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“A gente optou pela codorna devido ao custo de implantação da criação, achei que era mais barato investir”, relembra Tobias, hoje com 28 anos. | Agronegócio/Gazeta do Povo
“A gente optou pela codorna devido ao custo de implantação da criação, achei que era mais barato investir”, relembra Tobias, hoje com 28 anos.| Foto: Agronegócio/Gazeta do Povo

Aos 16 anos, Tobias Aguiar de Souza decidiu investir num negócio próprio, mas não queria fazer o mesmo caminho do avô, que tinha uma granja de frango de corte no agreste pernambucano e acabou indo à falência.

Que tal começar em pequena escala? Acreditando que, por serem menores do que as galinhas, as codornas dariam menos trabalho, o jovem Tobias decidiu arriscar a sorte com essas aves que, mesmo adultas, alcançam tamanho pouco maior do que pintinhos de uma semana de vida.

“A gente optou pela codorna devido ao custo de implantação da criação, achei que era mais barato investir, por ser uma ave menor, que demandava menos ração. Foi uma forma de iniciar minha própria renda”, relembra Tobias, hoje com 28 anos.

As pequenas codornas se revelaram um grande negócio na granja situada em São Bento do Una, a 180 km do Recife. Atualmente, em sociedade de irmãos, a Granja Souza produz diariamente 160 mil ovos de codornas. Cada ovinho é vendido para atacadistas na Ceasa de Caruaru por 10 centavos. Ou seja, as pequenas aves rendem um faturamento bruto diário de R$ 16 mil.

Mas quanto àquela história de dar menos trabalho...

As codornas, na verdade, são mais vulneráveis e ficam agitadas quando a temperatura passa dos 30 °C. “No calor, o frango se cansa e perde conversão de peso. Já a codorna, que não é tão dócil, se estressa e pode partir para o canibalismo”, conta Tobias de Souza. A solução para manter a paz entre as codornas é um rígido controle na temperatura dos aviários, obtido com o uso de ventiladores. Quanto ao mais, os cuidados sanitários são os mesmos de uma unidade de galinhas poedeiras ou de frangos de corte. Para entrar na Granja Souza, por exemplo, os carros têm que passar por um chafariz desinfetante e os visitantes utilizam avental e protetor para os sapatos, descartáveis.

Quero ovo de codorna

Apesar de o folclore da região Nordeste ter criado a fama de afrodisíaco para o ovo de codorna, é São Paulo que lidera a produção no país, com cerca de 30% do total. Mas a música imortalizada na voz de Luiz Gonzaga, “eu quero ovo de codorna pra comer, o meu problema ele tem que resolver”, mantém o apelo dos ovinhos no imaginário popular.

“A norma da gente aqui é essa. Todo mundo diz, ô xente, vou comer um ovinho de codorna para chegar forte em casa”, brinca Erandir Souza, feirante de São Bento do Una. O colega dele Joaquim Ferreira garante que já comeu 60 ovinhos cozidos de uma vez, para ganhar aposta: “E foi com casca e tudo. Dizem que a proteína está na casca, ora”.

De fato, outros moradores de São Bento do Una relataram que comer ovo de codorna cozido com casca não é algo assim tão raro. Ao contrário do Sul do país, onde 80% do consumo é na forma de conserva, em Pernambuco e região a estatística se inverte. Quase todo mundo compra os ovos de codorna em bandejas para cozinhar em casa. “Tendo ovo, eu como todo dia”, conta o vendedor Leonardo Couto.

Tobias, personagem-título desta história, prefere destacar o potencial nutritivo do ovo de codorna, com alto teor de vitaminas e minerais como ferro, fósforo e cálcio. Ele só lamenta que o consumo ainda seja muito sazonal, com alta procura no verão e queda ao fim da temporada. “As pessoas veem o ovo de codorna mais como algo para se consumir como petisco ou no caldinho, na praia. Cerca de 40% do consumo está concentrado no litoral. Agora é que ele está sendo inserido na alimentação humana como uma boa forma de nutrição”, observa o avicultor.

Um cenário com poucos dados, mas promissor

A coturnicultura, como é conhecida a criação de codornas, ainda é uma atividade pequena no Brasil, mas não pode ser desprezada. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), único órgão oficial que produz um levantamento da atividade, a população de codornas dobrou em dez anos: passou de 7,5 milhões de aves em 2006, para 15 milhões em 2016. Não existem dados mais recentes.

A produção de ovos desta ave também cresceu vertiginosamente no mesmo período: de 1,4 bilhão de ovos em 2006, para 3,3 bilhões em 2016. São Paulo (30,4%), Espirito Santo (22%) e Minas Gerais (13,3%) são os principais estados produtores. Na região Nordeste, Pernambuco (3%) é o estado mais bem colocado no ranking nacional de produção, seguido de Ceará (2,9%) e Bahia (2,3%). Não há dados oficiais sobre consumo desta proteína no país.

Em Minas Gerais, que em 2016 produziu 37 milhões de dúzias de ovos, a atividade não é nova. Segundo a diretora executiva da Associação dos Avicultores de Minas Gerais (Avimig), Marília Martha Ferreira, a coturnicultura existe no estado desde a década de 1990. Com o tempo, conta, ela foi incorporada por grandes produtores. “Principalmente no Sul de Minas, onde se adaptou bem e ganhou escala”, diz.

A Avícola Santo Antonio, em Lavras, no Sul de Minas Gerais, foi uma das pioneiras na criação desta ave no Brasil. Atualmente, o plantel é de 400 mil codornas. Segundo o diretor de produção do ASA, Benedito Lemos de Oliveira, a empresa sempre teve como objetivo diversificar a produção. E os resultados com a coturnicultura foram muito positivos. “Nós começamos com poucas aves e fomos evoluindo. Atualmente, além dos ovos in natura, vendemos parte da produção, cerca de 20%, em conserva. A demanda é muito boa”, afirma.

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