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Em frangalhos

O aumento do dólar deveria favorecer as exportações. Mas aqui a lógica não se aplica

Frango enviado à China, à direita, e ao Oriente Médio, à esquerda | /Gazeta do Povo
Frango enviado à China, à direita, e ao Oriente Médio, à esquerda (Foto: /Gazeta do Povo)

Pela lógica do mercado, quando o dólar aumenta, os produtos brasileiros ficam mais baratos no exterior. Afinal, com o real desvalorizado, o custo final favorece ‘compradores gringos’, aumentando vendas e receita. O problema é quando a lógica encontra a realidade. É o caso da avicultura.

Quanto estava em seu nível mais baixo do ano, em janeiro, o dólar comercial estava em R$ 3,15. Atualmente, está próximo de R$ 3,85 – aumento de 22%. Mais frangos vendidos? Pelo contrário. Até junho de 2017, haviam sido exportadas 1,92 milhões de toneladas. Em 2018, foram 1,71 no mesmo período. Os dados são do Ministério do Comércio Exterior e se referem à carne in natura.

Aumento indigesto

A avicultura enfrentou diversos desafios neste ano: nova fase da Operação Carne Fraca, embargo de exportações de frigoríficos brasileiros à Europa, greve de caminhoneiros e, mais recentemente, uma sobretaxa da China ao frango brasileiro. Agora, graças ao dólar alto, houve aumento do preço dos insumos, especialmente a ração animal.

“O que aconteceu não foi exatamente a valorização do dólar e, sim, a desvalorização do real. Claro que com menos dólares o comprador terá um maior número de reais, o que é importante para o exportador de frango, mas isso também faz subir o preço das matérias primas, pois as commodities como soja e milho são todas dolarizadas”, afirma o presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar), Domingos Martins.

O estado paranaense é o maior exportador e produtor dessa proteína animal e teve oito plantas bloqueadas pela Europa. Uma das exportadoras do Paraná, a GT Foods não sofreu embargo: manteve as quatro unidades e abate 650 mil aves por dia, com 30% da produção enviada para fora do país. Mesmo assim, segundo o vice-presidente de operações, Rafael Tortola, o aumento do dólar foi mais prejudicial do que benéfico para a empresa:

“O comprador sabe da desvalorização cambial e sempre quer pagar menos dólares pelo nosso frango, enquanto que os custos aumentaram demais. Com o dólar nesse preço, todo mundo quer exportar o milho [que ficaria para ração], sem contar que o frete marítimo também encarece”, explica Tortola.

Do flagelo ao otimismo

Alguns reflexos já são sentidos, inclusive, no mercado interno. Segundo dados da Associação Paulista de Supermercados (Apas), até maio, o preço das aves estava com deflação de 14% nas prateleiras. Em junho, veio a virada: aumento de 21% em 30 dias. Agora, o setor acumula alta de 4%. A alta repentina, segundo o economista da Apas, Thiago Berka, tem a ver com a greve dos caminhoneiros.

Daqui em diante, o presidente do Sindiavipar espera uma retomada no setor. “Ficamos 11 dias parados, mas acredito que em 15 ou 20 dias já podemos retomar os números de exportação [do ano passado], mesmo com os embargos. Novos mercados estão sendo abertos e disputados”, afirma Domingos Martins.

Alguns fornecedores que não sofreram embargo já conseguiram aumentar a participação na Europa, como o Grupo Vibra. “Sempre buscamos alternativas para crescimento, mas não temos pressão de crescer a qualquer custo, como outros grupos”, afirma Gerson Luis Müller, diretor superintendente da Vibra. Outros, como a GT Foods, estão fazendo as contas. “Estamos tentando diminuir e diluir custos, com o mix de produção. Mas não tem muito que fazer por conta do preço das commodities”, finaliza Tortola.

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