Paraná e São Paulo seguem o diagnóstico de Mato Grosso e planejam reduzir a área plantada na segunda safra (safra de inverno). O atraso no plantio da soja no verão, resultado de uma seca entre a segunda quinzena de setembro e a primeira de outubro, vai comprometer a janela de plantio do milho, cultura que ganha os campos após a colheita da oleaginosa. A constatação é da Expedição Safra, que percorreu cerca 2 mil quilômetros na última semana pelas regiões produtoras dos Campos Gerais, Norte paranaenses, além do Sul de São Paulo.
O problema com o clima é mais grave ao Norte, onde o volume de chuvas chegou a ficar 70% abaixo do normal, conforme produtores e cooperativas visitados. “Temos áreas em excelentes condições de desenvolvimento e microrregiões que podem sofrer uma catástrofe de produtividade, pois chegaram a ficar 50 dias sem água. São as mesmas regiões que tiveram quebra no ano passado”, revela o coordenador técnico da Cocamar, Emerson Nunes. A cooperativa, que atua em 667 mil hectares no Norte do Paraná, acredita que a área semeada com milho terá uma redução de 12% em relação à previsão inicial. Com isso, o cereal deve ocupar 394 mil hectares, contra uma previsão de 448 mil hectares. Quem ganhará terreno é o trigo, estima o técnico, após fazer levantamento com as unidades da empresa. A cooperativa também revisou para baixo o potencial produtivo das lavouras, de 3.300 kg/ha (55 sacas por hectare) para 3.070 kg/ha (51 sacas por hectare).
A irregularidade das chuvas estendeu significativamente a janela de plantio de verão nos dois estados visitados pela Expedição. O atraso nos trabalhos de campo está sendo recuperado em municípios como Ponta Grossa, Castro e Tibagi, mas o déficit hídrico no solo continua alto, o que aumenta os riscos e a necessidade de chuvas daqui pra frente. “Nessa época do ano passado estava com 90% da área plantada. Hoje estou em 65%”, conta Sylnei Caldeira, de Ponta Grossa, enquanto seus funcionários operam tratores que plantam no pó.
“Na nossa propriedade choveu menos da metade do normal. O que salvou é que aqui, especificamente, tivemos chuvas a cada 15 dias. Já as lavouras dos vizinhos estão há semanas sem receber água”, conta Anderson Rufato, que toca uma propriedade de 157 hectares de soja com o pai e o tio em Maringá. Eles mantêm expectativa de produtividade média em 3.47 mil kg/ha (57 sacas por hectare). Mesmo com uma condição acima da média na região, eles vão reduzir a área dedicada ao milho na segunda safra a 40% do terreno da soja. No ano passado, o índice foi 100%.
Fronteira
No Vale do Paranapanema, em São Paulo, ao menos 10% da área dedicada à oleaginosa sofrem com falta de chuva. O plantio na região ocorreu em quatro etapas e ainda não foi concluído, conforme dados da Coopermota, cooperativa que atua em 130 mil hectares de 16 municípios paulistas. “Essa vai ser a maior janela de plantio da soja da história, com até 65 dias”, conta o agrônomo José Roberto Massud.
Segundo ele, a seca e o calor atrasaram a germinação das plantas. Normalmente isso ocorre entre seis e sete dias após o plantio. Neste ano, as áreas emergiram após dez dias. “A diferença de temperatura entre máxima e mínima num dia chega a 25 graus. Nunca vimos isso aqui”, acrescenta.
“A lavoura perdeu formatura, mas se chover daqui pra frente ainda pode granar bem, apesar de ficar pequena. Ainda bem que as tecnologias de hoje dão alto poder de recuperação às plantas”, diz otimista o agricultor Eliseu Martins. Ele dedica 193 hectares à oleaginosa e busca a mesma média de produtividade do ano passado: acima de 3 mil kg/ha (50 sacas).
Vendas seguem travadas
A recente alta nos preços da soja no mercado interno, puxada pela Bolsa de Chicago e também pelo dólar valorizado no Brasil, ainda não motiva os produtores a fazer negócios futuros, tanto no Paraná como em São Paulo, conferiu a Expedição Safra em viagem aos dois estados na última semana. “Como ia fechar contrato futuro se não chovia?”, questiona Anderson Rufato, de Maringá.
Ele se enquadra no grupo de produtores que não vendeu uma saca sequer da safra que está plantada. Raros são os produtores que venderam mais de um terço da produção. Muitos dos que fizeram algum negócio deixaram de ganhar e agora é que não pretendem evoluir.
“Vendi 40% a uma média de R$ 57,50 e já vendi muito. Hoje está mais de R$ 60 para entrega futura”, revela Ricardo Wolters, de Tibagi. “O que vai nos salvar é essa instabilidade econômica, que vai levar o dólar lá para cima”, complementa Gustavo Ribas, agricultor e presidente do Sindicato Rural de Ponta Grossa.
Para Frangs Borg, presidente da cooperativa Castrolanda, de Castro (PR), o comportamento dos produtores está associado aos resultados obtidos em anos anteriores. “O produtor não está contente com o preço de R$ 58 e R$ 60 por saca, porque veio de três anos de boas safras e bons preços. Mas a perspectiva é que, neste ano, a rentabilidade vai cair pelo menos 20%. Isso é preocupante no caso da soja, porque é a principal cultura da região”, comenta.
Último levantamento da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab) aponta que 7% da produção estadual de soja estão comprometidos até o momento. Nesta época do ano passado, o indicador estava em 20%.
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