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No Matopiba, ocupação territorial é dominada pela pecuária na proporção de 70% contra 30% das lavouras, mas a balança vem pendendo cada vez mais para o lado dos grãos | Daniel Caron/Gazeta do Povo
No Matopiba, ocupação territorial é dominada pela pecuária na proporção de 70% contra 30% das lavouras, mas a balança vem pendendo cada vez mais para o lado dos grãos| Foto: Daniel Caron/Gazeta do Povo

Vem aí uma safra excepcional de grãos na região conhecida como Matopiba, a última fronteira agrícola do País que abrange partes dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

É para lavar a alma do desastre climático de dois anos atrás, no ciclo 2015/16, quando algumas áreas ressequidas pelo sol chegaram a colher míseras 9 sacas de soja por hectare, com uma média no sul do Tocantins em torno de 25 sacas, bem abaixo do custo de produção mínimo de 35 sacas por hectare.

“Até agora não ouvi falar de produtividade abaixo de 60 sacas. Antes tinha que rodar muito para achar quem tivesse alcançado 70 sacas, mas hoje quase todas as fazendas têm talhões com essa produtividade”, resume José Eugênio Barberato Júnior, engenheiro-agrônomo da cerealista Agrex no município de Gurupi, no sul do Tocantins. Na macrorregião de Gurupi são cultivados 223 mil hectares de soja, um quinto de toda a área do estado dedicada à leguminosa. O milho de verão praticamente não existe.

“É a melhor safra dos últimos 10 anos, ou, talvez, a melhor da história desta região”, confirma o produtor Douglas José Daroch, gaúcho de 33 anos que cultiva 570 hectares de soja e está na 5ª safra de “voo solo” na região do Matopiba. Antes, ele ajudava na propriedade dos pais.

Agricultura pede passagem

A região é dominada por fazendas de pecuária extensiva, de baixa produtividade, que, pouco a pouco, vão cedendo à pressão da agricultura, mais rentável. “Que pecuarista não vai querer arrendar a terra recebendo de 6 a 7 sacas de soja por hectare, uma renda muito melhor do que do boi, e ainda recuperando as pastagens e valorizando o imóvel?”, pergunta Barberato Júnior.

A ocupação territorial é dominada pela pecuária na proporção de 70% contra 30% das lavouras, mas a balança vem pendendo cada vez mais para o lado dos grãos, que crescem em área num ritmo de 15% a 20% ao ano.

Show de imagens: confira fotos da Expedição Safra no Tocantins

O produtor Bruno Rickli Freire, paranaense de Guarapuava, de 31 anos, cultiva 800 hectares de soja no município de Cariri do Tocantins, vizinho a Gurupi. Toda a área é arrendada de pecuaristas.

“É a minha quarta safra aqui. Estamos ainda aprendendo a plantar no Tocantins, nos adaptando à região”, resume. Após colher cerca de 50% da área total, ele estima que a produtividade média deverá ficar em 67 sacas de soja por hectare. Mas o desempenho pode melhorar ainda mais, porque Freire ainda não colheu 105 hectares irrigados num sistema de pivô central.

Uma das particularidades do sul do Tocantins destacadas por Freire é a grande variedade de solos – argilosos, arenosos, cascalhados – muitas vezes num mesmo talhão. “Isso nos obriga a encontrar um ponto de equilíbrio na regulagem do sulco aberto pela plantadeira, que não seja muito fundo em solo arenoso, nem muito raso no solo argiloso ou cascalhado”.

Proteção ao solo

“Se lá no Paraná é bom fazer o plantio direto, aqui é interessantíssimo, para reduzir a evaporação, proteger a matéria orgânica e controlar a temperatura do solo. O sol chega a matar uma planta de soja por escaldadura, por isso a gente sempre procura plantar um pouco de milho, sorgo ou braquiária na segunda safra, para fazer palhada e melhorar o perfil do solo”, sublinha Freire.

A preocupação com a qualidade da terra é uma constante entre os produtores, que não abrem mão da correção da acidez e de investir na palhada. “Aqui é muito quente mesmo. Precisa ter alguma coisa para proteger, senão tudo quanto é micro-organismo morre”, aponta Douglas Daroch.

De maio em diante, são praticamente seis meses sem chuva. Os produtores costumam plantar uma segunda safra - sorgo, milho ou milheto - mais como uma cobertura de proteção ao solo, mas faturam também vendendo os grãos para os pecuaristas alimentarem o gado.

Área de irrigação no Tocantins Daniel Caron/Gazeta do Povo

No Tocantins, os agricultores migrados do Sul aprendem logo que o clima tropical faz as coisas acontecerem mais rapidamente.

“No Paraná, tudo é mais devagar por causa do frio. Aqui tudo acontece rápido. Na área irrigada, já estou fazendo três safras por ano: soja entre novembro e março, milho entre março e julho e feijão de julho em diante”, revela Freire. Para a próxima safra, o grupo familiar de Bruno Freire – a Rocha e Freire Agro – vai simplesmente dobrar a área plantada, de 800 para 1600 hectares. “Surgiu a oportunidade de arrendar uma área já aberta em Brejinho de Nazaré, a 120 km de distância. Vamos para lá”.

Como muitos produtores têm de pagar arrendamento das terras, o custo de produção na região se eleva para uma faixa entre 40 e 47 sacas por hectare. A maioria aproveitou o pico de R$ 65 a saca para travar o preço e garantir o pagamento das despesas. “A cotação não é a ideal, porque os insumos aumentaram muito desde a última safra. Mas é o ano que vai pagar o buraco de 2015/16. Não vai sobrar, não vai ter folga, mas é um ano bom. Vamos conseguir pagar as contas”, afirma Daroch.

A área total plantada com soja no Tocantins, nesta safra, é de 992 mil hectares, com uma produção prevista pela Conab de 2,967 milhões de toneladas – cerca de 5% a mais do que no último ciclo.

Nesta quinta-feira, a Expedição Safra do Núcleo do Agronegócio da Gazeta do Povo sobe o mapa do Matopiba em direção a Guaraí, no norte do Tocantins, e depois para Balsas, no Maranhão. Desde que saiu de Curitiba, há três dias, a expedição já rodou 2 mil quilômetros.

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