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Produzir mais virou obrigação, conta o produtor José Luiz Kolarovic, que espera chuva para a soja, no Norte do Paraná | Hugo Harada/ Gazeta Do Povo
Produzir mais virou obrigação, conta o produtor José Luiz Kolarovic, que espera chuva para a soja, no Norte do Paraná| Foto: Hugo Harada/ Gazeta Do Povo
  • José Aroldo Gallassini, presidente da cooperativa Coamo, ressalta que o repasse é uma espécia de 13º salário para os produtores

O destempero climático deste início de plantio expõe os riscos, mas não altera o potencial das safras de soja e milho de verão, que levam o Brasil a uma safra de 202 milhões de toneladas de grãos (3,6 % além do recorde de 2014/15). A oleaginosa promete 94,55 milhões de t e o cereal outros 32,35 milhões de t. Principais apostas, as duas culturas devem compor 63% da safra nacional de grãos de 2014/15, aponta a primeira estimativa da Expedição Safra Gazeta do Povo, que iniciou roteiro de 60 mil quilômetros na última semana. As lavouras de arroz, trigo, feijão, algodão e outros produtos fecham a conta com mais de 75 milhões de toneladas.

INFOGRÁFICO: Veja a rota da 9ª edição da Expedição Safra

Produtores, técnicos, lideranças e analistas avaliam que a região à espera de chuva (Norte do Paraná e Centro-Oeste do país) pode ter de replantar algumas áreas – com elevação de custos numa safra de margens menores – mas não há sinal de recuo das apostas. O setor mantém o plano de expansão, puxado pela oleaginosa, mesmo diante de uma colheita gigante de 106,8 milhões de toneladas nos Estados Unidos.

A necessidade de replantio ou a suspensão forçada da semeadura durante esta segunda quinzena de outubro ampliam a necessidade de o setor produtivo buscar eficiência e competitividade. Os produtores descrevem a safra com mais confiança no clima – diante de previsões meteorológicas que confirmam a chegada de chuvas substanciais a partir do final desta semana – do que no mercado.

Capital mobilizado

Mais capitalizado e em condições de adiar vendas, o produtor não está folgado, afirma o agricultor José Luiz Kolarovic, de Rolândia (Norte do Paraná). “O fôlego que a renda da soja trouxe nos últimos anos foi investido em máquinas, que vamos pagar em dez anos.” As próprias contas impõem a necessidade de avanço em produtividade. Ele dedica 100% dos 410 hectares à soja e assume a meta de ultrapassar os 3,47 mil quilos por hectare da safra passada.

“O risco climático é concreto e cria forte expectativa por chuva nas regiões que iniciaram o plantio. A meteorologia vai definir esse quadro”, afirma o consultor da FCStone Leandro Souza, que acompanhou a Expedição na última semana. A região do Paraná que espera chuva registrou quebra no ano passado e tem amplas condições de colher volume maior de soja, considera o economista do Departamento de Economia Rural (Deral) Marcelo Garrido, que também participa da sondagem inicial.

A previsão de que o país vai atingir 94,55 milhões de toneladas de soja considera que a expansão do plantio (3,8%) acontece com força mesmo em estados sem área livre como o Paraná (3,2%). No Centro-Sul e no Sudoeste paranaenses, onde o milho ainda tem mais espaço a perder, a oleaginosa cresce 6%, elevando a área estadual a 5,15 milhões de hectares, estima a Expedição Safra. O cereal cai 14,5% em relação ao verão passado, para 590 mil hectares.

A disposição dos produtores para replantio de soja surge da própria falta de alternativa. Mesmo que perca o prazo para plantar milho na sequência, a oleaginosa mantém distância como opção mais rentável. Tende a ganhar espaço inclusive nas áreas de feijão que também pedem água no Centro-Sul do Paraná. Essas áreas terão de mostrar reação para não serem substituídas, aponta o agrônomo Josnei Silva Pinto, do Deral.

Entrevista

José Aroldo Gallassini, presidente da cooperativa Coamo

Venda travada sobrecarrega silos

O produtor pode até não se arrepender, mas a redução das vendas antecipadas causa efeitos práticos ao agronegócio. A Expedição Safra apurou que o volume de soja com preço pré-estabelecido em contrato no Paraná caiu de cerca de 25% (2013) para menos de 10% (2014) na fase inicial de plantio. E isso provoca reação em cadeia. Os armazéns estão recebendo volume recorde de trigo (4 milhões de t no estado), com vendas fracas. Se os preços não subirem, soja e milho de verão também vão ficar mais tempo nos silos. O próprio faturamento das cooperativas pode cair. Além disso, com os negócios parados, a venda de insumos vem sendo adiada. O quadro preocupa a gigante Coamo, com sede em Campo Mourão.

Vai faltar espaço?

Nossa capacidade é para 4,5 milhões de toneladas e vamos receber 6,9 milhões. Quando vende bastante, vai entrando e vai saindo (...) Neste ano, a alternativa seria alugar armazéns, mas isso é muito caro. Vamos arrendar, pela primeira vez no Paraná, dois ou três alqueires para instalar silos bolsas no chão.

Isso vai interferir nas contas da cooperativa?

Não é queda. O que ficar para ser faturado no ano que vem não vai ser faturado agora e não entra em 2014. O crescimento [no faturamento] deve ser de R$ 8,18 bilhões para R$ 8,4 bilhões.

Por que o produtor não está vendendo?

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