Os veranicos bagunçaram o plantio de verão, mas aos poucos todas as regiões do Brasil cumprem plano de ampliação da área da soja. A oleaginosa atinge 31,16 milhões de hectares – com 1,67 milhão (5,68%) de expansão – enquanto o milho fica com 6,36 milhão de hectares – ou 540 mil (7,85%) a menos –, apurou a Expedição Safra Gazeta do Povo durante três meses de sondagens. Com a oleaginosa revigorada, o país deve atingir 202 milhões de toneladas de grãos em 2014/15, mesmo que o cereal perca área também no inverno.
INFOGRÁFICO: Veja os indicadores do plantio de verão
As chuvas das últimas semanas elevaram as expectativas dos produtores e técnicos em relação ao verão. A soja tende a atingir 96,14 milhões de toneladas, ou 1,59 milhão além do volume estimado na abertura do plantio. São 9 milhões de toneladas a mais do que em 2013/14, conforme dados da Expedição Safra.
Mesmo considerando redução de 2 milhões de toneladas no milho de verão (-5,76%), o incremento da soja eleva a produção nacional de grãos em 7 milhões de toneladas – o que permite ao país passar de 195 milhões para 202 milhões de toneladas. Esse cálculo considera possibilidade de recuo de 2% na área do milho de inverno. O cereal tende a somar 75 milhões de toneladas em seus dois ciclos na temporada 2014/15. Com a soja, representa 84,5% da produção nacional de grãos.
O país está a um passo de romper a marca de 200 milhões num ano de forte pressão baixista sobre as cotações, justamente pelo crescimento da produção global, liderada por Estados Unidos, Brasil e Argentina.
As regiões mais atingidas por veranicos no plantio foram Norte do Paraná, Centro de Mato Grosso do Sul, Oeste e o Centro Norte de Mato Grosso, Sul de Maranhão e Sul do Piauí. Houve replantio em centenas de fazendas. No balanço geral, essas áreas não chegam a 2% da soja. As áreas replantadas elevaram custos, mas germinaram bem.
Líderes em produção, Mato Grosso e Paraná mostram-se aliviados após o replantio. Com 1,01 mil hectares de soja em Pedra Preta (Sul de MT) e 800 hectares em Cornélio Procópio (Norte do PR), Élcio Camargo relata que teve de replantar 300 hectares nas lavouras paranaenses. “Depois que começou a chover, chegaram 30 milímetros aqui em Mato Grosso mas só 5 milímetros no Paraná”, explica.
Houve até quatro semanas de seca. A estratégia de plantar soja de ciclo mais longo (mais resistente a períodos de estiagem) amenizou o problema, resume o pesquisador Carlos Pitol, da Fundação MS, que mantém pesquisa em todas as regiões de Mato Grosso do Sul. “Sem dúvida houve impacto no potencial máximo de produtividade, mas, considerando as médias dos últimos anos, não dá para falar em perdas.” As chuvas de janeiro e fevereiro serão decisivas, aponta o agricultor Vilmar de Freitas, que monitora 980 hectares de soja em São Gabriel do Oeste (MS).
Mercado
Revisão da área do milho de inverno influencia cotações
O atraso de duas a quatro semanas no plantio da maior parcela da soja e do milho de verão deu margem à uma série de previsões que apontam redução no cultivo do milho de inverno. A Expedição Safra trabalha com estimativa de que esse recuo será menor que o inicialmente previsto e deve se estabilizar em 2%, em área próxima de 8,4 milhões de hectares.
O quadro ajudou a elevar as cotações do cereal no mercado interno, num momento em que os produtores mostram forte resistência também em relação às vendas antecipadas da soja. Mas o martelo ainda não foi batido em relação ao tamanho da segunda safra do cereal, apontam produtores e técnicos .
O Centro-Oeste acaba de inserir ingrediente que embaralha novamente as previsões. Os produtores confirmam que vão reduzir o uso de adubo no inverno (leia mais na página 4).
Com redução nos custos, as cotações tornam-se mais expressivas para viabilizar o plantio.
Por enquanto, o quadro de indefinição eleva a receita no campo. O escoamento da safra de milho do último inverno ganha ritmo em Mato Grosso. O quadro é favorecido pela alta do dólar.