Plantar sem ter de capinar ou arar a terra foi um sonho distante para a agricultura brasileira durante décadas. Para desinçar a terra, o setor atacou bancos de sementes de ervas daninhas com máquinas e herbicidas e estruturou o plantio direto. Desde a fundação da Federação Brasileira do Plantio Direto na Palha (FBPDP), exatos 40 anos se passaram. Nesse período – com menor pressão do mato, maior concentração da matéria orgânica da palhada, menos erosão e mais umidade no solo –, a agricultura quadruplicou a produção e está prestes a chegar às 185 milhões de toneladas de grãos em 2012/13 – marca que, segundo estudo publicado pelo Ministério de Agricultura há dois anos, só seria atingida em 2020. Palhada cobre o solo na fazenda Mutuca, em Arapoti Nas últimas quatro décadas, a colheita brasileira cresceu principalmente pelo aumento da produtividade, que hoje é três vezes maior, chegando a 3,46 mil quilos por hectare. Mas de onde veio esse avanço pode vir mais. O potencial da tecnologia do Plantio Direto na Palha (PDP) ainda é subaproveitado, mostrou a discussão que deu largada às viagens da fase colheita da Expedição Safra Gazeta do Povo, na última semana.
O lançamento da série de viagens do projeto por 14 estados ocorreu numa fazenda considerada marco zero do PDP no Brasil, a Agripastos, de Palmeira (PR), que pertence ao pioneiro nessa tecnologia Manoel Henrique Pereira. Para a surpresa dos 50 produtores, técnicos e autoridades que participaram, Nonô Pereira contou que todos estavam diante de uma área onde ele planta soja todo verão há três décadas. Fez todos se questionarem sobre como o plantio direto pode dispensar a rotação de culturas, prática comprovadamente essencial para o controle de insetos, ervas daninhas e doenças. Solo arenoso expõe plantas a risco ampliado de erosão “Essa questão é um tema técnico-científico pronto para se discutir. Ficar repetindo soja aumenta, principalmente, o risco de doenças na raiz e reduz a produtividade”, disse Nonô Pereira, diante da lavoura que deve render 60 sacas por hectare – 10 sacas a mais do que a média nacional. Na última semana, ele fez plantio de feijão sobre feijão. “Temos experiência de 18 anos de trigo sobre trigo”, emendou José Bento Germano, proprietário da Fazenda Mutuca, de Arapoti (PR), referência nacional de produtividade.
Metas vencidas
Com o auxílio de tecnologias como o PDP, as metas do setor vêm sendo atropeladas pelo crescimento da produtividade. O Ministério da Agricultura projetou aumento de 22% na produção de soja, milho, trigo, arroz e feijão nesta década, que passaria de 144 milhões (2010/11) para 176 milhões de toneladas (2020/21). Já na temporada atual devem ser atingidas 174,5 milhões de toneladas nessas cinco culturas, uma evolução de 20% puxada pelo milho e, principalmente, pela soja, que deve passar de 82 milhões de toneladas.
Isso tudo “economizando’ mais de 10 milhões de hectares. A previsão oficial era que seria preciso cultivar 68 milhões hectares para se chegar ao resultado esperado em 2020/21, mas a área de grãos se expandiu somente a 52 milhões de hectares até agora.
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