Em Itaberá, no Sudoeste de São Paulo, quando os produtores são questionados sobre a possibilidade de uma safra recorde, a resposta é uma só: “com certeza”.
E não é para menos: segundo a Secretaria de Agricultura da cidade, as produtividades médias para a oleaginosa estão em 85 sacas por hectare (sc/ha), muito acima do rendimento médio estimado pelo indicador da Expedição Safra Gazeta do Povo para os principais polos produtores do país. No Paraná, por exemplo, que tem a maior produtividade do Brasil, o índice é de aproximadamente 58 sc/ha. Já no estado de São Paulo, o rendimento médio é de 50 sc/ha.
“Nossa média histórica é de 65 a 70 sc/ha, mas nesse ano o clima foi muito favorável: não faltou chuva, nem veio chuva em excesso. Foi ideal para a cultura”, afirma o secretário Luiz Godinho. “Nossa altitude, a 750 metros, ainda favorece a planta. Tem produtor que está colhendo até 100 sc/ha. E isso em área expressiva, com mais de 100 hectares”, acrescenta.
Em Itaberá, foram cultivados 30 mil hectares com soja, 20% a mais que na safra anterior. E, com metade da área colhida, tudo indica que a produção vai alcançar 153 mil toneladas.
No grupo Lagoa Bonita, que tem sede no município e, além de sementes, possui lavouras comerciais, o otimismo também é grande. São 9,8 mil hectares dedicados à oleaginosa (somando as safras de verão e inverno). Lá, a colheita está em 25%, com uma produtividade que surpreendeu: 88 sc/ha. “E olha que tem um vizinho nosso com 1,2 mil hectares colhidos, com média de 94 sc/ha”, conta o gestor do grupo, Auleeber dos Santos. “Aqui em Itaberá, nós plantamos um pouco mais cedo que no restante do país. Por isso, a produtividade não vem tão boa, porque a chuva não está tão regular. Mas nesse ano, não”, complementa, citando que, no ciclo anterior, o rendimento havia sido de 66 sc/ha.
Roteiro
Além de São Paulo, a equipe de técnicos e jornalistas do Agronegócio da Gazeta do Povo está percorrendo 2,7 mil quilômetros por Minas Gerais e Goiás. Na próxima semana, a equipe vai mais rodar 7 mil quilômetros para conferir a situação das lavouras no Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).
O que ocorre em Itaberá reflete o agronegócio de São Paulo, que, embora não esteja entre os maiores produtores nacionais, é fundamental para equilibrar a safra brasileira. O estado deve colher neste ano 2,5 milhões de toneladas de soja, contra 2,46 milhões em 2016, conforme levantamento preliminar do AgroGP.
Na cooperativa Coopermota, que atua em 11 cidades e tem sede em Cândido Mota, Oeste paulista, as produtividades também são consideradas excelentes. “Alguns produtores estão colhendo acima de 70 sc/ha, mas a nossa média deve ficar em até 61 sacas. É 10% a 15% a mais que no ano passado”, afirma o agrônomo, Christian de Oliveira Campos. “No ano passado tivemos seca logo na largada, em outubro, e as temperaturas muito altas em janeiro, na fase de enchimento dos grãos, mataram a soja. Perdemos em quantidade e qualidade”, salienta.
Para o agrônomo, o manejo preciso, logo quando pragas como o percevejo começaram a atacar, ainda na fase vegetativa, também ajudou a garantir a qualidade da lavoura. Com 40% dos 140 mil hectares dos agricultores cooperados já colhidos, o olho agora é na safrinha, cujo plantio do milho está a todo vapor. “Em 2016 tivemos muitas perdas por causa das geadas seguidas, mas nesse ano a expectativa é muito boa”, completa.
Produção recorde vai compensar promessa da “soja a R$ 100”
Sorrindo, o produtor Oscar Knuppel, de Cândido Mota, responde que esperava “mais” desta safra. “Tem gente dizendo que colheu mais de 80 sacas de soja por hectare, queria isso também”, diz, mas nem de longe deixa de comemorar a produtividade de 74 sc/ha em 257 hectares plantados, com a colheita praticamente encerrada. Para ele, que em 2016 havia conseguido 66 sc/ha, o problema de hoje é o preço.
“O dólar tirou muito da gente. Tivemos a soja a R$ 80/sc, mas não fechamos nem 15% a esse preço, porque todo mundo falava que chegaria a R$ 100/sc. E a gente também não sabia que iria produzir tudo isso”, explica. “No ano passado, quando plantei milho, tinha um mercado de R$ 30/sc e vendi bastante, porque era muito bom naquele momento. E aí deu uma seca e quebrou todo mundo, o milho foi a R$ 50/sc”, completa o produtor.
Por outro lado, o agricultor Sebastião Lúcio Borges, de Campos Novos, também no Oeste de São Paulo, reforça que, ainda que o “cavalo tenha passado” e os R$ 80/sc já não voltem mais, o volume pode compensar o câmbio. Borges semeou 2 mil hectares com soja nesta safra e já planeja aumentar a área em 15% para a temporada seguinte.
“Tenho colhido de 70 a 80 sc/ha, o que não era normal na nossa região, e já temos 70% da área colhida”, frisa. “O produtor travou bem pouco naquela época dos preços melhores, mas esse de hoje ainda é razoável em vista da produtividade alta, então acredito que vai ser bastante rentável. Pelo menos os custos o pessoal veio travando num preço até bom.”
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