Colheita de inverno abre espaço para o plantio de verão, que segue até dezembro nos estados do Sul| Foto: Hugo Harada/ Gazeta Do Povo
Jorge dal Forno: trigo sem financiamento e contas apertadas em ano de quebra

O plantio de soja atinge os primeiros 10% no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina e as chuvas garantem umidade para a germinação das sementes. Porém, a agricultura ainda assimila os efeitos de uma quebra expressiva na produção de trigo — que pode chegar a 1 milhão de toneladas, considerando perda de volume e de qualidade — e mostra-se pouco empolgada com as cotações do mercado físico.

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INFOGRÁFICO: Confira o trajeto da Expedição Safra no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina

A Expedição Safra Gazeta do Povo percorreu os dois estados do Sul numa viagem de 2 mil quilômetros na última semana para acompanhar o início do plantio de verão (leia sobre a viagem pelos Estados Unidos na página 1). O quadro — que deveria ser empolgação depois dos resultados de 2013/14, quando soja, milho e trigo foram bem — revela forte apreensão.

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A quebra no trigo pode afetar as contas do verão, uma vez que boa parte dos produtores não faz seguro e que, mesmo com a quebra, a comercialização do cereal segue travada, com preços próximos de R$ 25/sc. Os produtores terão de acionar Proagro e seguro privado para não saírem no prejuízo, conta Gilmar Vione, que monitora a produção de 45 municípios do Noroeste gaúcho.

A região, que faz frente à colheita do trigo e ao plantio da soja, está destinando 708 mil hectares à oleaginosa, 1,5% a mais que no ano passado. Com as contas de inverno apertadas, a expansão do grão perde força. Só não deve ter cortes expressivos porque segue como opção mais lucrativa e pelo fato de o setor estar capitalizado, acrescenta Vione. Quem vendeu soja a R$ 65 em 2013/14 e não fechou negócios antecipados (mais de 90% dos produtores não afixaram preços) pode receber menos de R$ 50 na colheita, apontam os analistas da região.

A soja reduz as áreas de pastagens e de milho, mas só avança em áreas comprovadamente viáveis. O incremento é pequeno porque a agricultura tem espaço consolidado em todo o Norte gaúcho, mas também reflete o novo patamar da cotações das commodities, aponta o consultor Gustavo Trentini, da Seara Agronegócios, que deu apoio à Expedição Safra em Cruz Alta.

Considerando todo o estado, os gaúchos vão plantar 5 milhões de hectares com soja (+3,5%) e 870 mil hectares com milho (-8,4%), estima a Expedição Safra Gazeta do Povo. O dado considera que a zona do arroz (Sul) — onde cultiva-se cada vez mais soja num sistema de rotação que melhora o aproveitamento das pastagens — registra aumento maior no cultivo da oleaginosa do que regiões de agricultura consolidada. O plantio nessa zona de expansão vai até dezembro.

Essa tendência é verificada também em Santa Catariana, que confirma 550 mil (+3,2%)e 440 mil hectares (-11%), respectivamente. A destinação de boa parte da colheita para sementes, num ano que promete clima bom, garante incremento na renda e motiva a expansão catarinense. “Temos lavouras tardias de trigo, que tiveram quebra menor depois das enxurradas de setembro”, acrescenta o agrônomo Silvanei Jansen, que coordena o cultivo de 6 mil hectares na região de Campos Novos e Xanxerê. O produtor vai buscar na safra de verão restabelecer o equilíbrio de suas contas, mesmo com soja e milho mais baratos, aponta.

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Produtor busca cada vez mais segurança