cooperativas para além de R$ 1 bilhão. A Castrolanda investiu ainda R$ 15 milhões em uma planta de beneficiamento de feijão (2013).

Turra, da Ocepar, lembra que essa é a terceira onda de investimentos em agroindustrialização no Paraná. A primeira ocorreu nos anos 1970, quando o foco era apenas o esmagamento de grãos. Na segunda leva, nas décadas de 1980 e 1990, o foco era agregar valor à produção de regiões mais afastadas do Porto de Paranaguá. “Nessa época começou a indústria do frango, principalmente no Oeste do Paraná”, pontua. O terceiro ciclo começou ainda nos anos 1990, quando praticamente todas as áreas agrícolas do estado foram ocupadas, e ocorre até hoje, complementa.

Demanda reprimida

Na avaliação dos especialistas, contudo, ainda há espaço para o Paraná crescer mais. “Tem muita matéria-prima de qualidade que ainda acaba sendo direcionada para outros polos industriais, como São Paulo, que também estão investindo”, aponta Suzuki, do Ipardes.

Para o secretário estadual da Indústria, Comércio e Assuntos do Mercosul, Horácio Monteschio, isso exige investimentos também dos municípios que almejam receber novas indústrias. “Há um descompasso entre o que é feito e o que pode ser melhorado. É preciso investir em infraestrutura e qualificação de mão de obra, além de ter disponibilidade de áreas que possam ser cedidas às novas indústrias”, afirma.

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Projetos geram salto nos empregos

A implantação de novas indústrias promete fartura de empregos nos Campos Gerais do Paraná. Dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) indicam que, entre janeiro de 2012 e maio de 2014, a indústria de transformação ampliou em 6,25% o número de vagas, registrando desempenho superior à média estadual (5,93%). Atualmente são cerca de 40 mil postos de trabalho. Essa expansão está diretamente atrelada à construção de novas fábricas na região, sinaliza o economista da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Roberto Zurcher.

No passado a região já colheu os frutos da expansão industrial. Dados relativos à região Centro-Oriental do Paraná – que abrange os Campos Gerais – mostram que entre 2001 e 2011 a contribuição da indústria ao Produto Interno Bruto (PIB) do bloco cresceu 140%, para R$ 3,6 bilhões. Em paralelo, a receita gerada pela atividade agropecuária saltou 239%, para R$ 1,9 bilhão, conforme a estatística mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“A agroindústria foi importantíssima para o crescimento da região. E a expansão não deve parar por aí, já que os municípios estão se qualificando para receber novos investidores”, pontua o prefeito de Carambeí e presidente da Associação de Municípios dos Campos Gerais (AMCG), Osmar Blum.

Obras de duplicação na BR-376, próximas a Ponta Grossa. A Rodovia do Café é cada vez mais usada como corredor da soja e concorre com a PR-151, agora chamada de Rodovia do Leite 
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Logística privilegiada impulsiona região

Uma das regiões que mais sentem a terceira onda de agroindustrialização, os Campos Gerais têm a logística como principal aliada. Além de contarem com ferrovia e rodovias duplicadas, possuem a vantagem de estarem a 200 quilômetros do Porto de Paranaguá. Os próprios investimentos industriais inspiram um salto em infraestrutura, com benefício reverso para o agronegócio, avalia o setor.

Concessionária responsável pelas principais rodovias da região (BR-376 e PR-151) a CCR Rodonorte calcula que 70% do tráfego comercial nas duas estradas está relacionado ao agronegócio. A soja detém a participação mais expressiva no total de cargas que circulam na região, com 18% do volume movimentado.

O escoamento pelas duas vias começa a receber novo impulso já neste ano, com o início das obras de duplicação de aproximadamente 280 quilômetros nos trechos de Ponta Grossa a Apucarana e de Jaguariaíva a Piraí do Sul.

As obras seguem até 2018, mas o setor já assimila um novo panorama. A PR-151 vem sendo chamada de Rodovia do Leite, como ocorreu com a BR-376, conhecida como Rodovia do Café desde meados do século passado.

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PASSOS MARCADOS

A produção rural e a agroindústria determinam o rumo da economia do Paraná.

• Anos 70 – A atividade rural transcende o ciclo do café com a expansão da produção de soja, milho, carne e leite. Abre-se o  primeiro grande salto agroindustrial no processamento de grãos.

• Anos 80 – Crescem setores como o sucroalcooleiro. A meta é processar a produção antes de levá-la a Paranaguá. Em paralelo, a atividade rural passa por transformação tecnológica e ganha produtividade.

• Anos 90 – O crescimento das agroindústrias, puxado pelas cooperativas, amplia a geração de renda a partir das matérias-primas locais, abrindo o terceiro ciclo agroindustrial.

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• Novo milênio – Investimentos reforçam  o impulso registrado nos anos 1990. Faturamento crescente realimenta essa tendência.