Com uma safra recorde para escoar, os produtores de soja do Paraguai estão recebendo 8% menos na venda dos grãos por causa da lentidão nas exportações via Brasil e Argentina, apurou a Expedição Safra Gazeta do Povo. De um lado, o problema dos navios que esperam dois meses para carregamento no porto brasileiro de Paranaguá. De outro, a correnteza fraca que atrasa o início do escoamento da safra pelos rios Paraguai e Paraná, por onde os grãos seguem de barcaças até os portos argentinos.
A diferença entre o valor que o setor produtivo paraguaio recebe e as cotações praticadas em Chicago – que representa os custos logísticos e de transporte para exportação – subiu 35%, ou US$ 30 por tonelada, chegando a US$ 110/t. Com essa alta, em vez de US$ 415 por tonelada, os produtores estão recebendo US$ 385/t em Alto Paraná, departamento que faz divisa com o Brasil e concentra um terço dos 3 milhões de hectares de soja plantados no Paraguai. A situação se repete no departamento de Canindeyú, que fica na mesma região e planta um quarto da safra.
“Temos R$ 46 por saca (60 kg) e poderíamos receber R$ 50”, calcula o agricultor João Emanoel de Almeida. Ele colheu média de 3,2 mil quilos/ha em 1,1 mil hectares de soja em Los Cedrales (Alto Paraná) e já cobriu novamente a área com sementes da oleaginosa e de milho. A safra é de recuperação, espalhando ânimo no campo e deixando para trás as perdas provocadas pela seca de 2011/12, quando a produtividade foi reduzida quase à metade.
“Com os navios parados, as empresas exportadoras têm mais despesas [multas por demora e prêmios negativos]. Os custos todos entram no desconto que é feito a partir da cotação de Chicago e que define o valor pago ao produtor”, afirma Márcio Giordani Mattei, produtor em Santa Rosa del Monday (Alto Paraná), tradicional capital da soja do Paraguai. Metade desse desconto refere-se aos custos com frete, que subiram também devido ao aumento de 22% na produção brasileira de soja, que deve chegar a 81,62 milhões de toneladas, conforme o indicador da Expedição Safra.
Com as cotações locais em baixa, os agricultores paraguaios seguram nos silos o maior volume de soja possível, na expectativa que, em abril e maio, os embarques deslanchem no Brasil [leia mais na página 4]e na Argentina. A oleaginosa disputa espaço nos armazéns com o milho, que também registra queda de preços, acompanhando o mercado do Brasil, onde há oferta além da prevista desde o ano passado.
“Estamos com 70% da capacidade dos armazéns ocupados e temos que reduzir essa taxa antes da safrinha de milho e soja”, afirma Alex Albertini, gerente geral da C. Vale S.A., empresa Paraguaia ligada à cooperativa paranaense C. Vale. A companhia ampliou a capacidade estática de armazenagem de 35 mil para 60 mil toneladas nesta temporada e faz novo investimento para chegar a 66 mil toneladas.
País tem volume maior para exportar
As estimativas locais apontam que a safra deste ano deve render entre 7,5 milhões e 9 milhões de toneladas no Paraguai, volume que representa crescimento de pelo menos 15% sobre a colheita de dois anos atrás e de 75% sobre a do ano passado, quando uma forte seca provocou quebra climática. Com isso, o país deve exportar perto de 5,5 milhões de toneladas do grão, volume 70% maior que o da última temporada. Os 2,3 milhões de toneladas de expansão nos embarques, estimado pelos técnicos do setor, representam 7% de avanço sobre o recorde exportado há dois anos.
Sem acesso ao mar, o Paraguai depende dos países vizinhos para fazer sua soja chegar ao Atlântico. Considerando o produto em grão, mais de 90% do volume a ser exportado seguirá para os países importadores por hidrovias que cortam a Argentina, conforme a Câmara Paraguaia de Exportadores e Comerciantes de Cereais e Oleaginosas (Capeco). O restante depende do sistema rodoviário brasileiro, que também dá vazão a boa parte das exportações de óleo e farelo.
A influência da logística que envolve o Brasil nas exportações paraguaias aumenta à medida que o país amplia o processamento de soja, conforme o agropecuarista Celito Cobalchini, um dos diretores da Associação Rural de Canindeyú. As indústrias recebem atualmente até 2,5 milhões de toneladas ao ano e investem em novas plantas para elevar essa marca a 4,5 milhões de toneladas dentro de dois anos.
O Paraguai acaba de passar a marca de 3 milhões de hectares dedicados à soja. País é o quarto maior produtor e terceiro exportador mundial.
Expedição chega ao Chaco paraguaio
O Paraguai deu passos largos na produção de soja na última década, mas pode ir bem mais longe. O futuro depende do aproveitamento da região do Chaco, percorrida desde ontem pela Expedição Safra Gazeta do Povo. Municípios como Filadélfia e Loma Plata, 420 quilômetros ao norte de Assunção, são o ponto de partida para extensas planícies ora alagadas ora secas, numa região ainda pouco conhecida pelos produtores de soja dispostos a expandir suas lavouras.
Cooperativas que chegaram à região primeiro e se especializaram na produção de gado de corte e amendoim tornam-se fontes de informação sobre clima, fertilidade do solo, custos logísticos. Empresas dispostas a atuar na região estão contratando testes de campo com variedades de sementes adaptadas a outras regiões para sondagens particulares.
“Temos que contratar universidades para esse tipo de sondagem. Não existem informações precisas ou conclusivas sobre o potencial do Chaco para a produção de grãos”, relata Eugênio Albano, sócio da Somax, distribuidora de insumos que atua no Leste do Paraguai, a 800 quilômetros do Chaco. No Leste do país, cinturão tradicional de produção de grãos paraguaio, a estimativa é que ainda há espaço para ampliação da área da soja em 20%. No Chaco, ainda não há limites estabelecidos.
Depois do Chaco paraguaio, a Expedição segue para a Argentina, para conferir como as lavouras responderam a períodos de seca e de alagamento, registrados desde o início da temporada 2012/13. O projeto que viaja duas vezes ao ano aos 14 principais estados brasileiros pretende dimensionar a safra de soja e milho sul-americana.