Três Arroios (RS) - A agricultura familiar vem sendo colocada à prova no Norte do Rio Grande do Sul, região conhecida pela diversidade – o que, em tese, é garantia de renda. Em busca de sustentabilidade, o setor descobre num segmento tradicional, a erva-mate, a chance de se reinventar. Investimentos em pequenas indústrias, próximas do cultivo, proporcionam receita até cinco vezes maior às regiões produtoras.
O quadro foi verificado no primeiro dia da Expedição Agricultura Familiar, que iniciou pela região de Erechim (Norte gaúcho) viagem de 15 mil quilômetros nesta segunda-feira. A parada foi, mais precisamente, em Três Arroios, onde uma nova indústria de erva-mate, a Ideal, mostra que existem sempre caminhos alternativos para o agronegócio de pequena escala.
O empresário Carlos Ruhmke conta que escolheu o município para o investimento de R$ 2 milhões justamente pela disponibilidade de matéria-prima. A indústria pode receber 2,4 mil toneladas ao ano, o dobro da produção total três-arroiense. Com cinco funcionários, atende o mercado nacional e está preparado para exportação. Metade da produção deve ser destinada ao mercado externo nos próximos anos.
Alternativa
Príncipe dos Vales do Alto Uruguai, o município é cortado por três arroios (riachos): Jacaré, Napoleão e Perdido. Com 2.885 habitantes, segundo a prefeitura, tem como principal fonte de renda a criação de suínos. Em seguida vem o cultivo de grãos. “A erva-mate corresponde a apenas 1,92% de nossa renda, mas com a industrialização a receita pode ser cinco vezes maior”, afirma o prefeito Lirio Zarichta (PDT). Isso porque o quilo processado da erva-mate vale mais que o do produto bruto.
Quem sempre tomou mate e produzia erva em casa para consumo próprio agora tem na atividade uma fonte de renda expressiva. O produtor Lino Roque Müller dedica nove hectares à cultura e chega a arrecadar R$ 40 mil por ano com a atividade. “Neste ano a renda vai cair [os preços ao produtor estão 30% menores, R$ 8 por arroba], mas está bom”, avalia. Ele deixou de processar a erva para consumo pela facilidade com que encontra nos supermercados e para ganhar tempo na lavoura, relata.
A viabilidade da erva-mate está no uso de mão de obra familiar, aponta o técnico que coordena o escritório municipal da Emater, Jair Antonio Grieblel. “O custo maior está nos cinco primeiros anos, em que não há colheita. Mas a partir do sétimo ou do oitavo ano, o investimento se paga.” A renda pode chegar a R$ 5 por hectare, o dobro da aferida com a soja na região.
A Expedição Agricultura Familiar percorre as mais diversas cadeias de produção em seis estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Bahia. Nesta terça-feira, vai a campo na região gaúcha da uva e do vinho, em Bento Gonçalves. Ainda nesta semana, visita polos de produção de tabaco e de alimentos orgânicos, num raio de 200 quilômetros de Porto Alegre.
Em vídeoSaiba o papel da agricultura familiar na segurança alimentar em entrevista com o consultor da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), Valter Bianchini, no link http://www.gazetadopovo.com.br/agronegocio/videos/agricultura-familiar-torna-combate-a-fome-viavel/.