No início da safra, entre setembro e outubro, houve pelo menos 15 dias de apreensão. Sem chuva, muito produtor acabou ‘plantando no pó’ e torcendo para que o tempo colaborasse. Deu certo. “Dá até medo de falar, porque tudo está correndo muito bem. Dos 14 anos que estou aqui, o desenvolvimento da soja é o mais bonito que eu já vi”, diz Anderson Luis Guido, coordenador do departamento agronômico da Copasul, de Naviraí, ao Sul de Mato Grosso do Sul, quase na divisa com o Paraná.
Em todo o estado, a região foi a que mais sofreu com o período de estiagem que antecedeu a semeadura do ciclo 2017/18. Lá, são 115 mil hectares dedicados à soja, 5 mil a mais que na campanha anterior, um avanço que se deu, principalmente, sobre áreas de pastagens e de cana-de-açúcar, cujos mercados estão menos atrativos que o do grão. Do total semeado, 80 mil hectares são de cooperados da Copasul, que tem acompanhado a área semanalmente.
“O que deu para ver é que o produtor está bem equipado, com bom número de linhas de plantadeiras”, continua Guido. “Ele não pôde plantar na segunda metade de setembro, mas conseguiu acelerar depois. A finalização foi dentro do previsto, porque, depois, não teve semana sem chuva. Conseguimos evitar entrar com o plantio em novembro.”
Com o calendário em ordem, a expectativa do coordenador é de que as produtividades fiquem em 55 sacas por hectare, apenas uma saca a menos que na temporada 2016/17, que teve desempenho recorde em praticamente todo o país. “Esse é um número mais seguro, mas, se continuar chovendo bem, pode ser ainda maior, pode chegar a 58 sacas/ha”, confia.
No restante de Mato Grosso do Sul, que é o quinto maior produtor de grãos do Brasil, o plantio da soja seguiu até um pouco mais tarde, dia 8 de dezembro, mas foi concluído dentro do cronograma ideal para o estado, o que também sustenta boas previsões quanto ao rendimento das lavouras. “Temos uma estimativa de produtividade que não é baixa: 54 sc/ha. Ela é um pouco menor que a da safra passada, que foi 56 sc/ha, mas está acima da média histórica”, explica o analista de grãos do sistema Famasul, Leonardo Carlotto.
Com aproximadamente 2,6 milhões de hectares cultivados, que na média representam um aumento de 1,8% (mais tímido que na região de Navaraí, por exemplo), a Famasul não acredita em nova produção recorde, mas por pouco: são estimados 8,4 milhões de toneladas, contra os 8,53 milhões do ciclo passado.
Preocupações
O susto inicial da estiagem pode até ter passado, mas os olhos dos produtores sul-mato-grossenses não saem do clima. Sem problemas significativos com pragas por enquanto, o que pode atrapalhar a produção é o calendário apertado para a colheita. Como muito agricultor plantou quase que ao mesmo tempo, os trabalhos de campo devem ficar concentrados entre o final de fevereiro e o começo de março.
“Alguns conseguiram plantar em setembro, quando abriu o plantio, principalmente os que tinham irrigação, mas houve esse intervalo de seca. O período de colheita vai ser normal, porém mais concentrado”, salienta Carlotto. O La Niña de baixa intensidade que está configurado tende a contribuir para o desenvolvimento das plantas e a colheita no estado, com chuvas bem distribuídas, entretanto qualquer interferência nesse intervalo de tempo pode ter impactos significativos. Agora, essa é a nova aposta em Mato Grosso do Sul.
Comercialização
Depois de vender soja por até R$ 80 a saca no ano passado, o produtor sul-mato-grossense anda desconfiado do mercado, com preços na casa R$ 60 para o grão de pronta entrega. Para a comercialização antecipada do ciclo 2017/18, as cotações têm girado em torno de R$ 55 por 60 kg, quase R$ 15 a menos do que no mesmo período de 2016.
“Estamos com 22% de soja comercializada na safra atual. Na passada, eram pelo menos 30%”, diz o analista de grãos da Famasul, Leonardo Carlotto. Isto mesmo considerando que a temporada 2016/17 já tinha sido de vendas desaquecidas. “No anterior, as vendas estavam em até 45%. Mas estamos retomando, já encontrando preços de R$ 65 para soja disponível. O produtor não vendeu mais por não ter necessidade de captar recurso no momento e pelo preço que tinha no passado”, completa Carlotto.
Safrinha
Além do prazo apertado para a colheita da soja, o setor produtivo de Mato Grosso do Sul também está de olho no calendário de plantio do milho safrinha, que ficou pressionado pelo atraso da safra de verão. “Até março, já deveríamos ter pelo menos 70% da área plantada com safrinha, mas não vai acontecer”, afirma Leonardo Carlotto, da Famasul. “O nosso normal é ficar entre 80% e 90% dentro do zoneamento climático.”
Para o ciclo 2017/18, contudo, até 35% dos produtores devem perder a janela ideal, entrando em fase de risco. “É grande o risco de esse produtor não plantar. Vamos ter uma manutenção de área, de repente até uma pequena redução. Às vezes não plantando, ele não corre risco e economiza o recurso”, complementa o analista.
O estado deve cultivar 1,8 milhão de hectares com o cereal na safrinha, com produtividade média de 85 sacas por hectare (três sacas a menos que na campanha anterior). Com isso, a produção ficaria em 9,2 milhões de toneladas, um recuo de 6%.
A queda seria o resultado da combinação entre o risco climático e os investimentos mais moderados, por conta do mercado pouco favorável. Na região de Naviraí, que deve manter os 80 mil hectares com milho segunda safra, a produtividade esperada é de 82 sacas por hectare. “Esse ano não chegou a ter redução de área, e sim redução de tecnologia. No ano passado, a colheita foi boa, mas, mesmo assim, teve produtor que não conseguiu rentabilidade, foi obrigado a tirar dinheiro do bolso para pagar conta”, completa o coordenador agronômico da Copasul, Anderson Luis Guido.