A abertura das exportações de milho pelo porto de Santarém, especialmente nos últimos dois anos, deu novo fôlego ao mercado do cereal no Oeste do Pará. A entrada do produto colhido nas lavouras do Centro-Oeste fez despencar os preços médios praticados no estado. Mas, ao mesmo tempo, trouxe oportunidades e consolidou a segunda safra para o setor produtivo do Norte. Antes da invasão do milho mato-grossense, as poucas granjas de frango instaladas no Pará chegavam a pagar R$ 50 por saca de 60 quilos – quase o mesmo preço de uma saca de soja – por conta da escassez de oferta, contam os produtores.
Atualmente as cotações oscilam entre R$ 22 e R$ 23 por saca na região e o espaço ocupado pelo grão vem sendo multiplicado. Há cinco anos praticamente não existia safrinha do cereal na região de Santarém. A expansão veio para atender a um consumo maior da indústria paraense, que conseguiu apostar na produção de carnes com a redução dos custos de alimentação animal. O produto que vem do Mato Grosso também chega às granjas, mas tem como destino principal a exportação.
Dos mais de 70 mil hectares destinados aos grãos nos municípios de Santarém, Belterra e Mojuí dos Campos, menos de 5 mil hectares eram cultivados com o produto. Hoje, a área plantada no inverno ocupa quase 60% do total, ou mais de 40 mil hectares. “Embora o preço tenha caído, o volume comercializado aumentou. Essa renda extra me possibilitou investir na própria cultura, em maquinários e também na pecuária. Sem contar que a estabilidade ajuda no planejamento da lavoura”, resume Rafael Menoli, paranaense natural de Cambé (Norte do Paraná), que cresceu nas lavouras da família em Mato Grosso e há pouco mais de dez anos decidiu apostar no Pará. Ele e o pai plantam 1,5 mil hectares do cereal neste ano, contra 200 hectares plantados há quatro safras. Com uma estrutura de beneficiamento, os dois conseguem agregar valor ao produto. A única diferença entre a venda para a granja e a de exportação é com o prazo de pagamento. As empresas locais normalmente pedem para quitar os débitos em duas ou três parcelas, afirma Menoli, o que não é problema.
Segundo os produtores, o frete para transportar milho de Mato Grosso para Santarém fica entre R$ 10 e R$ 12 por saca, que devem ser somados ao valor do produto. “Enquanto não tinha fluxo na BR-163 de Mato Grosso para Santarém, valia a pena plantar milho. Agora, dependendo do momento, é mais vantajoso para as granjas daqui trazerem o milho de lá”, pondera Elemar Domanski. Ele e o sócio destinaram metade dos 1,8 mil hectares ao cultivo do cereal no município de Belterra. As lavouras plantadas sem alta tecnologia prometem render 65 sacas por hectare.
A ampliação das lavouras de milho em Mato Grosso também é recente. Em cinco anos, a produção saiu de pouco mais de 7,5 milhões de toneladas para perto de 20 milhões de toneladas no ano passado. Com uma demanda interna fraca e um grande volume excedente, o estado se tornou o maior exportador brasileiro. Os problemas de abastecimento no mercado internacional nos últimos anos, após a quebra histórica nos Estados Unidos, favoreceram o ganho de mercado. E Santarém, que fica a mais de 1 mil quilômetros da divisa mato-grossense, também passou a ser um canal de escoamento do produto para o mundo.
Equipes seguem para Amazonas e Roraima
A Expedição Safra dá continuidade ao roteiro pelo Arco Norte nesta semana pelos estados do Amazonas e Roraima. Nos últimos dias, a equipe de técnicos e jornalistas conferiu projetos de ampliação e construção de novos terminais portuários da região. Depois de passar pelo Porto de Santarém, visitar as áreas de produção do Oeste do Pará e o distrito de Miritituba, no município de Itaituba, a equipe de técnicos e jornalistas visitou ontem uma área de exploração de cloreto de potássio da Potássio Brasil (fertilizantes) em Autazes e o Porto da Hermasa (Amaggi) em Itacoatiara.
Roraima, estado que respeita o mesmo calendário agrícola dos Estados Unidos, é o destino final da equipe e será visitado até quinta-feira (3). O objetivo é avaliar a evolução das lavouras de grãos, o uso de tecnologias, o clima e possíveis vantagens de mercado no estado, que colhe soja enquanto os outros polos de produção no Brasil estão na entressafra.
Ao todo, o roteiro do ciclo 2013/14 incluiu 15 estados no Brasil, além de Argentina, Paraguai e Estados Unidos. O Uruguai, que foi visitado pela primeira vez neste ano, também acaba de ser incorporado à sondagem de campo periódica. Uma viagem extraordinária ao continente africano até setembro encerra os trabalhos do projeto nesta temporada. Ao todo, serão percorridos cerca de 70 mil quilômetros nas Américas do Sul e do Norte.
Oportunidade: Cereal cresce no rastro do frango
A desvalorização do milho no mercado interno do Pará estimulou a produção de frango no Oeste do estado, acrescenta Pio Stefanello, um dos pioneiros na região. Há dois anos, um frigorífico com capacidade de abate de 120 mil unidades/dia se instalou na região e, segundo ele, outras empresas devem chegar. Contudo, 50% do mercado regional ainda é abastecido com carne de frango “importada” do Paraná. “Isso significa que ainda há muito mercado para o frango e consequentemente ao milho no Oeste do Pará”, avalia .
A oportunidade à exportação segue na mesma linha. Das quase 2 milhões de toneladas de grãos exportadas pelo porto da Cargill em Santarém no ano passado, 1,2 milhão de toneladas foi de milho e 800 mil de soja. Em 2014 a tendência é soja volte a liderar os embarques. De qualquer forma, existe toda uma estrutura preparada à exportação do milho num raio de 150 quilômetros do terminal. Hoje, o milho que chega do Mato Grosso percorre mais de 1 mil quilômetros pela BR-163.
R$50 por saca (60 quilos) foi pago aos produtores de milho do Oeste do Pará antes da entrada do cereal mato-grossense na região. Produto chegou a valer tanto quanto a soja.
Menos é mais? Como são as experiências de jornada 4×3 em outros países
Banco americano rebaixa Brasil e sobe classificação das ações da Argentina
Ministro da Defesa diz que investigação vai acabar com suspeitas sobre Forças Armadas
Janja “causa” e leva oposição a pedir regras de conduta para primeiras-damas
Deixe sua opinião