Por enquanto, o noticiário agrícola em 2017 está marcado por recordes. Maior produtor de grãos do mundo, os Estados Unidos atingiram uma marca histórica: mais de 500 milhões de toneladas. Segundo colocado, o Brasil, que está na etapa final da colheita de verão, também vai fazer bonito e deve colher 217 milhões de toneladas, uma cifra sem precedentes.
A exceção é a Argentina. O país, que ocupa a terceira colocação no ranking mundial de produção de grãos, repete o drama da safra anterior e vive um momento delicado no campo. Por causas das chuvas, 1 milhão de hectares de soja estão literalmente debaixo d’água. Segundo estimativas da Bolsa de Comércio de Rosário, as perdas podem chegar a 5 milhões de toneladas. Ao todo, 19,2 milhões de hectares no país vizinho foram dedicados ao plantio da oleaginosa.
Milho, trigo e cevada
A Bolsa de Cereais de Rosário estima uma produção 38 milhões de toneladas de milho neste ano, 8 milhões a mais que no ano passado. Por enquanto, 16% da produção foram colhidas. No entanto, a cultura esbarra no preço, que despencou desde os anúncios das safras recordes nos Estados Unidos e no Brasil. “O produtor argentino ficou desmotivado”, diz Corina.
Depois de uma safra espetacular de trigo, na qual o país colheu 14,9 milhões de toneladas de trigo, o cereal de inverno, que também teve queda nos preços neste ciclo por causa das boas safras no Brasil e no Paraguai, deve perder espaço para a cevada. “Plantar trigo virou jogar dinheiro fora na Argentina”, diz o produtor Schneider. No ano passado, foram cultivados 4,6 milhões de hectares de trigo. Para safra 2017/18, ainda não existe um número oficial consolidado, embora algumas estimativas preliminares apontem para um aumento de 10%.
Além das perdas, o atraso na colheita também preocupa. Segundo Marina Barletta, do setor de estimativas agrícolas da Bolsa de Rosário, apenas 21% da soja foi colhida, enquanto a média histórica para esse período é de 42%. “Nós tivemos uma situação ainda mais dramática no ano passado, quando só 15% tinham sido colhidos nesta época”.
Em algumas regiões menos críticas, nas quais os volumes de chuvas não estragaram totalmente as lavouras, a umidade impede o avanço das colheitadeiras. É o caso do Sul de Córdoba, Norte de Buenos Aires e diferentes trechos das províncias de Santa Fé e La Pampa. “Estou com a soja dessecada há 20 dias e não consigo colher”, conta o produtor Gustavo Sutter Schneider, que cultiva 1 mil hectares na província de Santa Fé. “Já perdi 8% da minha soja. E nos talhões em que não perdi, a minha produtividade não passa de 46 sacas por hectare”, reclama.
Apesar das chuvas, a Bolsa de Rosário mantém as expectativas para a soja: 56 milhões de toneladas. O volume, se alcançado, vai superar ligeiramente o ano passado, quando foram colhidos 55,3 mi de t. De acordo com Sofía Corina, do departamento econômico da Bolsa de Rosário, algumas regiões estão com médias de produtividade acima do espero. “Onde não choveu, como no Chaco e em Santiago del Estero, tem produtor com médias acima de 65 sacas por hectare”, diz. Por enquanto, o país está com uma média de 3.620 quilos por ha (60 sacas).
Preço desanima e governo não empolga tanto
O mercado de soja é dolarizado na Argentina e está alinhado com os preços em Chicago. Na semana passada, a Bolsa de Cereais de Rosário fez a venda simbólica do primeiro lote da safra atual, que foi comprado pela Associação de Agricultores da Argentina (AFA) por US$ 470 a tonelada, valor muito acima do que vem sendo negociado no país, em torno de US$ 215 por toneladas. “Os preços estão caindo desde janeiro. Com as perdas com a chuva, tem produtor que certamente vai ter prejuízo”, diz Gustavo Sutter Schneider.
Segundo Sofía Corina, a Argentina exporta quase 90% da produção nacional. E o momento cambial não é dos melhores. “O peso sofreu uma desvalorização muito grande em relação ao dólar. E isso tirou um pouco da nossa competitividade”.
Nem as principais medida do governo de Mauricio Macri, como a suspensão de cotas de exportação e o fim da cobrança das retenciones (impostos) para o milho e o trigo, além da redução de 35% para 30% do tributo sobre a soja, tem ajudado. “Sim, o ambiente é muito melhor que no passado. As exportações deram um salto, mas com essas cotações, fica muito difícil”, diz o produtor de Santa Fé. O governo argentino reduzir, gradualmente, 0,5 ponto percentual por mês a partir de janeiro de 2018 até dezembro de 2019 — quando a alíquota baixará para 18%.
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