Divididos por um clima traiçoeiro, produtores do Centro-Oeste do Brasil avançam com a colheita de uma safra que foi marcada por extremos. Enquanto Mato Grosso do Sul começa a contabilizar os estragos causados pelo excesso de umidade, Mato Grosso calcula o impacto da forte estiagem que castigou o estado no final de 2015. E, nos dois casos, o progresso das máquinas vem revelando um grande contraste nos rendimentos das lavouras, constatou a Expedição Safra Gazeta do Povo.
Durante um roteiro de 6,5 mil quilômetros cumprido nos dois estados na última semana, os técnicos e jornalistas do projeto puderam conferir no monitor das colheitadeiras médias na casa das 30 sacas de soja por hectare em áreas danificadas pela seca e, na ponta oposta, picos de mais de 70 sacas/ha em regiões que foram bem servidas de chuva. “As perdas foram severas, mas pontuais”, aponta o superintendente do Instituto Mato-grossense se Economia Agropecuária (Imea), Daniel Latorraca Ferreira. Ele explica que as primeiras semanas de plantio, entre setembro e outubro, foram prejudicadas pela falta de umidade e que o desenvolvimento de muitas dessas áreas também foi afetado por chuvas irregulares em novembro e dezembro.
De uma forma geral, pontua o dirigente, há dois polos de problemas em Mato Grosso: um no Médio-Norte e outro no Nordeste do estado. Perdas na primeira região tendem a pesar bastante nos números estaduais, já que perto de um terço da soja mato-grossense é cultivada nesta área. Menos representativa, a segunda região é considerada uma área de fronteira, onde a oleaginosa começou a entrar em áreas de pastagem degradas há apenas poucos anos. “Mas mesmo dentro destas duas macrorregiões as perdas não foram generalizadas”, pondera Ferreira, acrescentando que um clima mais ameno tem resultado em boas produtividades no Sudeste, Centro-Sul e Oeste do estado, balanceando parte das perdas.
Com cerca de 15% da soja colhida, Lorenei Busa contabiliza média de 40 sacas por hectares nas fazendas que gerencia em Nova Mutum, no Médio-Norte do Estado. “Nossas melhores áreas foram afetadas pela seca. Teve talhão rendendo 15 sacas/ha, e outros com 62 sacas/ha”, conta. Com menos altos e baixos ao longo da temporada, Erni Hugo Hack se prepara para dar início aos trabalhos com expectativa de igualar a média do ano anterior, de mais de 60 sacas por hectare. Lavouras bem formadas em ponto de colheita e uma rodada de boas chuvas na última semana de janeiro nas áreas ainda verdes reforçam a perspectiva de boa colheita na propriedade que mantém em Campo Novo do Parecis, no Oeste mato-grossense.