| Foto: Fotos: Jonathan Campos/ Gazeta Do Povo
Isolados, portos do Arco Norte têm capacidade limitada.
Buracos na BR-163 tornam o caminho mais longo em MT
Insuficiente, malha ferroviária não desafoga rodovias

Em fevereiro, o agronegócio brasileiro entra em contagem regressiva para o caos. Com o avanço da colheita de uma supersafra de grãos, o setor teme um apagão logístico. A estrutura de escoamento da produção – incluindo armazéns, estradas, portos e ferrovias – mostra que terá dificuldade como nunca para transportar a produção recorde de 185 milhões de toneladas. Um cenário que custa caro para o setor produtivo e preocupa os importadores, que, neste ano, contam com a produção nacional para saciar seu apetite.

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Na safra atual (2012/13), além de assumir a liderança mundial na produção de soja, o Brasil será o principal fornecedor do produto no planeta. Se a logística não atrapalhar os planos do mercado, o país vai embarcar mais de 36 milhões de toneladas da oleaginosa – 4 milhões de toneladas a mais do que no ano passado –, conforme previsões oficiais. Mas a viabilidade desse novo recorde depende de novos canais de acesso e mais estrutura nos corredores de exportação. Nenhum porto do Brasil carrega grãos em dias de chuva, por falta de cobertura nos berços de atracação.

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Dos principais produtores, Mato Grosso é o que enfrenta pior condição de infraestrutura, constatou a Ex­­pedição Safra Gazeta do Povo depois de percorrer quase 10 mil quilômetros pelo estado nas últimas semanas. A colheita local, a maior do país, depende basicamente de carretas e rodovias para chegar ao seu destino. E apenas uma ferrovia, localizada no Sul, na divisa com Goiás, alivia o tráfego no asfalto. Algumas cargas precisam atravessar o estado inteiro por estradas perigosas. A principal delas é a BR-163 – esburacada, sem acostamento, com pouca sinalização e trechos em obras.

“Apagão logístico”. É assim que o diretor técnico da Associação de Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja), Luiz Neri Ribas, define a situação no estado neste ano. “Já está faltando caminhão, inclusive para transporte interno. As estradas são as mesmas, portos e hidrovias também”, resume. Enquanto isso, as lavouras de soja do país anunciam a chegada de cerca de 15 milhões de toneladas a mais do que no ciclo passado.

Na medida em que a produção aumenta, a competição por transporte e armazenagem fica mais acirrada. O Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) reconhece que falta pouco para o estado não con­­seguir armazenar nem sequer a produção de uma safra. Segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Mato Grosso tem capacidade de estocagem para 28 milhões de toneladas, contra uma produção de quase 40 milhões de toneladas, considerando soja e milho safrinha.

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Além da falta de espaço para armazenagem dos grãos, Mato Grosso deve sofrer ainda com déficit de caminhões, disseram produtores e técnicos entrevistados pela Expedição. “Ainda não sabemos a dimensão do problema. No ano passado, com a quebra na produção do Sul, muitas carretas da região, especialmente do Paraná, foram deslocadas para socorrer o transporte no Centro-Oeste. Mas, neste ano, teremos safra recorde em praticamente todos os estados produtores”, destaca Daniel Latorraca, gestor do Imea.

O custo da logística precária já pesa no bolso dos produtores e a tende a pesar ainda mais, prevê a Aprosoja. “Não tenho dúvidas de que neste ano vamos superar a média histórica de preço do frete entre Sorriso (MT) e Paranaguá (PR) [trecho de referência] e ultrapassar os US$ 140 por tonelada”, aposta Ribas.

InfraestruturaSetor privado assume investimentos

A falta de alternativas para o escoamento da safra tem levado grupos privados a investir em logística. O grupo Amaggi, um dos mais fortes em produção de grãos do Centro-Oeste, pretende viabilizar um complexo portuário em Rondônia. A Ceagro grupo LosGrobbo amplia sua capacidade de armazenagem em regiões promissoras, como o Nordeste de Mato Grosso. Já a Seara, que cultiva cerca de 10 mil hectares no Paraná e em Mato Grosso, investe no transporte sobre trilhos para vencer o Custo Brasil.

Com sede em Sertanópolis, a empresa paranaense está prestes a inaugurar um terminal na retroárea do Porto de Paranaguá. Além da unidade no litoral, que será inaugurada ainda este mês, Londrina (PR), Rondonópolis (MT) e Marialva (PR) receberão aporte de dinheiro. Ao todo, serão R$ 155 milhões em novos terminais de transbordo de cargas de caminhões para vagões e ampliação de plantas já existentes.

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“Esses terminais encurtam a distância do caminhão e tornam o transporte ferroviário mais eficiente e barato na longa distancia”, explica Vitor Goltz, gerente de operações da empresa. Segundo ele, a alternativa permite cortar em até 25% ao ano o gasto com frete em relação ao transporte rodoviário.