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Expedição Safra

Paraguai investe em portos e estradas para transportar safra brasileira

Com uma rede de 35 terminais de grãos – 24 no Rio Paraguai e 11 no Rio Paraná –, e mais 12 em construção, o país exporta 96% do que produz pelos rios. | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Com uma rede de 35 terminais de grãos – 24 no Rio Paraguai e 11 no Rio Paraná –, e mais 12 em construção, o país exporta 96% do que produz pelos rios. (Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo)

Com crescimento médio de quase 6% ao ano desde 2010, o Paraguai é uma estrela em ascensão. Só neste ano, o país espera crescer 3,4%, muito acima do projetado para os vizinhos do Mercosul. E o campo tem um papel fundamental neste cenário. De acordo com dados da Câmara Paraguaia de Exportadores e Comercializadores de Cereais e Oleaginosas (Capeco), o setor responde por um terço das riquezas geradas no país e pode ultrapassar a marca das 15 milhões de toneladas de soja nos próximos dez anos. No ciclo passado, o país produziu 10,5 mi de t.

No entanto, assim como acontece com a maioria dos mercados emergentes, o Paraguai também tem desafios. Atualmente, principalmente para o setor agropecuário, a logística é o maior deles. O país tem uma rede precária de estradas e uma legislação que impede o uso de bitrens, caminhões que podem carregar quase 40 toneladas de soja. Segundo o governo, o tráfego de bitrem é proibido em todo território devido ao impacto que esses veículos poderiam causar na malha viária. 

Em janeiro deste ano, uma experiência com este tipo de transporte provocou uma greve de caminhoneiros paraguaios, que prejudicou o escoamento de grãos e de produtos dentro do país. Os caminhoneiros paraguaios temem perder empregos com a medida. Porém, produtores defendem a redução de custos e o aumento de competitividade.

A malha viária do país, alguns trechos em péssimo estado de conservação, principalmente na região do Chaco, que ocupa 60% do território, aos poucos, vem recebendo investimento. A rodovia Dr. José Gaspar R. de Francia, conhecida como Ruta 7, que liga Assunção com a segunda maior cidade do país, Ciudad del Este, está com 44% das obras de duplicação concluídas (140 km). A distância entre as duas cidades é 319 km. Ao todo, estão sendo investidos US$ 130 milhões na empreitada, que deve ser concluída até o fim de 2019. Mas o ritmo está aquém do esperado pelo setor produtivo.

Excelência na água, mesmo sem mar

Se as rodovias ainda precisam de investimento, as hidrovias do Paraguai fazem inveja a muitos países com potencial semelhante, como o Brasil. Com uma rede de 35 terminais de grãos – 24 no Rio Paraguai e 11 no Rio Paraná –, e mais 12 em construção, o país exporta 96% do que produz pelos rios, são 9,1 milhões de toneladas. O transporte é feito em 3 mil barcaças, a terceira maior frota do mundo, que tem capacidade de transportar/armazenar até 24 mil toneladas, cada.

A Expedição Safra esteve no terminal da South American River Company (Sarcom), em Concepción, cidade que tem três portos. O terminal, o maior da região, recebeu um aporte de US$ 50 milhões nos últimos dois anos para novos investimentos em infraestrutura. “Atualmente, transportamos 300 mil toneladas de soja, 150 mil de milho e 20 mil de açúcar por ano. No caso do último, boa parte vem do Brasil, principalmente do Mato Grosso do Sul, que não tem espaço no Porto de Santos”, diz Mauricio Dardanelli, gerente do terminal.

De acordo com Dardanelli, o objetivo é ampliar a capacidade de embarque do porto e trabalhar com o mercado internacional, principalmente com o Brasil. “O porto aumentou 30% os embarques de grãos nos últimos dois anos e tem capacidade para aumentar ainda mais, principalmente com a participação estrangeira”, conta.

O Paraguai assumiu recentemente a presidência temporária do Comitê Intergovernamental da Hidrovia Paraguai-Paraná (CIH), um órgão formado pelos cinco países (Brasil, Bolívia, Argentina, Uruguai e Paraguai) pelos quais transcorrem os rios Paraguai e Paraná. Isso mostra a importância do país no cenário latino.

A hidrovia Paraguai-Paraná estende-se de Puerto Cáceres, no Brasil; até Nueva Palmira, no Uruguai. Ao todo, são 3.442 km de área navegável. “Quase 99% dos embarques no Paraguai têm como destino Nueva Palmira. A viagem entre Concepción até lá dura três dias”, explica Dardanelli.

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Nigel López Gorman, gerente comercial da Sarcom, diz que o objetivo, no futuro, é transportar grãos, como soja e milho, do Brasil. “Estamos trabalhando com clientes para fazer um teste. A operação em si, seria mais eficiente com os bitrenes, mas infelizmente a entrada das unidades brasileiras no Paraguai foi adiada. Isso seria um bônus muito importante”, revela.

Segundo dados da Administração Nacional de Navegação e Portos do Paraguai, a capacidade de embarque dos portos do país dobrou nos últimos cinco anos. No início do ano, o governo inaugurou um novo terminal, também em Concepción, com capacidade de receber até 500 toneladas de grão por hora por caminhão descarregado, enquanto a capacidade de carga naval chega a 1.400 toneladas por hora.

Gerente de grãos da Agrotec, empresa que detém 14,7% do mercado de fertilizantes e 12,5% de defensivos do Paraguai, Sérgio Bergmann conta que a movimentação de grãos da companhia triplicou na última década. “Ano passado movimentamos 300 mil toneladas de soja”, diz. Maior usuário do terminal da Sarcom, em Concepicón, Begmann revela que a agricultura e a infraestrutura do país mudou muito ao longo dos últimos anos. “Estradas, portos, tudo mudou. Os produtores no Paraguai estão muito mais tecnificados. Antigamente ainda se trabalhava com o Guarani (a moeda oficial do país), hoje é tudo dolarizado, os preços acompanham Chicago minuto a minuto”.

A Agrotec foi fundada em 1990 pela família Zanchet. Atualmente, ela é uma das cinco empresas que compõe o grupo Agrihold. No Brasil, a empresa que faz parte da holding é a Alta.

Por parte do mercado, produtor, comprador, transportador e exportador, a preocupação vai além da capacidade dos rios e da renovação e modernização das estradas. Para Giovani Ferreira, coordenador da Expedição Safra, o Paraguai também precisa se investir nos ramais de acesso, na maioria deles urbanos, aos portos/terminais, sob risco de ampliar o gargalo que já existe nas retroáreas. “A eficiência de um terminal não está apenas na capacidade do rio ou do mar, como também na eficiência dos caminhos que levam até o rio ou até o mar”.

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