A agricultura tem dessas coisas: enquanto no ciclo da safra brasileira de grãos 2017/18 a escassez de chuvas na segunda safra impediu que se atingisse todo o potencial produtivo, no ciclo atual, 2018/19, foi o verão que “faltou” com os agricultores, e as estações outono e inverno, desta vez, devem se comportar como um aliado. Pelo menos do ponto de vista climático, o viés é de alta para as lavouras brasileiras pelos próximos meses, graças à influência de um fenômeno El Niño “suave”, que representa mais umidade nas principais regiões produtoras e poucas chances de extremos de frio no início e no fim da estação.
As tendências do clima apontadas acima, assim como o comportamento do mercado, movimentos da oferta e demanda, avanços tecnológicos, desafios de gestão e comercialização, entre outros temas, foram abordados nesta sexta-feira no seminário técnico que marcou o encerramento da etapa nacional da Expedição Safra 2018/19, um projeto da Gazeta do Povo realizado há 13 anos, que já percorreu de forma recorrente 16 estados brasileiros e 14 países de três continentes.
Do ponto de vista de escoamento das safras, 2019 também avança com viés de alta no Brasil. No primeiro trimestre foram despachadas para o exterior 17 milhões de toneladas de soja, contra 13 milhões no mesmo período do ano passado. No milho, os embarques totalizaram até março 7 milhões de toneladas, contra 5 milhões no primeiro trimestre de 2018. E as expedições de farelo de soja não recuaram. “Esse é um dado importante porque, mesmo com a Argentina voltando ao jogo – no ano passado eles perderam 20 milhões de toneladas de soja para a seca e quebraram ao meio – o Brasil está conseguindo fidelizar os mercados conquistados para o farelo”, avalia Giovani Ferreira, coordenador da Expedição Safra. “A agricultura dos EUA, nosso principal concorrente, está estagnada em termos de área há cinco anos. E a renda agrícola por lá caiu 50% no período. Em termos gerais, os produtores brasileiros estão no lugar certo, na hora certa e fazendo a coisa certa”, acrescenta.
Salatiel Turra, diretor do Departamento de Economia Rural, confirmou o peso do clima para o bem e para o mal nas safras de verão e outono/inverno. A safra de soja, que ocupa cerca de 90% das áreas agrícolas do Paraná no verão, deverá ser de 19,3 milhões de toneladas, uma quebra de 18% em relação ao potencial produtivo. Já o milho segunda safra deve ter um aumento de 30% no volume produzido, em comparação ao desempenho do ano passado. Ou seja, 13 milhões de toneladas contra 9,1 milhões no ciclo anterior. “O preço da soja, a R$ 68 a saca, está um real a menos do que no ano passado. Isso depende muito das relações comerciais dos EUA com a China. Mas, neste patamar, remunera bem o produtor em relação aos custos”, diz Turra. Quanto ao milho, ele considera que os preços atuais estão “satisfatórios” em relação à média dos últimos 24 meses.
Para o presidente da Confederação Nacional dos Engenheiros Agrônomos e coordenador das Câmaras de Agronomia do CONFEA, Kleber Souza dos Santos, o mérito da Expedição Safra está em promover a informação e a união de elos: “temos aqui o produtor e os profissionais discutindo as melhores alternativas, as melhores estratégias, aliadas às nossas condições naturais favoráveis, para que o País seja, de fato, o celeiro do mundo. Temos ciência do papel dos profissionais de agronomia nesse processo, é muita responsabilidade”.
O secretário de Agricultura do Paraná, Norberto Ortigara, destacou que, em que pese os “acidentes de percurso” como a estiagem, o balanço do ciclo “é bastante satisfatório”. O Paraná deixou de colher de 3,2 milhões de toneladas de soja devido às altas temperaturas e ausência de umidade entre novembro e janeiro. “De qualquer maneira, aumentamos a área de cultivo de milho safrinha e isso pode gerar mais de 4 milhões de toneladas adicionais em relação ao ano passado. Então, se tivermos sucesso nos próximos meses, temos a possibilidade de crescer 2 milhões de toneladas em relação à safra do ano passado, que foi parcialmente frustrada no milho safrinha”, avalia o secretário. Para Ortigara, a referência sempre será 2017. “O ano de 2017 foi fantástico em todos os sentidos, tivemos alta produtividade, bom desempenho e bons preços. Mas não dá para chorar. Estamos com boa safra a campo, as lavouras de milho e feijão estão exuberantes. E o dólar está quase batendo nos quatro reais. Isso ajuda na formação do preço interno”.
Balanço geral
No balanço geral, a colheita de soja deste ano deve repetir o desempenho do ciclo 2017/18, ou seja, 115,8 milhões de toneladas, segundo estimativa da própria Expedição Safra. No milho, a safra deverá ser de 90 milhões de t. No caso da soja, mesmo com as perdas na lavoura, o aumento da área plantada deve compensar a redução do volume total inicialmente esperado, que chegou a 125 milhões de t.
De volta à questão climática, o meteorologista Luiz Renato Lazinski brincou dizendo que, de modo geral, a América do Sul não pode se queixar de “São Pedro”. “Nos últimos seis ou sete ciclos, com exceção do ano passado na Argentina, tivemos safras cheias na América do Sul. Agora, em relação à segunda safra, a tendência é que o clima continue contribuindo com chuvas, não tão regulares, mas não deve faltar água. E a questão das temperaturas. Não devemos ter ondas de frio muito cedo, deveremos ter uma safrinha cheia no decorrer de 2019”.
O coordenador comercial de Sementes da Castrolanda, Edson Martins de Oliveira, avaliou que, assim como as temáticas da Expedição Safra, a cooperativa busca o maior nível possível de inovação, transferência de tecnologia e interação com o produtor. Luiz Gastão Pinto Júnior, representante da Caixa Econômica Federal, salientou que o banco vê hoje o agronegócio como um segundo pilar, ao lado da tradicional presença no financiamento imobiliário. E destacou a importância do setor: “se qualquer coisa acontece no campo, isso tem um reflexo econômico forte nas cidades”.
Entre outras autoridades, o evento de encerramento da etapa nacional da Expedição Safra 2018/19 contou com a presença do presidente da SRP, Antonio Sampaio, e do vice- governador do Paraná, Darci Pianna.
Visita ao México
Na etapa nacional, os estados visitados pelos jornalistas e técnicos do projeto foram: Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, Maranhão, Tocantins, Bahia e Piauí. A Expedição também passou pelos Estados Unidos e ainda terá pela frente o trecho do Paraguai, Argentina e Uruguai. Posteriormente, cumprirá agendas no México em maio. O país da América do Norte tem aumentado o comércio de produtos agropecuários com o Brasil, abrindo uma janela de novas oportunidades.