Contrariando as expectativas positivas na largada do plantio, a safra dos três estados do Sul caminha para uma retração em 2015/16. Se no início do ciclo as chuvas prometidas pelo fenômeno El Niño pareciam favoráveis às produtividades em campo, o cenário agora é de preocupação. Estimando perdas de até 20% ante o potencial inicial da soja, produtores gaúchos descartam superar o resultado desempenho no ano passado em virtude do excesso de água. Embora não seja uma quebra climática, o quadro se repete no Paraná e Santa Catarina, e tende a pressionar para baixo a estimativa de produção da região, conferiu a Expedição Safra Gazeta do Povo após completar um roteiro de 2,5 mil quilômetros pelos três estados.
O desequilíbrio entre sol e chuva explica a queda. Na região de Erechim, no Noroeste do Rio Grande do Sul, o agricultor Roberto Baseggio lembra que os meses de novembro e dezembro tiveram chuvas acima da média, o que reduziu a exposição das plantas de soja ao sol. “Mas em janeiro faltou água e sobrou calor. Foram 20 dias de veranico, prejudicando tanto as lavouras que estavam em floração quanto aquelas que estavam em enchimento de grão”, conta. Ele espera uma média entre 62 e 63 sacas por hectare, ante 72 sacas obtidas em 2014/15 nos 1,7 mil hectares dedicados a oleaginosa.
“Visualmente as lavouras aparentam ter o mesmo potencial do ano passado. Mas os efeitos do clima e a maior incidência da ferrugem devem reduzir as produtividades. Isso só será amenizado pois houve ampliação da área plantada”, contextualiza o gerente geral da BSBios em Passo Fundo (Noroeste do RS), Anderson Strada, que coordena a originação de 1 milhão de toneladas de soja por ano para a produção de biodiesel.
Mesmo em campos irrigados por pivô, nos quais a produtividade costuma ser maior, também há retração ante a última safra. Em Boa Vista do Incra (Noroeste do RS) o produtor de sementes Mauro César Stertz calcula uma queda de 5 sacas por hectare na produtividade em comparação com a temporada passada. Nos 2,8 mil hectares dedicados a oleaginosa o rendimento deve ser de 75 sacas por hectare nos campos irrigados e de 65 sacas/ha no sequeiro. “Para a produção de sementes plantamos as variedades que mais vendem, e não as mais produtivas. A queda preocupa, pois hoje um rendimento inferior a 42 sacas por hectare já nos causa prejuízo”, pontua.