Rosário (Argentina) -- Mesmo com a soja valendo um terço a menos do que há um ano, a conversa é animada nas rodas de chimarrão que reúnem produtores argentinos em volta de máquinas agrícolas no pampa úmido. O reduto de cultivo de grãos, num raio de 200 quilômetros em volta de Rosário, supera suas médias históricas. Fazendas de todos os tamanhos atingem marcas de 5 mil quilos de soja ou 10 mil quilos de milho por hectare, um feito histórico, que desafia os principais concorrentes na produção e exportação de grãos: Brasil e Estados Unidos.
Assunto principal das “charlas” no campo, essa soja, porém, chega a conta gotas ao mercado. Mais do que de costume, a ordem é estocar. Montanhas de grãos estão sendo formadas em armazéns metálicos, em silos bolsas e em fardos gigantes improvisados. A 50 quilômetros de Rosário, a Cooperativa Agrícola de Monje, por exemplo, adota a “cela australiana”. Com barreiras de metal, os funcionários formam uma piscina de lona. Dentro dessa piscina, depositam toda a soja possível, prevendo chegar a 7 mil toneladas – 10% do volume de grãos armazenado pela empresa.
“Por três ou quatro meses, a soja vai ficar na cela. Depois passaremos para os silos de metal, que são mais seguros”, conta o chefe do setor de cereais da cooperativa, Carlos Segovia. “O escoamento neste ano vai ser lento. Os produtores vão vender só o necessário para pagar as contas”, sentencia.
“Temos média de 4,5 mil quilos por hectare, mas não dá para vender a US$ 200 por tonelada”, justifica o cooperado Emanuel Zuccali. A cotação é reduzida em 35% pela retenção cobrada pelo governo sobre as exportações – e o preço acaba ficando também um terço abaixo do praticado no mercado internacional. “Além da retenção, temos o problema da inflação alta [de 20% a 30% ao ano], que aumentou em pelo menos 15% nossos custos. A safra é recorde, mas podemos acabar a safra no vermelho”, lamenta o agricultor.
A safra argentina, neste momento, aponta para recorde de 58,5 milhões de toneladas de soja e 24 milhões de toneladas de milho – 7% a mais e 8% a menos do que em 2013/14, respectivamente –, apurou a Expedição Safra Gazeta do Povo, em viagem de 4,5 mil quilômetros pelo país vizinho.
Soja e milho registram volume histórico logo após safras gigantes nos Estados Unidos e no Brasil. Buenos Aires espera ao todo 115 milhões de toneladas de grãos.
A Bolsa de Comércio de Rosário, a Bolsa de Cereais de Buenos Aires e o Ministério da Agricultura, consultados pelos técnicos e jornalistas do projeto, indicam que o país pode chegar a 60 milhões de toneladas de soja se a produtividade se mantiver em patamares acima dos previstos. Isso mesmo com perda de 800 mil hectares por problemas como inundações.
Com um terço das lavouras colhido, a soja sustenta média de 3,8 mil quilos por hectare. A tendência é que esse índice caia a 3 mil quilos por hectare com o avanço das máquinas, que seguem para zonas menos produtivas. Mesmo plantações de “soja de segunda” ou áreas mais secas prometem produtividade até 1 mil quilos acima das marcas históricas regionais.
EstoquesO país estima que 70% do volume da soja acabarão sendo destinados ao mercado externo na forma de grão, farelo e óleo. No milho, o índice deve chegar a 60%. Mesmo assim, os estoques nacionais podem alcançar patamares jamais registrados.
Às vésperas do próximo plantio, em setembro, o país ainda deverá contar com 35 milhões de toneladas de soja e perto de 1 milhão de toneladas de milho. No caso da oleaginosa, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, 39% das reservas globais estarão nas mãos dos argentinos.
58,5 milhõesde toneladas de soja estão sendo colhidos na Argentina, contra 55 milhões de toneladas registradas um ano atrás. No milho, o país deve recuar , de 26 milhões para 24 milhões de toneladas. No caso da oleaginosa, se as médias continuarem acima das previstas até o fim da colheita, a safra pode atingir 60 milhões de toneladas.
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