Lar, Coamo, C.Vale, Cocamar. Quem passa pelo Sul do Mato Grosso do Sul pode pensar que não saiu do estado do Paraná, tamanha a presença dessas cooperativas na região. Mas pelo menos em Naviraí mais de 70% dos produtores são cooperados da Copasul, cooperativa sul-mato-grossense que vem assistindo à “invasão” paranaense nos últimos anos.
Quando uma concorrente local, a Coagro, enfrentou problemas financeiros, as gigantes paranaenses Coamo e C.Vale foram rápidas. “Abriu um espaço no Mato Grosso do Sul e as cooperativas vieram. Mas a gente tem um grupo [fiel] de associados”, garante o presidente da Copasul, Gervásio Kamitani, que herdou o espírito cooperativista do pai, Sakae Kamitani, fundador da Copasul falecido há dois anos.
Com aproximadamente mil associados, a cooperativa aposta na fidelidade de seus produtores para manter a presença em nove municípios pelo estado. “Claro que [as outras cooperativas] não deixam de ser concorrentes, mas não podemos bater de frente, pois seria desleal”, completa Kamitani. A Coamo, por exemplo, tem 28 mil associados. A C.Vale, 20 mil. São a primeira e a segunda maiores cooperativas do Brasil. “Melhor ficar no nosso cantinho”, brinca o presidente da Copasul.
E não é difícil ver profissionais ‘tentando’ produtores. De passagem por Maracaju, a Expedição Safra parou em frente a uma propriedade, onde um agente comercial estava por coincidência chegando a uma reunião: “Vim tentar convencer o produtor a vir para a Coamo”.
Engenheiro agrônomo de Dourados, Bruno Tomasini atende 99 produtores e confirma: a região vem recebendo cada vez mais cooperativas. “Entraram muitas, 90% dos produtores acabam indo para cooperativas, mas muitas vezes sem fidelidade”. Vários acabam negociando com mais de uma. “É um pessoal mais independente que fecha com revendas”.
Cooperados fiéis
Uma das estratégias da Copasul para, pelo menos, manter o quadro associado é a liberdade fornecida. Eles podem comercializar a produção de soja, milho e algodão com quem quiserem e contam com a proximidade dos técnicos de uma cooperativa literalmente familiar, criada em 1978 por descendentes de japoneses.
Um deles é Edson Shingu, que está na região há 30 anos, vindo de São Paulo. Apesar de neste ano a safra não ter começado tão boa pelo excesso de chuvas (uma pequena parte dos 580 hectraes teve de ser replantada), ele obteve uma média de 63 sacas por hectare na última safra e aposta em um número similar neste ano. Boa parte devido ao plantio precoce:
“Não teremos o mesmo atropelo da safra passada na colheita”, explica o engenheiro agrônomo da Copasul, Anderson Luís Guido. Na safra 17-18, a estiagem obrigou o adiamento do plantio em vários pontos do Brasil.
Outro diferencial é a difusão do conhecimento científico. Edgar Tudida, que hoje vive em Londrina, conta que nos anos 2000 a Embrapa e a Copasul elaboraram uma pesquisa e sugeriram que sua área agrícola fosse transformada em lavoura-pecuária. Everaldo Jorge dos Reis, à época, era técnico agrícola da Copasul e auxiliou na mudança. Resultado: hoje é sócio e arrenda a área: Everaldo ganha com agricultura e Edson com a pecuária.
“Fazemos a rotação da soja com pasto”, diz Everaldo, que também é diretor secretário da Copasul. A produtividade chega a uma média de 80 sacas por hectare no primeiro plantio pós-pasto e, ao final da terceira safra consecutiva, volta a ser utilizada para o rebanho, que recebe uma média anual de 5 bois por hectare, enquanto a média nacional é de 1,5. Essa capacidade produtiva acontece por conta da matéria orgânica do solo, que favorece o solo.
São resultados bem superiores à média regional. Segundo o agrônomo Bruno Tomasini, a variação das últimas safras foi entre 55 e pouco mais de 60 sacas por hectare. Tudida concorda: “É um modelo autossustentável”.