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Clima impede novo recorde de produtividade no Mato Grosso

 | Michel Willian/Gazeta do Povo
(Foto: Michel Willian/Gazeta do Povo)

O maior produtor de grãos do país não vai bater seu próprio recorde de produtividade de soja neste ano. A vilã da vez é a estiagem que atingiu as regiões produtoras do estado no final do ano passado e reduziu a produção nos primeiros talhões plantados, que começaram a ser colhidos neste mês. A boa notícia é que a redução da projeção da safra 2018/2019 não terá impacto significativo, já que com o aumento da área plantada e a ajuda de São Pedro a produção deve se manter acima da média histórica.

De acordo com Cleiton Gauer, gestor técnico do Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (IMEA), ainda não dá para mensurar o real impacto causado pela falta de chuvas e luminosidade na produção de grãos do estado. Nos primeiros talhões colhidos, a queda foi de 1,5% a 2%. “No entanto, a gente tem uma curva normal de baixa produtividade daquelas cultivares de ciclo mais curto que tiveram o período de enchimento de grão lá em dezembro e que sofrem um pouco mais. As áreas que têm um desenvolvimento posterior, a partir do final de dezembro e mesmo durante janeiro desse ano, e que vão ser colhidas agora em fevereiro, talvez não sofram um impacto tão grande”, afirma.

Mesmo com a estiagem, a média da produtividade dos primeiros talhões nesse ano está em torno de 56 sacas por hectare, muito próxima da normalidade, de 56,2 sacas por hectare na primeira semana de colheita, mas ligeiramente menor do que em anos anteriores. “Na expectativa do produtor, ele esperava colher mais. Claro que essa é a média do estado. Tem produtores que colhem 65 sacas/ha, outros ficam muito próximos da média. Depende muito da estrutura de produção, da tecnificação e do tipo de solo”, explica Gauer.

No geral, a perspectiva é de uma produção menor que a do ano passado, ficando na casa de 32,4 a 32,5 milhões de toneladas. Houve um aumento de 1,64% da área plantada em relação à safra anterior, o que amorteceu o impacto da seca. Atualmente são 9,6 milhões de hectares cultivados no Mato Grosso.

Ano passado, o estado produziu 57,3 sacas por hectare, em média. A previsão para a safra 2018/2019 é produzir 56,2 sacas/ha. Mas os números podem mudar, pois a colheita ainda está no início. Só 12% da soja foi colhida até agora. “A colheita está mais adiantada do que no ano passado, mas ainda restam quase 90% para serem colhidos, o que pode afetar a média do estado”, diz o gestor do IMEA.

No Brasil todo, a Conab prevê uma safra de soja, milho e algodão com crescimento de 1,7% na área de plantio e uma pequena redução de 0,4% na produção, atingindo 118,8 milhões de toneladas ante 119,28 milhões de t em 2017/18.

Variação

Emerson Zancanaro, da Fazenda Japuira, em Nova Mutum, conta que a produção inicial de soja neste ano está 10% abaixo da média na região. O produtor, que também é presidente do Sindicato Rural de Nova Mutum, diz que os talhões colhidos mais recentemente estão com uma produtividade normal. “Temos relatos de colheita de 65 sacas por hectare, mas também de 35 sacas/ha, porque os terrenos aqui são mistos. Nas áreas mais arenosas, o pessoal está tendo mais problema. As lavouras de ciclo tardio, que agora estão em pleno enchimento de grãos, podem ser afetadas por esse calor. Mas acho que a safra, no geral, não vai ter muito problema com a estiagem. Mas a hipótese de termos um novo recorde de produção, maior do que o do ano passado, é vaga”, afirma.

Apesar disso, segundo ele, qualquer quebra de safra, mesmo que muito pequena, impacta para os produtores porque o custo de produção é elevado. Além disso, mais da metade da soja ainda não está comercializada. “Temos um cenário em que a cotação do dólar está baixa no Brasil por causa do novo governo e também tem a guerra comercial entre EUA e China, que está impactando os preços dos prêmios dos produtores e impulsionando para cima o valor do bushel.” No caso do Mato Grosso, ainda há a ameaça de uma sobretaxação por parte do governo estadual do Fetab, imposto que incide sobre a cadeia produtiva de grãos, o que poderá, de acordo com Zancanaro, pressionar ainda mais o produtor, especialmente o pequeno.

Para o produtor Antonio César Brolio, que possui uma área de 2.850 ha de soja em Campo Novo do Parecis, região Centro-Oeste do Mato Grosso, as primeiras colheitas também foram ruins em comparação com o ano passado. Na safra 2017/2018, ele colheu 72 sacas/ha nas cultivares de ciclo curto. Neste ano, o rendimento caiu para 53 sacas/ha. “Foram mais de 20 dias sem luminosidade em novembro do ano passado e outros 12 dias de muito calor e sem chuvas em dezembro. Isso fez com que o grão não carregasse direito e as vagens não enchessem”, explica.

Em sua 13ª edição, a Expedição Safra da Gazeta do Povo percorre as principais áreas de produção nas Américas | Michel Willian/Gazeta do Povo

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Em sua 13ª edição, a Expedição Safra da Gazeta do Povo percorre as principais áreas de produção nas Américas

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Emerson Zancanaro confere condição da lavoura na Fazenda Japuira, em Nova Mutum | Michel Willian/Gazeta do Povo

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Emerson Zancanaro confere condição da lavoura na Fazenda Japuira, em Nova Mutum

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Em sua 13ª edição, a Expedição Safra da Gazeta do Povo percorre as principais áreas de produção nas Américas

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Emerson Zancanaro, de Nova Mutum (MT) | Michel Willian/Gazeta do Povo

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Emerson Zancanaro, de Nova Mutum (MT)

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Cleiton Gauer, gestor técnico do IMEA | Michel Willian/Gazeta do Povo

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Cleiton Gauer, gestor técnico do IMEA

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Em sua 13ª edição, a Expedição Safra da Gazeta do Povo percorre as principais áreas de produção nas Américas

Mesmo assim, a expectativa dele é ter uma boa colheita, já que a lavoura já começou a reagir, mas inevitavelmente a safra será inferior à do ano passado – 5% a 8% menor. ”Ainda está tendo um pouco de estresse hídrico, mas nada que comprometa a produção. O restante da safra está salvo”, observa Brolio, mostrando um talhão com plantas bem desenvolvidas e carregadas de vagens, prontas para colher.

Ainda em Campo Novo do Parecis, o produtor Sérgio Beber Stefanelo, que produz soja em 6 mil ha, acredita em uma safra com produtividade normal em 2019. “Se pegar a média dos últimos 5 anos, a safra desse ano vai ser até maior. E a safra desse ano é mais precoce, o que favorece também a segunda safra”, afirma, o que no caso dele são 2 mil ha de milho pipoca e outros 2 mil ha de girassol. A expectativa do produtor é colher este ano uma média de 63 sacas/ha, ante uma média de 54 s/ha da região nos últimos 5 anos.

Milho safrinha

O milho safrinha, principal cultura secundária no estado, está nesse momento em período de semeadura. Até agora, 6,6% da área destinada ao cereal já foi semeada. De acordo com o IMEA, o preço médio ponderado do milho safrinha está projetado em R$ 18,84 a saca para esta safra. Uma queda em relação ao ano passado, principalmente em função das perspectivas do aumento de área plantada, da retomada da semeadura e de uma janela excelente de plantio. “Se tudo caminhar bem, a gente pode ter uma safra maior do que a do ano anterior. Os preços vêm se sustentando basicamente pelo mercado interno, principalmente pela questão da produção de etanol no estado”, afirma Gauer. A saca de milho hoje está valendo R$ 16,75, aproximando-se do preço mínimo.

Em 2017/2018, foram produzidas 27,5 milhões de toneladas de milho safrinha no Mato Grosso. Este ano, a perspectiva é de colher 28,5 milhões de t, principalmente por causa do aumento da produtividade nos 4,6 milhões de ha de área plantada – praticamente a mesma da safra anterior.

>> Safra de soja do Paraná encolhe e é ultrapassada pela do Rio Grande do Sul

A questão agora é saber se o regime de chuvas ficará dentro da normalidade entre março e abril. “Se parar de chover mais cedo, impacta diretamente nas áreas que estão na fase de enchimento de grão, mas se tudo caminhar bem, isso pode resultar numa produtividade melhor. A janela de semeadura ideal para Mato Grosso é entre a segunda quinzena e o final de fevereiro. Se o milho for plantado antes, ele corre menos riscos em relação ao clima. Mas tem que ficar atento, porque a gente realmente não sabe quando vai parar de chover”, avisa Gauer. Este ano, o fenômeno El Niño pode influenciar no regime de chuvas, o que deixa o cenário ainda mais indefinido.

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