Os impactos do atraso na comercialização de soja nos Estados Unidos no mercado bem como as tendências de consumo de grãos e a influência da América no Sul no cenário de commodities pautaram as entrevistas da Expedição Safra com analistas da Bolsa de Chicago. Confira os principais trechos da conversa com Jack Scoville, da Price Futures.
A colheita dos Estados Unidos continua ou não a influenciar o mercado na atual temporada?
Não está influenciando agora. O mercado sabe que a colheita está pronta para entrar e o produtor pronto para começar a vender. Depois de tudo o que passamos no ano anterior, nossa produtividade está alta e o agricultor feliz com os resultados, de quase 160 bushel/acre no milho (167 sacas por hectare) e 41 a 42 bushels/acre na soja (46 sacas por hectare). Então, o mercado está muito mais tranquilo e sabe que essa produção está pronta para vender.
Essa produção dos Estados Unidos vai incrementar a produção de etanol, de ração e para a exportação ou a prioridade é recompor estoques internos?
Para tudo um pouco. O etanol está pagando bem para o milho. E pode ficar ainda melhor. Porque com os preços do trigo entre US$ 2 e US$ 2,5, uma cotação mais valorizada do que o milho, os produtores de carnes, frangos, vacas e suínos provavelmente terão que comprar mais milho. Já a demanda por exportação está ruim por agora. Os compradores do nosso milho fora dos Estados Unidos foram comprar mais barato no Brasil ou na Ucrânia e não compram aqui. O mercado doméstico para nós está melhor.
Em 2012, o Brasil exportou 24 milhões/t de milho, inclusive para os Estados Unidos. Agora, com recuperação norte-americana, o milho brasileiro vai encontrar espaço no mercado?
Depende tudo de preço e de diferentes valores de frete. Os valores do transporte ferroviário deixam o milho muito carro e podem levar o sudeste do país a comprar ainda mais milho do Brasil, uma vez que frete interno fica muito parecido com o de navio de Paranaguá para Bloomington, por exemplo.
Como foi a venda antecipada nos Estados Unidos neste ciclo? O produtor travou boa parte da produção ou não?
Não, eles não venderam muito por causa do clima anterior. Eu orientei meus clientes a vender em maio e junho, com preços melhores. Mas na verdade poucos produtores fizeram isso. Também tem a ver com o ano passado, quando eles venderam cedo, o que não foi bom. Agora, neste ano, fizeram ao contrário, não venderam cedo e não está sendo bom do mesmo jeito. Porém, neste momento eles sabem que a produtividade está consolidada, os preços estão baixos e que eles precisam escolher a melhor hora para vender.
Com quase 50% da safra colhida, quantos por cento da produção dos Estados Unidos você estima que estão vendidos?
Mais ou menos entre 20% e 25%. Alguns dos meus clientes já venderam tudo, mas a maioria apenas entre 10% e 15%.
A considerar a produtividade nos EUA e a previsão de plantio recorde no Brasil, o que esperar dos preços de soja e milho em janeiro, quando inicia a colheita na América do Sul?
Eu tenho hoje pelos gráficos como US$ 11,75/bushel para a soja por agora. Mais tarde, já no outro ano, se tudo ocorre bem no Brasil e na Argentina também penso que é possível ter preços a US$ 10 ou a US$ 10,50. O milho pode vir mais perto de US$ 4 ou um pouco menos pode ser o mínimo para o milho.