A recuperação de pastagens com a integração lavoura-pecuária é a grande carta na manga da agropecuária no Mato Grosso do Sul (MS). A Expedição Safra, projeto do Agronegócio Gazeta do Povo, estima que essa técnica, nos próximos cinco anos, vai aumentar a produtividade de grãos em quase 50% no estado. Mas, se na faixa sul já é comum encontrar pecuaristas e “lavoureiros” trabalhando em parceria, no Centro-Norte o processo ainda engatinha. E é justamente nessa região do MS que está uma área de 500 mil hectares passível de recuperação (40% com potencial para a produção de grãos). Para se ter ideia do tamanho desse perímetro, o território inteiro do estado tem 1 milhão de hectares de pastagens a serem revitalizados nos próximos cinco anos.
1 milhão de hectares
Esta é a área total de pastagens que o Mato Grosso do Sul deve recuperar nos próximos cinco anos, sendo 250 mil no Sudoeste, 250 mil no Leste e 500 mil no Centro-Norte.
Em Camapuã, a educadora aposentada e pecuarista Soila Rodrigues Ferreira Domingues (foto ao lado) foi uma das pessoas que apostaram na integração. Ela vai destinar neste ciclo uma área de 3,5 hectares para plantar milho (silagem) e capim em consórcio. Quando cortar o milho, o capim estará pronto para servir de alimento às 15 vacas leiteiras que pretende soltar em 10 piquetes. No restante da propriedade, que tem um total de 465 hectares, ela quer investir aos poucos no replantio do capim – onde mantém 500 cabeças de gado de corte. “Nós estamos apenas começando, você vai ver como isso vai estar transformado na próxima vez que vierem aqui para tomarmos um café. Mas venha para ficar o dia inteiro”, impõe.
O que motivou Soila, aos 85 anos, a investir no manejo e mudar o jeito de lidar com gado que vem sendo mantido há oito décadas foi um projeto que tem alterado a paisagem das fazendas da região. A iniciativa Agricultura de Baixo Carbono (ABC) Cerrado, conduzida pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), tem levado qualificação e aberto a cabeça de pecuaristas tradicionalmente extensivos. O objetivo do projeto é contribuir com a redução dos gases de efeito estufa no território nacional. São quatro vertentes para atingir essa meta: sistema de plantio direto, recuperação de pastagens degradadas, integração lavoura-pecuária-floresta e florestas plantadas.
Dener Joel Melotto, engenheiro agrônomo do Senar, acompanha produtores de São Gabriel do Oeste até Camapuã. Segundo ele, as áreas de consórcio do entorno são principalmente para fabricação de silagem, já que as terras nem sempre comportam a agricultura visando a colheita de grãos. Em áreas mais fracas, são utilizadas as plantações de sorgo com brachiaria. Naquelas com estrutura melhor, planta-se o milho ou até mesmo o feijão-guandu (leguminosa propícia à fabricação de silagem). “A pecuária hoje sofre supressão da agricultura. Com a diminuição das áreas, é preciso otimizar de qualquer forma, porque aquela pecuária extensiva não paga mais as contas”, diz.
Milho e brachiaria em consórcio visando a produção de grãos
No Mato Grosso do Sul tem sido comum também utilizar o consórcio milho brachiaria visando a produção de grãos. Na região de São Gabriel do Oeste, o engenheiro agrônomo Dener Melotto relata que um dos produtores rurais que orienta costuma plantar soja na primeira safra e entrar com o milho e o capim na segunda, em sua fazenda de leite. “A situação dele é que tem o melhor capim na pior época do ano. Ou seja, quando o preço do leite sobe é a época que ele mais ganha dinheiro”, relata. Claro que é preciso considerar a aptidão de área. Em Camapuã já é mais difícil produzir grãos por causa das condições do solo”, enfatiza.
O consultor Angelo Ximenes, da Coperplan, sediada no MS, conta que no local é bastante comum a prática de plantar brachiaria na entrelinha do milho. “Isso impede que a erva daninha domine o ambiente na entressafra e mesmo que um agricultor faça isso e não tenha bois para colocar no pasto, ele pode alugar e ter um bom rendimento em um período em que a terra ficaria ociosa”, aconselha.
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