“Super safra” ainda não está no vocabulário dos agricultores do Mato Grosso, líder na produção nacional de grãos. Cautelosos, os produtores preferem usar ‘safra cheia’ para descrever o cenário atual, principalmente após as chuvas das últimas duas semanas, que atrasam a colheita da soja. No entanto, é inegável: o estado largou muito bem. O fato é que, até o momento, a safra 2016/17 é a melhor da história em produtividade, segundo o Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (Imea).
Até a última sexta-feira (27), os produtores do estado haviam colhido 1,522 milhão de hectares, 16,25% da área estimada de 9,368 milhões de hectares de soja. Segundo a analista de soja do Imea, Tainá Heinzmann, a produtividade média registrada foi de 58,5 sacas por hectare, o maior rendimento semanal registrado desde o início do levantamento, no ciclo 2013/14. Ainda de acordo com a analista, o Mato Grosso deve fechar a safra de verão com uma produtividade média de 54 sacas por hectare e 30,5 milhões de toneladas totais, outros dois recordes, caso sejam concretizados.
Por enquanto, o principal desafio é o clima. Há duas semanas não para de chover nas principais regiões do estado. “O potencial era de que a colheita atingisse 25% nesta semana, mas o pessoal só conseguiu entrar no campo entre domingo e terça-feira”, conta Tainá. Outra preocupação é com o índice de umidade. “As chuvas podem afetar a produtividade. Em algumas regiões, foram entregues cargas com 35% de umidade, no limite para fazer a secagem”, relata.
5 MIL quilômetros
foram percorridos pela equipe de técnicos e jornalistas da Expedição Safra, nos últimos dias, pelos estados do MT e MS. Nas próximas semanas, o projeto continua nas lavouras do PR, SC, e RS. Serão mais 2,5 mil quilômetros de estrada apenas nesta etapa.
Segundo os produtores, sempre foi normal chover em janeiro no Mato Grosso. No entanto, o que surpreendeu os agricultores foi a quantidade e a periodicidade. “Aqui é normal chover 40 mm, 50 mm, mas não 110 mm”, afirma o produtor Claudir Valdameri, de Sorriso, que neste ciclo plantou 1.250 hectares de soja e já conseguiu colher metade da lavoura. Segundo ele, o teor de umidade nos primeiros grãos beirava os 40%. “Prefiro colher assim a correr o risco de perder lá na frente”, afirma.
Apesar das chuvas, que com o tempo podem deteriorar os grãos que estão nas plantas secas, o clima ainda é de otimismo. O coordenador técnico da região Sul do grupo Bom Jesus, Luís Henrique Vigolo, afirma que os resultados apresentados nos primeiros talhões são impressionantes. “Estamos batendo recordes, apesar das condições climáticas. Temos registros de 70, 75 sacas por hectare para áreas plantadas em setembro, o que não é comum. É uma produtividade espetacular”, diz o engenheiro agrônomo. O Grupo Bom Jesus tem 46 mil hectares de soja cultivados na região Sul do Mato Grosso.
Em Campo Novo do Parecis, Sergio Costa Beber Stefanelo revela que nunca obteve resultados tão positivos. Ele colheu 25% dos 5,6 mil hectares de soja cultivados e, por enquanto, a média de está em 64 sacas. “No ano passado, quando atingi 61 sacas por hectare, achei que não veria um resultado melhor tão cedo”, conta.
Safrinha
De acordo com a analista de soja do Imea, Tainá Heinzmann, o calendário antecipado da safra de soja, a mais precoce da história do estado, tem permitido aos produtores planejar melhor o plantio da safrinha e priorizar a produtividade da soja. “Não se observa aquela ânsia por colher logo para plantar o milho em seguida”, relatou a analista. “Os produtores estão bem tranquilos em relação a avançar a colheita enquanto estiver chovendo. Eles vão optar por ganhos de produtividade nesta safra”. Para o milho, que é plantado quase exclusivamente na segunda safra no Mato Grosso, o Imea estima a semadura de 4,42 milhões de hectares, 4,1% acima do ano passado.
MT: venda antecipada chega a 50%
No Mato Grosso, 50% da produção de soja foi vendida antecipadamente pelos agricultores. Segundo o Imea, o preço médio dos contratos é de R$ 67 por saca. Isso significa que os produtores vão precisar de 52 sacas por hectare para cobrir os custos estimados pela instituição para a safra atual, que é R$ 3,5 mil por hectare. No preço atual, que gira em torno de R$ 60, serão necessárias 58,5 sc/ha para pagar o mesmo valor. “A situação fica mais complicada para quem não fez contrato. A safra é boa, mas não é perfeita”, alerta Tainá Heinzmann. “Tem produtores que utilizam hedge e têm 100% da soja vendida com o preço acima dos R$ 70. Outros, que só fecham no disponível, vão precisar de uma produtividade muito boa”, diz.
Em diferentes regiões do Mato Grosso, os produtores contaram que não venderam antes porque esperavam que a cotação da saca fosse disparar, principalmente depois que o preço da saca bateu na casa dos R$ 80, no terceiro trimestre do ano passado. No entanto, não há tanto arrependimento. Para maioria dos produtores ouvidos pela Expedição Safra, os preços em torno de R$ 65 e R$ 60 estão excelentes.
Na opinião do analista de mercado da INTL FCStone, Vitor Andrioli, depois da safra passada, que foi de grandes perdas, os produtores deveriam ter apostado menos e reduzido sua exposição. “O clima excepcional no Mato Grosso sinalizou ao mercado a perspectiva de safra cheia no estado, pressionando os preços locais. Por outro lado, considerando os níveis de produtividade notáveis esperados para esta safra e o patamar recente de preços, as condições ainda se mostram favoráveis aos sojicultores do estado”, afirma.