A safra 2013/14 de verão não acabou no Brasil, embora as informações oficiais indiquem o contrário. Em Roraima, ainda há lavouras do grão – e em excelentes condições de desenvolvimento, diga-se de passagem –, conferiu a Expedição Safra Gazeta do Povo em viagem pelo extremo Norte do país na última semana.
Apesar do atraso de quase um mês nos trabalhos de plantio, o estado se prepara para colher mais de 50 mil toneladas da oleaginosa. O volume começa a chegar ao mercado em agosto, em plena entressafra brasileira e na mesma época em que os Estados Unidos iniciam a retirada dos grãos do campo.
As áreas de produção de Roraima estão localizadas acima da Linha do Equador, no entorno da capital Boa Vista, a única totalmente no Hemisfério Norte. Por isso, o calendário agrícola na região é o mesmo que o norte-americano. Ou seja, a janela de plantio se abre na primeira quinzena de abril e se encerra ao final de maio. Já o pico de colheita é previsto para setembro. “Nesse período [de cinco meses], chove entre 1,5 mil milímetros e 1,7 mil mm”, afirma Otoniel Ribeiro, chefe da Embrapa local.
Neste ano, contudo, houve um atraso de quase 30 dias na chegada das chuvas. “Comecei a plantar no dia 27 de maio e terminei em 4 de junho”, diz Afrânio Vebber, o “rei da soja” em Roraima, com 2 mil hectares cultivados. Apesar do atraso, ele acredita que vai conseguir média de produtividade acima das 53 sacas por hectare colhidas no ano passado.
Custo e prêmio
Plantar grãos em uma região isolada do país tem um preço elevado, mas também vantagens. Em Roraima, o desembolso para o cultivo da soja fica em torno de R$ 1,8 mil por hectare e o custo total em mais de R$ 2,3 mil por hectare. Os valores são comparados aos cotados para a safra 2014/15 em Mato Grosso, estado líder em produção no país e que tem uma agricultura mais onerosa por conta das distâncias que a safra precisa percorrer entre origem e portos. Mas o estado do Centro-Oeste não é o único prejudicado. “Quando olhamos para o custo, precisamos esquecer o custo da logística para trazer insumos e pensar no ganho com a comercialização”, avalia Vebber.
Por ter oferta disponível numa época em que o Brasil praticamente já exportou todo seu excedente, Roraima tem um mercado diferenciado. Os preços passam de R$ 70 por saca, perto de R$ 4 acima dos pagos em praças tradicionalmente valorizadas como Paranaguá (PR).
Por outro lado, os produtores não têm a opção de negociar antecipadamente a safra. “Nós aqui colhemos e vamos vendendo. Não precisamos guardar para vender na entressafra”, resume Vebber. Além disso, eles têm sempre de atravessar uma Amazônia seja para buscar fertilizantes ou transportar a produção até Itacoatiara (AM), alternativa mais próxima, que fica a pouco mais de 1 mil quilômetros do cinturão de produção.
Semente convencional predomina
Os quase 20 mil hectares plantados com soja em Roraima são ocupados por sementes não-transgênicas. De acordo com os produtores, a escolha atende a uma demanda do mercado internacional, já que a maior parte da produção do estado é exportada, principalmente para a Europa.
Atualmente, há poucas variedades disponíveis. A cultivar mais plantada nas lavouras do estado é a Tracajá, desenvolvida pela Embrapa local. O pai da tecnologia, o gaúcho Vicente Gianluppi, um dos pioneiros da sojicultura na região, conta que outros materiais estão chegando. “Fechamos uma parceria com o Centro de Pesquisa Agropecuária do Cerrado (CPAC) e, para 2014/15, devemos ter pelo menos outros sete materiais, que foram lançados no ano passado e são resistentes às pragas”, afirma. Sementeiros independentes começam a testar novas variedades em Roraima.
EM CAMPO: A Expedição Safra Gazeta do Povo, desenvolvida desde a temporada 2006/07, percorreu Roraima pela primeira vez.
• Logística – A viagem fez parte de um roteiro traçado para discutir potencial de produção de logística. Roraima foi o último estado visitado, na semana passada, depois de Pará e Amazonas.
• Percurso extra – Com a inclusão de Roraima, sobe para 15 o número de estados percorridos pela Expedição, que acompanha plantio e colheita de soja e milho no país anualmente, além de conferir a safra da Argentina, Paraguai, Uruguai e Estados Unidos.
• Estrada – Cerca de 70 mil quilômetros de estradas estão sendo percorridos em 2013/14. A viagem que encerra os trabalhos 2013/14 será para a África.
Reportagem especial: O Agronegócio Gazeta do Povo publica uma edição especial sobre o roteiro da Expedição Safra no Arco Norte brasileiro no próximo dia 22.
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