O Paraná é o maior produtor brasileiro de aves e o segundo de suínos. E o que isso tem a ver com a safra de grãos? Tudo. Com uma produção gigantesca de proteína animal, o estado é o segundo maior consumidor de milho do país, perdendo apenas para Santa Catarina. Mas, diferentemente do vizinho de baixo, o Paraná é um grande produtor do cereal. Na safra 2016/17, por exemplo, 13,2 milhões de toneladas foram produzidas, quantidade que posiciona o estado como segundo maior produtor, atrás apenas do Mato Grosso.
Neste ano a preocupação é com a área destinada ao plantio do cereal na safra de inverno, a famosa ‘safrinha’. Além dos preços, que caíram com a supersafra passada, o atraso na colheita da soja joga contra o milho. De acordo com dados do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná, a área destinada ao milho no Estado deverá recuar 11% no inverno, para 2,15 milhões hectares. Mas pode piorar.
A colheita de soja, principal cultura do Paraná, ganhou ritmo na última semana. A Expedição Safra acompanhou os trabalhos de campo na região Oeste e Noroeste desde o último sábado (3). Com o veranico, os produtores colheram os primeiros talhões com resultados satisfatórios, médias acima de 65 sacas por hectare. Isso foi presenciado em Toledo, Palotina, Cascavel, Medianeira, Guaíra e Céu Azul. O plantio da safrinha também ganhava fôlego nessas áreas.
Mesmo assim, a colheita da oleaginosa continua atrasada. Segundo a diretora do Sindicato Rural de Maringá, Ivoneti Catharina Rigon Bastiani, nenhum grão de soja foi tirado do campo na cidade ainda, o que significa que ninguém plantou a safrinha. “A colheita deve começar apenas depois de Carnaval, e ganhar ritmo apenas no fim de fevereiro. No ano passado, ela terminou no fim de fevereiro”, conta.
Em Guarapuava, no terceiro planalto do Paraná, região que mais planta milho verão no estado, a situação também não é muito favorável. “A nossa área de milho verão caiu bastante. Antigamente, um terço das lavouras de verão era coberto com milho, hoje, isso não chega a 20%”, diz o presidente do Sindicato Rural da cidade, Rodolpho Luiz Werneck Botelho. “E a cultura é muito importante na rotação, palhada, enraizamento, manejo de pragas e doenças”, complementa. A região não faz safrinha de milho, destacando-se em culturas de inverno como trigo, aveia e cevada. “O atraso na soja não prejudica tanto essas culturas, mesmo assim os produtores estão diminuindo as culturas de inverno para dar preferência para soja”.
No Norte, em Londrina, nenhuma área de soja foi colhida. No ciclo passado, neste mesmo período, 10% já haviam sido tirados da terra. “Nós tivemos um período de estiagem e depois um período muito forte de chuvas, em algumas áreas houve até a necessidade de replantio. A falta de luminosidade atrasou o desenvolvimento da soja, mesmo naquelas cultivares de ciclo curto”, explica o coordenador técnico da cooperativa Integrada, Aleandro de Carvalho. “Com isso, o milho safrinha virou um risco ainda maior. Tem muitos produtores que vão deixar de plantar, vão fazer apenas cobertura, com medo de perder lá na frente”, conta.
Cooperados da Integrada, o casal Maria Helena Santos Godoy Tenório e Guilon Rivair Tenório planta 650 hectares de soja em Londrina, entre RR, Intacta e convencional, em diferentes estágios de plantio. Segundo eles, a semeadura da soja foi bem complicada, mas as plantas passaram a se desenvolver bem e as perspectivas são boas. “Não vai ser como no ano passado, mas pode surpreender”, diz Maria Helena. Eles vão plantar safrinha em toda área, mas não fazem ideia de como as lavouras vão se comportar.
Na área de atuação da Coamo, em Campo Mourão, a avaliação é a mesma. A soja pode surpreender neste ano, mesmo com o atraso na colheita. A dúvida está no desempenho do milho. “Vai depender do planejamento do produtor e do clima”, afirma José Aroldo Gallassini, presidente da cooperativa, a maior da América Latina.
Reação e prognóstico
Segundo estimativas do Centro de Estudos em Economia Aplicada (Cepea), proporcionalmente, a área de safrinha será a menor desde 1976/77. A situação, inclusive, motivou o Ministério da Agricultura a prorrogar em dois decêndios o plantio de milho em 170 cidades do estado, onde a janela de plantio já expirou ou está próxima de expirar, como é o caso de Cascavel.
Nesta quinta-feira (8), durante sua visita ao Show Rural, em Cascavel, o ministro Blairo Maggi disse que a situação não é preocupante. “O Brasil tem o maior volume de milho estocado da história, 20 milhões de toneladas. A situação atual não vai alterar preço, nem causar falta de abastecimento”, disse.
Para garantir o plantio, a Coopavel, por exemplo, está pagando R$ 5 a mais por saca de milho futuro. Chamada de barter, a operação consiste em troca de insumos por cereal num valor mais alto do que o praticado pelo mercado. “Nós garantimos o preço, qualquer produtor que nos procurar vai receber. É um incentivo”, diz Dilvo Grolli, presidente da cooperativa, que também atua na área de aves e suínos. Cooperativas como Lar, de Medianeira, e C.Vale, de Palotina, também estão preocupadas com a questão e planejando estratégias.
Luiz Renato Lazinski, agrometeorologista do Inmet, salienta que o clima está sob influencia do fenômeno La Niña. “Nós tivemos um período longo de estiagem entre agosto e setembro, o que provocou o atraso no plantio da soja. Tivemos chuvas no fim de outubro, começo de novembro e uma pausa em dezembro. Em janeiro, São Pedro abriu as torneiras, em algumas áreas choveu mais que o dobro da média prevista, o que atrapalhou as atividades de campo, como pulverização”, conta.
Daqui para frente, diz Lazinski, vai chover menos que a média na região Sul, incluindo o Paraná. Isso é bom para o fim do desenvolvimento da soja e para colheita. O produtor vai ter sol para colher a oleaginosa. Por outro lado, o tempo mais seco pode atrasar ainda mais o plantio da safrinha. E não é só isso. O frio pode chegar de forma antecipada. “Nós já tivemos geadas neste ano no Planalto Sul de Santa Catarina, o prenúncio de que o frio vai chegar mais cedo. Não afirmo que teremos geadas, mas há possibilidade e condições para entradas de massas de ar mais forte já no fim de maio e começo de junho”, explica.
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