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Rodrigo Rigon é gerente de uma fazenda que cultiva 12 mil hectares de soja e 4 mil de algodão ainda na safra de verão:  algodão tem mostrado alta rentabilidade e justifica a produção na primeira e segunda safra. | Fernando Zequinão/Gazeta do Povo
Rodrigo Rigon é gerente de uma fazenda que cultiva 12 mil hectares de soja e 4 mil de algodão ainda na safra de verão:  algodão tem mostrado alta rentabilidade e justifica a produção na primeira e segunda safra.| Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo

Como o plantio da soja pelo Brasil começou mais cedo - no fim de setembro devido ao clima favorável -, os produtores já pensam na segunda safra, que entra em campo junto com a colheita. No Mato Grosso e na Bahia, principais produtores de algodão do Brasil, o preço incentiva cada vez mais essa cultura.

Na última safra, o Brasil colheu 2 milhões de toneladas do algodão, segundo dados da Associação Brasileira de Produtores de Algodão - Abrapa. Desse total 1,2 milhão deve ser exportado, destaca a Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), o que pode consolidar o país na segunda posição entre os países exportadores, atrás apenas dos Estados Unidos.

Algodão: Safra 2018-19

Na safra 2018-19, o algodão deve ter colheita ainda maior, e pode chegar a 2,5 milhões de toneladas, com expansão de 22% em área plantada – chegando a um total de 1,44 milhão de hectares.

“O algodão trouxe boas oportunidades de venda, boas margens e oportunidades para fechar contratos antecipados”, indica Cleiton Gauer, analista de mercado do Imea - Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária. “O aumento se deve principalmente à melhora dos preços internacionais e às novas tecnologias empregadas”, completa Jefferson Aroni, diretor da Aprosmat – Associação dos Produtores de Sementes do Mato Grosso.

Produção de algodão na Safra 2018-19 deve avançar em áreas de grandes grupos do Mato Grosso, destaca Cleiton Gauer, analista de mercado do Imea - Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária. Fernando Zequinão/Gazeta do Povo

O estado do Centro Oeste detém 61% da produção nacional, segundo o analista do Imea. Uma frente de produção é o Grupo Bom Jesus, com sede em Rondonópolis (MT). “Dobramos a produção em áreas que antes eram de milho. Estávamos com 35 mil hectares [de algodão] e pulamos para 70 mil por conta do melhor preço”, afirma Luís Henrique Vigolo, sócio do grupo.

Segundo Vigolo, o mercado paga em média R$ 80 a arroba de algodão. No mercado futuro, a Bom Jesus conseguiu cotações de R$ 92. Cleiton Gauer confirma o preço: a comercialização antecipada bate os R$ 90 por arroba. Para ser considerado baixo, o valor precisaria cair abaixo dos R$ 70.

‘Boi vegetal’

Em uma das propriedades do Bom Jesus, em São Lourenço de Fátima (MT), o gerente da fazenda, Rodrigo Rigon, destaca que o milho está sendo utilizado mais para a palhada que beneficiará soja, já que o preço de mercado não é favorável no momento. “O algodão e a soja são os produtos mais rentáveis”, reforça.

Até mesmo na primeira safra, que em geral é dominada pela soja na maioria das propriedades, o algodão entra para o rodízio de solo. O plantio deste ano está em 12 mil hectares de soja e 4 mil hectares de algodão na fazenda coordenada por Rigon.

Soja e algodão juntos: produtos agrícolas são os mais rentáveis neste momento no Mato Grosso.Felipe Rosa//Gazeta do Povo

A expansão se justifica pela crescente do mercado internacional. Vigolo e Gauer destacam o aumento da demanda da China. “O algodão brasileiro acaba sendo muito destinado para [a indústria de] tecidos, mas se aproveita tudo. O caroço é utilizado para ração e óleo, por exemplo. A gente brinca que o algodão é o boi vegetal, porque dele se aproveita tudo”, afirma Luis Vigolo.

Outro fator é a Guerra Comercial EUA-China, que pode fazer com que o Brasil volte a ser um grande exportador do produto para o país asiático. Com 40% das vendas mundiais, os Estados Unidos podem perder parte desse importante mercado e fazer com que a China volte a ser o maior cliente brasileiro, na avaliação de presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), Henrique Snitcovski.

Não é para amadores

O cenário de consumo interno também é animador, segundo a Abrapa, que destaca que o Brasil é o país com a maior produtividade de plantio em áreas de sequeiro (sem irrigação). Para se ter uma ideia, o Brasil deve consumir 700 milhões de toneladas da safra nacional.

Mas a produção não é para aventureiros. O diretor da Aprosmat destaca as novas tecnologias empregadas, que vão além de sementes. O analista do Imea reforça: “O algodão não é para todos os produtores, mas o que produzem estão muito tecnificados”. Ambos os especialistas destacam que são precisos maquinários específicos para trabalhar a produtividade, o que nem sempre é vantajoso para quem não tem um bom capital para investir – e não quer se endividar com financiamento.

Passagem da Expedição Safra 2018-19 pelo Mato Grosso, em novembro.Fernando Zequinão/Gazeta do Povo

Altamente rentável para produtores do Sudeste, Oeste e Médio Norte de Mato Grosso, o algodão está presente principalmente nas lavouras de grandes grupos, como a própria Bom Jesus Sementes. Também pudera: a experiência de produtores menores com a ‘pluma’ foi amarga.

Após recorde de exportações em 2011 (que deve ser batido nesta safra), muitos produtores entraram no mercado, e levaram um tombo após a retração da demanda chinesa nos anos seguintes, explica Cleiton Guaer. Apesar disso, o mercado ‘segue em expansão’.

Neste ano, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio, até setembro o principal comprador do produto brasileiro foi a Indonésia, com 74,8 mil toneladas. A China é apenas o 8º comprador até o momento, com 15 mil toneladas. Ou seja, ainda há muito de algodão a ser direcionado junto à segunda potência econômica global.

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