A impressão que se tem ao chegar à Fazenda Bom Jardim, em Montividiu, região sudoeste de Goiás, é de quem está entrando num campo de provas, um tipo de laboratório a céu aberto. Funcionários paramentados e tratores equipados com sensores não deixam dúvidas de que ali se faz um tipo de “crash test”, só que o foco não são automóveis, mas sementes e variedades de soja e milho. Localizada a 900 metros de altitude, a estação de pesquisa agrícola possui solos férteis, onde são experimentados também agroquímicos para o controle de ervas e pragas.
Ali são feitas pesquisas comparativas entre cultivares semelhantes, para testar quais têm rendimento melhor em cada tipo de solo e clima. “Dá para ver diferenças de produtividade grandes. Na safra passada, testamos uma semente híbrida de milho que deu 22 sacas/ha a mais do que outro híbrido que já é comercializado”, revela Deucimar Lima, engenheiro agrônomo responsável pelas pesquisas em campo, que funcionam em parceria com multinacionais.
Lima explica que os testes são feitos conforme a demanda das empresas contratantes. Entre as pesquisas em andamento estão, por exemplo, formas de controle da cigarrinha do milho e da mosca branca do feijão. Outro experimento é para verificar a tecnologia de sementes resistentes à lagarta da soja. “Esses produtos agregam uma tecnologia que permite uma produtividade maior em uma área menor, diminuindo o custo para o produtor”, pontua.
Bandeirolas
No total, a propriedade possui 100 hectares onde são cultivados soja na primeira safra e milho na safrinha. Apenas 10% da área estão reservados para as pesquisas, devidamente assinaladas por bandeirolas que identificam os campos e os tipos de testes conduzidos ali. “O mais importante é gerar tecnologias e materiais que auxiliem o produtor. Por exemplo, testamos aqui uma soja argentina que dá produtividade de mais de 70 sacas/ha. Para eu saber o que vou recomendar, preciso conhecer e testar esses materiais”, diz o produtor rural e engenheiro agrônomo Irumuara Interaminense Uliana, proprietário da Fazenda Bom Jardim.
O paranaense, natural de Ponta Grossa, conta que a estação existe há apenas dois anos e que alguns estudos devem levar até três anos para dar um resultado consistente. Alguns produtos também são testados no restante da propriedade, que sofreu com as variáveis climáticas este ano. Segundo Uliana, o problema não foi a falta de chuva, mas o excesso dela, especialmente nos meses de outubro e novembro. Além disso, a falta de luminosidade nesse período fez com que as plantas não se desenvolvessem adequadamente, em especial as de ciclo precoce.
Enquanto a média de produtividade da região é de 70 sacas/ha, para este ano está previsto um índice de 57 sacas/ha. Em Rio Verde, principal município produtor de grãos de Goiás, a condição de chuvas esparsas trouxe prejuízos para alguns produtores e fartura para outros, conforme explica o consultor e agrônomo Paulo Martins. “Nos 300 mil hectares cultivados no município teve gente que colheu 45 sacas/ha e outros colheram 76 sacas/ha. A nossa estimativa é de quebra de 15% a 20% esse ano”, sentencia.
Quebra de 40%
O dado é referendado pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Goiás (Aprosoja-GO). Segundo Adriano Barzotto, presidente da entidade, o sudoeste goiano, ainda foi o que menos sofreu. A estiagem pegou forte no sudeste do estado – onde as perdas chegam a 40% - e no norte, com baixa estimada em 25%.
“No ano passado, Goiás colheu 11,3 milhões de toneladas de soja. Para este ano esperávamos um aumento de 3%, chegando a 12 milhões de toneladas, mas com as perdas esse número vai ficar entre 9,5 milhões e 10 milhões de toneladas“, pontua Barzotto. No entanto, com a antecipação do plantio do milho, a expectativa é de uma boa colheita na safrinha.
Já em Cachoeira Dourada, na divisa com Minas Gerais, o veranico trouxe muitos prejuízos aos produtores. Na propriedade de 50 hectares do agrônomo e consultor Wagner Nunes Garcia foram colhidas 50 sacas/ha, em média, enquanto na safra anterior a colheita foi de 78 sacas. “Em dezembro do ano passado foram 21 dias sem chover e em janeiro mais 20 dias. Normalmente em dezembro chove 200 milímetros e ano passado choveu apenas 40 mm. Já no período de janeiro chove 300 mm, mas neste ano choveu só 60 mm”, compara Garcia.
Segundo ele, a estiagem afetou a todos na região e as perdas são estimadas em 30%. Isso levou 95% dos produtores de Itumbiara a acionar o seguro rural. “Os peritos não estão dando conta de fazer tantas vistorias”, afirma. Para piorar, conforme afirma Garcia, muita gente investiu pesado em maquinário no ano passado e agora terá dificuldades para pagar o financiamento com a quebra da safra.