A colheita de soja e milho de verão avança para os 20% com resultados contrastantes entre regiões relativamente próximas. O impacto de quebras que passam de 50% é rebatido por resultados animadores, muitas vezes nas mesmas fazendas, relatam produtores de Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul entrevistados nas duas últimas semanas pela Expedição Safra Gazeta do Povo.
A oscilação ocorre não só de um lote para o outro, mas também nas médias regionais. Com previsão de queda na produtividade ao longo da colheita, o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) elevou a marca da área já colhida na última semana para 52,4 sacas por hectare, depois de ter apontado recuo de 53,5 sacas para 51,5 sc/ha. Em meio aos altos e baixos, o estado terá de manter a média atual para atingir sua expectativa de mais de 27,5 milhões de toneladas de soja.
Além das estiagens localizadas, há problemas pontuais como ataques de formigas e lagartas que, em alguns casos, reduzem o rendimento em três a quatro sacas por hectare. “Nosso problema não foi o clima nem as lagartas, mas as formigas”, disse Glauber Silveira, que liderou a Associação de Produtores de Soja e Milho (Aprosoja) em Mato Grosso e em Brasília por oito anos e agora volta à linha de frente da produção em Campos de Júlio (Oeste mato-grossense). Diante do ataque dos insetos, reduziu sua previsão da média de 60 sacas para 57 sacas por hectare, ainda assim, duas sacas a mais do que na temporada 2013/14.
O corredor de produção entre o lado oeste de Mato Grosso e a região central de Rondônia foi privilegiado pelo clima. Com 600 hectares a mais do que na safra passada, Armando Matos espera até 55 sacas por hectare em Comodoro (MT). “O clima tem sido uma bênção para nós”, relata. Seu maior problema é não poder atravessar a divisa com Rondônia para secar os grãos sem pagar impostos.
Em Itapuã do Oeste (RO), as lavouras monitoradas por Joel Torres devem render 58 sacas por hectare, quatro a mais do que na última temporada. Ele conta que os grãos estão tomando espaço da pecuária diante dos bons resultados e perspectivas de melhora no sistema de escoamento.
Fora desse corredor, não é preciso ir longe para encontrar quebras. Em Campo Novo do Parecis (porção centro-oeste de MT), Antônio Carlos da Rocha afirma que as áreas mais arenosas vão render apenas 35 sacas por hectare e podem fazer com que a média desta temporada fique abaixo da registrada em 2013/14, que foi de apenas 42 sc/ha em 2,3 mil hectares, também por falta de chuva.
Em São Gabriel do Oeste (centro-norte de Mato Grosso do Sul), o agricultor Ari Fortti estima perdas de 50% — de 60 sacas para 30 sacas por hectare – em 38% das lavouras. Em Naviraí (mais ao sul), Alexandre Pallharini conta que áreas de 20 sacas vão derrubar sua produtividade média do potencial de 60 sacas para 54 sacas por hectare.
No maior polo de produção sul-mato-grossense, em Maracaju (região central), o potencial caiu, mas continua acima de 50 sacas por hectare, aponta o pesquisador da Fundação MS Carlos Pitol. Ele lembra que boa parte das lavouras ainda depende de chuva. A Federação da Agricultura do estado, a Famasul, prevê produtividade abaixo de 50 sacas por hectare.