Na propriedade do produtor Paulo Roberto Fiorese, em Abelardo Luz, Oeste de Santa Catarina, a expectativa é colher este ano uma supersafra de milho. “Nunca colhi tanto. Esperamos atingir uma produtividade de 243 sc/ha”, comemora. Em alguns talhões ele chegou a tirar médias de 248 sc/ha. Segundo Fiorese, o clima foi favorável para o milho de primeira safra (cultivado em 71 hectares da fazenda). Além disso, a opção por cultivares hiperprecoces se mostrou uma decisão acertada. O manejo de solo voltado para altas produtividades também foi importante para atingir tais resultados, de acordo com Fiorese, que é engenheiro agrônomo.
Com forte demanda dentro do estado, por causa da suinocultura e avicultura, o milho tem se tornado um investimento mais vantajoso do que a soja para quem cultiva o cereal com altas produtividades, mesmo com um custo de produção maior do que a oleaginosa. “Mas é preciso investir, fazer fungicida com equipamento autopropelido para pulverizar, tem que ter plataforma para o milho”, enumera Fiorese. Além disso, é necessário adotar as melhores práticas de manejo, como plantio direto, rotação de cultura, uso de sementes de bom potencial e agricultura de precisão, conforme explica o produtor.
De acordo com a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), o cereal deve registrar um crescimento de 8% na área plantada, totalizando 345 mil hectares cultivados, incluindo os 16 mil ha de milho safrinha.O preço mais elevado neste ano é outra vantagem para quem produz milho. Em 2018, pagava-se R$ 24 a saca, segundo Fiorese. Já o preço de momento é R$ 34. A soja, por outro lado, que chegou a pagar R$ 80 a saca no ano passado, rende agora R$ 68,50. Bom para quem produz, ruim para quem precisa comprar.
Com demanda grande e preços mais valorizados do que na safra anterior, o milho acabou virando um bom negócio. Ainda assim, a soja não deixará de ser o carro-chefe da produção no estado, com uma estimativa de SC alcançar produtividade média de 60 sc/ha em 2019, segundo a Epagri.
No caso da soja, houve problemas relacionados ao clima, o que derrubou a produtividade em 10 sc/ha na fazenda de Fiorese. “Ocorreu uma série de eventos que afetaram a lavoura. Tivemos temperaturas abaixo de 10°C em dezembro e acima de 35°C no mesmo mês. A máxima histórica do mês nunca passou dos 32°C. Com isso, acredito que as plantas de soja tiveram problemas fisiológicos”, afirma o produtor. Até agora, dos 210 ha de soja que ele plantou foram colhidos 90 ha, registrando uma produtividade média de 60 sc/ha, ante 68 sc/ha do ano anterior.
A produtividade do milho em SC este ano deve chegar a 138 sacas por hectare – índice próximo ao do Paraná. Os dois estados estão no topo da lista da produtividade do grão. “SC produz cerca de 2,8 milhões de toneladas de milho e importa 4 milhões de t por causa da necessidade da suinocultura e avicultura, que são fortes no estado”, explica Haroldo Tavares Elias, analista de Pesquisa da Epagri/CEPA (Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola).
Custo do frete
De acordo com Elias, o custo do frete não está compensando para trazer milho de outros estados, como Mato Grosso, por exemplo, até Santa Catarina. Uma alternativa para os produtores e para a indústria tem sido olhar para o Paraguai e Argentina como possíveis fornecedores adicionais. “Em janeiro, a JBS importou um navio com 36 mil toneladas de milho da Argentina, através do porto de Imbituba (SC), para abastecer seus frigoríficos e fábricas de ração. Compensa mais do que trazer o milho do MT, que fica a 2 mil quilômetros”, diz
Apesar de a estiagem de dezembro ter afetado pouco a produção de soja em Santa Catarina, a redução de 2% da área plantada – hoje em torno de 666 mil hectares – deve manter a produção da oleaginosa no estado em níveis próximos aos da última safra. Por outro lado, o milho verão tem encontrado espaço para aumentar sua participação.