Excesso de água adia pulverização e deixa lavoura desprotegida ante a ferrugem asiática. Já a crise política torna as commodities brasileiras mais baratas em dólar – e atraentes ao mercado global.| Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo

A crise política, agravada pela possibilidade de impeachment, abre expectativa de aumento nas cotações dos grãos e renova o ânimo do agronegócio em relação à renda bruta da maior safra de soja da história. O quadro contrasta com as chuvas em excesso registradas no Sul e a falta de umidade no Centro-Oeste e no Centro-Norte, apurou a Expedição Safra Gazeta do Povo, que segue viagem pelo Sul do país levantando dados sobre produção, logística e mercado.

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“O câmbio tem sido positivo para a agricultura brasileira. Eleva os preços em real e faz com que nossas commodities agrícolas fiquem mais competitivas na exportação. Com um dólar, o importador compra mais soja do Brasil do que da Argentina ou dos Estados Unidos”, detalha Christian Souza, agrônomo e trader do Grupo I.Riede, que atua no Oeste do Paraná.

As vendas futuras foram maiores que as do ano passado. Regiões como a de Cascavel, que tinham comprometido em torno de 25% do volume da colheita um ano atrás, estão com cerca de 35% da soja com preço determinado em contratos para entrega programada principalmente para março.

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Leia mais sobre a atual viagem da Expedição Safra também na edição da próxima terça feira da Gazeta do Povo.

Quando chega neste patamar, a comercialização normalmente fica estacionada até a colheita. Mas se a cotação da soja ultrapassar a barreira “psicológica” de R$ 70 por saca novamente, as vendas podem ter novo arranque nas próximas semanas, conforme Souza.

Quem já plantou e está com a soja no campo tem que deixar o chapéu pendurado em dia de chuva. As tarefas do controle de doenças estão sendo apenas adiadas.
Manchas nas folhas da soja deixam produtores em alerta devido ao risco de proliferação da ferrugem, que pode causar perdas de até um terço na produtividade. Porém, com tanta chuva, não é possível fazer aplicações preventivas em todas as lavouras.
Tempestade se arma na região de Juranda, entre Campo Mourão e Cascavel. Todo fim de tarde tem sido assim na região. Em novembro, lavouras receberam até 400 milímetros de precipitações, o dobro do esperado.
Dezenas de técnicos e especialistas ajudam a Expedição a retratar a safra de verão. Na foto, Willian Canela, da Spraytec, e Lucas Esperandino, supervisor da Assistência Técnica da Coamo, durante reunião que mostrou que o plantio de 2,5 milhões de hectares de soja na região de atuação da cooperativa está sendo concluído nesta semana.
O produtor João Mignoso, de Campo Mourão, afirma que a chuva já reduziu em 10% a 15% a produtividade de suas lavouras.
A ferrugem já entrou até em campos experimentais da Embrapa Soja, em Londrina, conta o pesquisador Rafael Moreira Soares.
O pesquisador da Embrapa Soja, Rafael Moreira Soares, relata que, de 115 produtos, apenas cinco têm eficiência acima de 50% contra a ferrugem asiática. Os fungicidas precisam ser aplicados na hora certa para surtirem efeito, lembra.
Os campos experimentais da Embrapa Soja, em Londrina, são usados para pesquisas que vão do controle de doenças à seleção de sementes mais produtivas e resistentes a pragas .
Expedição Safra segue viagem pelo Sul do país em época de grande preocupação com as chuvas em excesso relacionadas ao El Niño.

A preocupação com as chuvas está relacionada ao atraso nas tarefas de aplicação de fungicidas, inseticidas e herbicidas. “Estamos dez dias atrasados”, disse o produtor Dirceu Kehrwald, de Cascavel. Ele ainda não conseguiu concluir a aplicação de fungicidas nos 65 hectares mais adiantados da fazenda onde mora. Outros 130 estão totalmente desprotegidos ante a ferrugem asiática.

As lavouras estão mais baixas, mas preservam potencial produtivo na região que abriu o plantio de soja do país neste ano. A colheita deve começar em um mês no Oeste e a expectativa é de produtividade igual ou superior à de 2014/15.

Existem produtores do Paraná preocupados e que dão a quebra como certa. “Perdemos de 10% a 15% da soja por causa da chuva”, afirma João Mignoso, de Campo Mourão, no Centro-Oeste do Paraná.

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Ele considera que a soja cresceu menos, terá menos vagens e que muitas plantas estão com as raízes superficiais demais ou até podres por causa do excesso de água. Com raízes menos desenvolvidas, as plantas extraem menos da terra.