Com quebra total em parte das lavouras e perdas de até 70% nas áreas mais afetadas de solos arenosos, produtores do polo agrícola que envolve os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia estão preocupados. Os destemperos do clima que fizeram as plantas ‘torrarem’ no campo já levaram do Matopiba ao menos um terço da produção que era esperada para a temporada 2015/16. E, agora, com a entrega das vendas antecipadas agendada para os próximos meses, agricultores temem não honrar os compromissos fixados antes da colheita. Muitos deles relatam dificuldades para pagar financiamentos e já procuram bancos e tradings para renegociar contratos, apurou a Expedição Safra em roteiro de 6 mil quilômetros pela região nas últimas duas semanas.
Quebra ameaça cumprimento de contratos no Matopiba
Com lavouras severamente afetas pela estiagem, Helder Cremonese se vê diante de um dilema. Tomando como base a produção que colheu na safra passada na região de Balsas (MA), ele comprometeu antecipadamente com empresas locais 40 sacas por hectare. Mas, com talhões rendendo apenas 20 sacas/ha na abertura da colheita e expectativa de fechar a tempora
Leia a matéria completaDesde o início do ano, produtores refazem contas diariamente. No início o clima era de esperança, depois que as chuvas de janeiro repuseram parte da umidade que faltou no último trimestre de 2015, mas fevereiro passou tão seco quanto um mês de inverno no Nordeste. Ainda em tempo para salvar lavouras mais tardias, cada previsão de chuva para março renova a esperança de recuperação. Mas cada dia seco limita ainda mais a colheita da nova fronteira agrícola brasileira, deixando muito claro que escapar de uma redução drástica nas médias de produtividade é um luxo para poucos em 2016. “No Cerrado do Matopiba, dez dias significa a diferença entre ganhar ou perder a lavoura”, crava Aristeu Pellenz, de Luís Eduardo Magalhães, no Oeste baiano.
“Estamos aqui há 23 anos e nunca vi nada igual”, desabafa Francisco Pugliesi, que cultiva 4,7 mil hectares na região de Balsas e Tasso Fragoso, no Maranhão. “Eu não estou aguentando neste ano. Só imagino o que o Piauí, que vem de quatro anos de quebra, está passado”, pondera. Com média de 56 sacas por hectare, ele colheu cerca de 30% acima da média da região no ano passado. Neste ano, investiu para atingir a marca das 60 sacas por hectare, mas, nas primeiras colheitas, atingiu apenas 36 sacas/ha, média que, com sorte, espera manter até o final do ciclo.
A marca das 40 sacas por hectare alcançada no ano anterior é agora a meta do produtor Wilson Marcolin para 2015/16 em Nova Santa Rosa, distrito de Uruçuí, no Piauí – uma região que foi menos prejudicada pelo clima que a vizinha Serra do Quilombo. Assim como nas chapadas piauenses, a situação das lavouras de soja é de grande disparidade em todo o Matopiba.
AMÉRICA DO SUL
Após percorrer as principais regiões produtoras de grãos no Brasil, a Expedição Safra avança para o Paraguai, Argentina e Uruguai. A agenda inclui visita a lavouras, portos e entidades para fazer um diagnóstico da produção dos três países no ano.
Áreas mais velhas, com perfil de solo mais estruturado, no Oeste da Bahia, mantém potencial para 50 sacas por hectare em lavouras mais tardias, que ainda dependem de chuvas para encher os grãos, enquanto a apenas 5 quilômetros dali, plantações precoces que foram pegas em cheio pela seca na fase final do período reprodutivo não pagam nem o custo de máquina para a colheita – situação que também foi verificada pela equipe da Expedição no Tocantins.
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