O desenvolvimento da agricultura familiar brasileira precisa vencer uma série de desafios nos próximos anos – entre os quais a ampliação de acesso aos recursos públicos, o aumento da geração de renda e da produtividade do setor e a sucessão no campo – para se fortalecer enquanto alternativa sustentável de abastecimento e de segurança alimentar. Esse foi o primeiro diagnóstico apresentado durante o lançamento oficial da Expedição Agricultura Familiar, iniciativa do Agronegócio Gazeta do Povo, na última quarta-feira (7) em Porto Alegre (RS), no Centro Administrativo do Sicredi.
O evento levou à capital gaúcha o seminário “Tendências da Agricultura Familiar no século XXI”, que contou com a participação de representantes da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), da Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-RS) e dos técnicos e jornalistas do projeto.
Para o coordenador da Expedição, Giovani Ferreira, o debate é um dos principais fatores para que o segmento produtivo possa continuar se desenvolvendo. “A agricultura familiar não é mais uma condição de subsistência. É um segmento que gera renda, receita e movimenta as economias regionais. Debater a agricultura familiar é debater as condições do futuro do abastecimento e da segurança alimentar do país e do mundo”, analisou.
De acordo com o CEO do Banco Cooperativo, da Confederação e da Fundação Sicredi, Edson Georges Nassar, além de todas as políticas públicas, é necessário estar cada vez mais próximo do produtor, principalmente para a concessão de crédito. “A agricultura familiar promove desenvolvimento econômico e social. Por isso, queremos continuar dedicando uma atenção especial para o segmento”, afirmou.
Valter Bianchini, da FAO, lembrou a força que o segmento tem no mundo todo. “Nove em cada dez das 570 milhões de propriedades agrícolas no mundo são da agricultura familiar. A maioria dessas unidades são pequenas, 85% com menos de 2 hectares”, ressaltou. Já o diretor técnico da Emater-RS, Lino Vargas Moura, alertou sobre a importância de casar a assistência técnica com a disponibilidade de crédito e a questão da sucessão, que precisa ser posta em prioridade pelo segmento. “No Rio Grande do Sul temos um fundo para assistência de pequenos produtores que já auxiliou mais de 3 mil projetos. Esses pontos também precisam ser levados aos filhos desses produtores, para que eles tomem a decisão de permanecer no campo”, defendeu.
O representante do MDA, Marcos Gregolin, apresentou as políticas públicas destinadas à agricultura familiar e ponderou que, embora haja crescimento da concessão de crédito governamental para o segmento, o número de contratos tem diminuído. “Temos a incumbência de pensar as diretrizes para a agricultura familiar. Neste ano, o valor concedido ao setor, por meio do Plano Safra, é o maior da história. Mas estamos atentos quanto aos contratos, que estão em quantidade um pouco menor que nos anos anteriores”, analisou.
Rio Grande do Sul
A importância da agricultura familiar para o Rio Grande do Sul foi investigada pela Expedição durante a primeira semana de diagnósticos do projeto, que teve o estado gaúcho como ponto de partida. A equipe de técnicos e jornalistas percorreu cerca de 2,5 mil quilômetros na região para mostrar as cadeias produtivas da erva-mate, da uva, do tabaco e de alimentos orgânicos. A expedição ainda passa pelas produções do Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Bahia até o final de outubro.
O representante do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul (Ocergs), Silvino Wickert, lembrou que, das 138 cooperativas do estado, aproximadamente 95% são compostas por pequenos produtores, dentro do enquadramento do Programa Nacional de Fortalecimento Agricultura Familiar (Pronaf). O dirigente ressaltou ainda a relevância do projeto. “O que nós precisamos agora é unificar a agricultura familiar brasileira, e por isso a importância da Expedição Agricultura Familiar no sentido de criar ligações para o setor”, disse.
Apoio
Apoiam a Expedição Agricultura Familiar: o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), a Souza Cruz, o Sicredi, a Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural (Asbraer) e a Toyota do Brasil.
Sobre a Expedição Agricultura Familiar
A Expedição Agricultura Familiar é um projeto do Agronegócio Gazeta do Povo criado para investigar a revolução silenciosa e sustentável da agricultura brasileira. Consiste em um levantamento técnico-jornalístico que percorre seis estados brasileiros – Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Bahia – para traçar um diagnóstico do setor que está mudando a realidade do campo e é o principal responsável por abastecer as regiões urbanas do Brasil.
Trump, Milei, Bolsonaro e outros líderes da direita se unem, mas têm perfis distintos
Justiça suspende resolução pró-aborto e intima Conanda a prestar informações em 10 dias
Moraes viola a lei ao mandar Daniel Silveira de volta à cadeia, denunciam advogados
Grupos pró-liberdade de expressão se organizam contra onda de censura