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produção irrigada

Um corredor verde no meio da Caatinga

No horizonte, Rio São Francisco serve de canal de irrigação para lavouras que se formam na divisa da Bahia com Pernambuco, principalmente na região de Juazeiro e Petrolina. | Fotos: Jonathan Campos/Gazeta do Povo
No horizonte, Rio São Francisco serve de canal de irrigação para lavouras que se formam na divisa da Bahia com Pernambuco, principalmente na região de Juazeiro e Petrolina. (Foto: Fotos: Jonathan Campos/Gazeta do Povo)

A falta de água embrutece a vida no Sertão nordestino. Com seca de mais de seis meses todos os anos, o que persiste na Caatinga – ecossistema predominante no Nordeste que corresponde a 10% do território nacional –são cactos e arbustos sem folhas. Mas o semiárido, de um cinza agonizante, agora tem lotes verdes nos dois lados do Rio São Francisco, na Bahia e em Pernambuco. Os projetos de irrigação, idealizados cinco décadas atrás e implantados com mais eficiência nos últimos 20 anos, produzem alimentos tipo exportação apesar de a escassez de chuva já durar três safras. E, se depender das famílias de agricultores que migraram para a região, a produção de frutas para exportação é um caminho sem volta.

Em viagem pelo Nordeste, a Expedição Agricultura Familiar registrou os avanços desses sistemas, bem como a preocupação com a falta de água. Para avançar, é necessário uso de volume menor de água por hectare irrigado, disse o diretor geral da Embrapa Semiárido, Pedro Gama da Silva. “Existem sistemas mais econômicos que os adotados.”

A própria seca levanta o debate sobre a racionalização. Atualmente, é retirada água para produção de alimentos em 120 mil hectares, por meio de bombas e canais. O desafio é ampliar essa área numa época em que o próprio abastecimento das cidades está em risco.

Desde fevereiro as nuvens carregadas atravessam o Vale do São Francisco sem tocar o chão. E isso ocorre também na região da nascente, no Sudoeste de Minas Gerais, colocando em xeque o poder do Velho Chico de levar vida à região mais seca do país. Por enquanto, a irrigação é mantida em frequência suficiente para manter unidades de produção ativas, conferiu a Expedição. E a expectativa é que as chuvas voltem ainda neste ano.

A situação na represa da hidrelétrica de Sobradinho (BA) – a 40 quilômetros de Juazeiro (BA) e de Petrolina (PE), onde estão as principais áreas de produção de frutas irrigadas do Vale do São Francisco – piorou na última semana. O volume de água caiu de 5,6% para 4,5%, conforme o Operador Nacional do Sistema (ONS). É a pior situação registrada no país neste momento. No Rio Iguaçu, esse índice chega a 99%.

Isso torna o desafio de produzir alimentos na região mais difícil. As chuvas se limitam a 400 milímetros por ano, volume que cai em uma única semana chuvosa na Região Sul do país.

“Faz três anos que não chove [expressivamente], mas continuamos investindo”, conta Aldenor de Souza Silva, pernambucano que morou 30 anos no estado de São Paulo e retornou ao Nordeste atraído pela agricultura irrigada. Ele trabalha com a esposa Terezinha e as famílias de seus dois filhos, Cristiano e Adriano, em 5 hectares de mangueiras e 5 de parreiral de uva, ampliado recentemente.

“Agora que estruturamos a produção, a vida melhorou muito. Quando viemos para cá, nossa casa não tinha nem portas”, conta Terezinha.

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