É quase que dispensável discutir o potencial de consumo de um país com mais de 1,2 bilhão de habitantes. O que se questiona é para onde caminha a Índia, em que ritmo o país vai crescer, se modernizar e inserir-se de fato no mundo globalizado do agronegócio. O desafio, imposto a partir da prioridade número um do governo indiano, que é a segurança alimentar, é manter a economia aquecida para segurar a desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2012, a Índia teve o segundo maior crescimento entre os países do BRICS. O Brasil registrou 0,9%; Rússia, 3,4%; Índia, 5%; China, 7,7%; e África do Sul, 2,5%.
A estratégica passa por investimentos para melhorar a infraestrutura do país, mas principalmente pelo agronegócio, apurou a Expedição Safra Gazeta do Povo, em viagem de 11 dias pelo país asiático. Nos últimos 20 anos, a Índia passou de altamente dependente das importações a autossuficiente na produção de alimentos. Mas, mais recentemente, o aumento da população e do poder aquisitivo dessa população está obrigando o país a voltar ao mercado internacional.
Para sustentar um consumo que começa a ser estimulado pelo próprio governo através de programas sociais, a Índia amplia os subsídios ao consumidor final, medida que pretende atingir 2/3 da população. Aprovada há três semanas, a Food Security Bill, a nova lei de segurança alimentar do país, abre novamente o mercado e a economia indiana, a exemplo das reformas realizadas na década de 90.
Com área, produção e tecnologia limitada, a Índia mira o Brasil, que se apresenta como um parceiro natural para a nova era de crescimento. Hábitos alimentares ainda impõem barreiras culturais nesse comércio. Como o fato de quase metade das pessoas ser vegetariana e a maioria não consumir carne bovina, por conta de a vaca ser considerada um animal sagrado aos hindus. Aos poucos, porém, isso passa por uma transformação. Mais por necessidade que por opção, os tabus são quebrados e hábitos ocidentais ganham espaço em meio à tradição.
Na mesma linha segue o comércio bilateral entre Brasil e Índia, que em 10 anos cresceu mais de 1.000%. “Estamos mais próximos, mas o Brasil ainda está pouco de olho na Índia”, lamenta o chefe adjunto da Embaixada Brasileira em Nova Deli, César Augusto Vermiglio Bonamigo. “O Brasil precisa se defender nas áreas de interesse direto, como é o caso do agronegócio”, sugere o diplomata.
A pauta entre os países não apenas cresce como se diversifica e está bastante equilibrada. Dos US$ 10,5 bilhões fruto da transação bilateral no ano passado, US$ 5,5 bilhões foram embarques do Brasil e US$ 5 bilhões da Índia. A liderança é do petróleo e seus derivados, seguida por açúcar, óleo de soja, produtos têxteis (seda e algodão) e defensivos agrícolas.
Empresas indianas ampliam sua presença no Brasil. A United Phosphorus Limitd, que há dois anos aportou mais de US$ 300 milhões em território brasileiro, se prepara para um novo investimento milionário no país (leia mais na página 3). Outro grande grupo que imobilizou capital no Brasil é a Renuka, empresa indiana produtora que açúcares que comprou usinas sucroalcoolerias em São Paulo e no Paraná. Entre as brasileiras presentes na Índia estão a Weg, do setor elétrico, a Vulcabrás, de calçados, a Gerdau, de aços, e a Marcopolo, de carroceiras.