No desafio de dobrar a produção de alimentos até 2050 para alimentar um planeta que terá quase 10 bilhões de pessoas, o Brasil, a Argentina e seus vizinhos da América do Sul jogam no mesmo time e estão com a bola nos pés. Segundo a ONU, as próximas jogadas do abastecimento mundial vão acontecer principalmente em solo sul-americano, para onde as atenções estão voltadas.
Serviço
Programação, palestrantes e inscrições: www.agrooutlook.com
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Mas, e se faltarem pernas e braços para dar esse salto agrícola?
“Há um grande número de famílias rurais cada vez mais confrontadas com os desafios da sucessão. Quem vai ficar com nosso patrimônio e levar a atividade adiante? Para complicar, isso acontece num ambiente de economia agropecuária extremamente acirrada, onde a competição produz vencedores e perdedores”, constata o sociólogo Zander Navarro, pesquisador da Embrapa com pós-doutorado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).
Mais da metade da produção global de soja é da América do Sul. Veja o gráfico.
Não sem motivo, “Sucessão, gestão e tecnologia. É o campo do futuro e em transformação” é o tema do 5º Fórum de Agricultura da América do Sul, promovido pelo Núcleo de Agronegócio da Gazeta do Povo, que reunirá em Curitiba, dias 24 e 25 de agosto, lideranças continentais do agronegócio, do governo e da iniciativa privada. Em debate, as melhores estratégias para garantir uma produção sustentável, com fixação das novas gerações no campo e maximização da geração de emprego e renda.
No município de Palotina, Oeste do Paraná, sede de uma das maiores cooperativas agropecuárias do país, a C.Vale, sucessão familiar é um assunto recorrente entre os produtores. “Tá todo mundo falando nisso, como vai ser a coisa daqui para frente?”, diz Luciano Miotto, que toca com dois irmãos a propriedade herdada dos pais, ampliada e diversificada nos últimos anos. “Meus filhos não vão herdar terras, vão herdar cotas de uma empresa”, indica o veterinário. Vários produtores da região têm buscado apoio jurídico e contábil para criar “holdings familiares”, com regras claras para questões como pró-labore, divisão dos lucros e transmissão de bens.
Miotto acredita que a agropecuária está hoje mais atrativa para os jovens do que na época em que ele precisou decidir o futuro profissional. “Não é mais aquela coisa rústica de pegar na enxada. Você usa softwares modernos, pulverizador guiado por GPS, toda uma parafernália eletrônica que exige qualificação. Até uns 20 anos atrás, o sonho era virar médico, dentista ou engenheiro. Hoje fazer um curso superior e voltar para a propriedade não é algo estranho, virou uma coisa normal”, avalia.
Foi o que aconteceu com Marcos Seitz, de Guarapuava, que com apenas 25 anos ganhou para família o prêmio nacional de produtividade de soja 2017. “Nós praticamos agricultura de precisão, sabemos exatamente qual é a área mais produtiva de nossa propriedade”, disse à Gazeta do Povo o jovem agrônomo em junho, quando recebeu o troféu em Passo Fundo (RS).
A atitude de Seitz é exemplar, segundo o sociólogo Zander Navarro. “Se não houver receptividade às inovações e à tecnologia, deixando para trás alguns competidores, a propriedade familiar não chegará a lugar algum”. Outro caminho obrigatório é o ganho de escala através do associativismo. “Você pode ser ótimo na organização da propriedade, ter uma produtividade elevadíssima, mas se tem porte pequeno, as chances são reduzidas. A saída é se juntar aos vizinhos ou a uma cooperativa e resolver o problema de escala”, enfatiza o pesquisador. “E o Paraná é o melhor exemplo disso, porque tem uma estrutura de cooperativas que é a melhor do Brasil”, completa.
Não será possível, no campo, sobreviver reproduzindo a atitude descrita na música de Elis Regina, de viver e fazer as coisas do mesmo jeito que nossos pais. “O desenvolvimento recente da agropecuária brasileira tornou a atividade agropecuária muito mais perigosa, por assim dizer. Os riscos aumentaram, o patamar financeiro subiu, a competição se acirrou ainda mais. A sucessão e o êxodo rural são temas de importância nacional, que afetam toda classe de produtores, dos mais pobres aos mais ricos”, conclui Navarro.
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O 5º Fórum de Agricultura da América do Sul 2017, dias 24 e 25 de agosto, trará a Curitiba uma discussão internacional sobre as tendências de oferta e demanda de grãos e energia. O debate passa por questões de mercado, tecnologia, sucessão no campo, abastecimento e segurança alimentar.
A abertura do evento terá participação especial do diretor geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o brasileiro Roberto Azevedo. Palestrantes e representantes de dez países estarão na cidade, incluindo três dos maiores produtores de alimentos do mundo: Brasil, Estados Unidos e Rússia, além de potências do agronegócio como Alemanha e Argentina, e nações em desenvolvimento acelerado, como Paraguai e Uruguai.
A transformação do campo é um assunto em alta que, inclusive, traz oportunidades para pessoas do meio urbano apostarem no campo. Giovani Ferreira, coordenador do Núcleo de Agronegócio da Gazeta do Povo, aponta que esse investimento vai além dos ‘cuidados com a lavoura’ e pode acontecer por meio da oferta de soluções tecnológicas e de ferramentas para a gestão e a governança no meio rural.
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