Dos 167 hectares de soja plantados na propriedade da produtora Ana Maria de Araújo Santim, em Peabiru, região Centro-Oeste do Paraná, metade já foi colhida. O problema agora é conseguir colher os outros 50%. Isso porque a chuva insistente dos últimos 15 dias não tem dado trégua para as colheitadeiras. O medo de Ana é atrasar o plantio do milho safrinha, que vem na sequência. Apesar de ainda estar dentro da época do zoneamento de plantio, quanto mais tarde a semente for para a terra, maior a possibilidade de prejuízo.
“Cada dia de atraso no plantio do milho são 6 sacas por alqueire a menos que se colhe”, resume Ana, que também é engenheira agrônoma. Isso por causa da redução do fotoperíodo em que a planta ficará exposta nos próximos meses com a chegada do inverno, em que a luminosidade fica menor. Além disso, há o risco maior de as plantas serem atingidas pela geada quase na fase de colheita, até meados de julho. “Dependendo se não tiver muito barro e der umas duas horas de sol a gente já entra com a máquina. Agora não dá pra perder muito tempo”, diz.
Fora a soja e o milho safrinha – este ocupa 44 hectares da propriedade -, Ana também planta braquiária e aveia para poder fazer a rotação de culturas e melhorar as condições de fertilidade do solo, mantendo a umidade no período de seca. Assim como em outras regiões do estado, o Centro-Oeste também sofreu com a estiagem no final do ano passado e início de 2019. No entanto, na região de Peabiru, a falta de chuvas não atrapalhou muito, segundo a produtora.
Mesmo assim, a produtividade neste ano deve ser menor. Até agora a média foi de 58 sacas/hectares. No ano passado, que teve excesso de chuvas, foi de 66 sc/ha. Na safra 2016/2017, por sua vez, chegou a 70 sc/ha, informa Ana. Ela varia a colheita com 3 variedades de tipos superprecoces e médias. A expectativa é tirar produtividades maiores nos 50% que faltam da colheita, pois são justamente as áreas rotacionadas com braquiárias, em que as plantas estão com vigor melhor.
Quebra de safra
A estiagem que não afetou em cheio os produtores de Peabiru, como a Ana, foi mais severa em outras regiões do estado. De acordo com o presidente da Cooperativa Coamo, com sede em Campo Mourão, José Aroldo Gallassini, a estimativa de quebra de safra no âmbito dos 28,6 mil cooperados da Coamo é de 18,5%, incluindo o estado do Paraná (24,3 mil cooperados) e Mato Grosso do Sul. Em Santa Catarina, onde a cooperativa também atua, não houve perdas, segundo Gallassini.
“Os mais atingidos foram os produtores que apostaram na soja de ciclo precoce. Esse produtor quebrou até 40% da safra, que pegou em cheio a estiagem de dezembro do ano passado, que foi a mais forte. Teve um segundo veranico, entre janeiro e fevereiro, que pegou mais na região de Campo Mourão, mas foi mais fraco que o primeiro”, explica o presidente da Coamo.
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Apesar de o preço da soja sempre poder mudar, em razão das inúmeras variáveis que influenciam o valor de mercado, Gallassini acredita que os valores devem se manter na normalidade ao longo do ano, mesmo com a China decidindo comprar a soja norte-americana que está estocada desde a safra anterior, o que fez os preços caírem um pouco. “Quando o preço da soja explodiu, em 2004 e 2005, os estoques mundiais eram baixos. Este ano eles estão cheios”, afirma. Além disso, a Argentina também deve se recuperar e colocar soja no mercado após ter quebrado a safra no ano anterior.
No ano passado, lembra Gallassini, o preço da saca estava a R$ 85 e hoje está a R$ 67,50. “O dólar alto ainda faz a soja compensar o investimento, mas não se sabe por quanto tempo ela ficará nesse preço. Se houver uma quebra da safra dos EUA, por exemplo, muda completamente o cenário”, diz.
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