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Fórmula 1 da soja? Campeonato desafia os limites da produtividade

Soja está adaptada a todas as regiões do País; na foto, produtores gaúchos radicados no sul do Piauí | Daniel Caron/Gazeta do Povo
Soja está adaptada a todas as regiões do País; na foto, produtores gaúchos radicados no sul do Piauí (Foto: Daniel Caron/Gazeta do Povo)

Campeão da última temporada, com 127 sacas por hectare, Gabriel Bonato, de 31 anos, está com a colheitadeira ajustada para despontar de novo no pódio dos agricultores que mais produzem soja por metro quadrado no País.

Há dez anos o Desafio de Máxima Produtividade da Soja, promovido pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), funciona como uma espécie de Fórmula 1 da agricultura. Como na modalidade esportiva automobilística, o campeonato é um laboratório de testes das mais recentes inovações tecnológicas e vitrine para o talento dos pilotos (agricultores) na condução de suas lavouras para obter produtividades nunca antes alcançadas. Para se ter uma ideia do alto nível da competição, o produtor que venceu o primeiro desafio Cesb, há 10 anos, colheu à época 4.980 kg de soja por hectare, desempenho que hoje seria insuficiente para sequer aparecer entre os 10 primeiros colocados. O campeão do ano passado colheu 8.944 kg por hectare, quase o dobro do antigo recorde.

Nos campos de prova de Sarandi, no Rio Grande do Sul, o piloto/produtor Gabriel Bonato foi particularmente beneficiado neste ano pelo clima, com chuvas na época certa e bem distribuídas. Mas esse é um fator de pura sorte. Para lutar pelo topo da produtividade de soja no Brasil, Bonato apostou numa nova cultivar, mais adaptada à região, fez mais análises de solo e ajustes finos na adubação, com adição de boro pela primeira vez e aumento da dose de molibdênio.

“É uma disputa sadia, a gente não quer se desafiar com os outros produtores. O desafio acaba sendo com a gente mesmo, para aumentar a própria média, quebrando as barreiras dentro de nossa propriedade”, aponta Bonato. Nas primeiras áreas já colhidas ele obteve 91 sacas de soja por hectare, em média (no Brasil, a média é de 55 sacas). E a soja plantada precocemente costuma produzir um pouco menos. “Acho que vamos bater o nosso recorde de novo. As variedades de ciclo rápido tiveram produtividade muito alta. Esperamos pelo menos igualar nosso melhor desempenho”, enfatiza.

Luiz Nery Ribas, presidente do Cesb – uma entidade sem fins lucrativos formada por profissionais e pesquisadores da soja – diz que, ao contrário dos segredos e artimanhas que marcam as disputas da Fórmula 1, no campeonato entre os agricultores a ideia é compartilhar tudo. “Anunciamos os campeões e no mesmo dia os cases estão abertos em nosso portal, para serem compartilhados e copiados. Não tem nada que fique escondido ou em segredo. Temos um cunho provocativo muito forte. O produtor acaba se perguntando: como é que meu vizinho ou alguém da minha região consegue produzir isso tudo? Daí ele começa a ir atrás da informação”.

Neste ano, 4 mil produtores se inscreveram na disputa do Desafio de Máxima Produtividade de Soja. Em termos de área, eles representam 11,5% das plantações da leguminosa no Brasil, ou seja, 4,14 milhões de hectares de um total de 36 milhões. As estatísticas revelam também a enorme adaptabilidade da soja, que pode ser cultivada de norte a sul do País. A maioria dos inscritos no desafio, 61,8%, é da região Sul; 16,3% do Sudeste; 15,1% do Centro-Oeste; 4,9% do Nordeste e 1,8% do Norte do Brasil.

Segundo os organizadores, o objetivo da competição é propagar informação e conhecimento para que os agricultores possam atingir novos patamares de produção com rentabilidade e sustentabilidade dentro de uma mesma unidade de área, evitando o desmatamento desnecessário. Os vencedores serão conhecidos em junho deste ano, durante o Fórum Nacional de Máxima Produtividade.

Para descobrir os campeões de produtividade, uma empresa de auditoria vai atestar os resultados de todos os produtores com rendimentos acima de 90 sacas por hectare (5.400 kg). É o produtor quem deve solicitar ao Cesb a presença da empresa oficial de auditagem, com antecedência mínima de quatro dias. A previsão é de que sejam realizadas 700 auditorias nesta edição, contra 573 no ano passado.

Os participantes receberão gratuitamente um laudo/relatório das áreas auditadas, contendo o georreferenciamento da área auditada; um descritivo do campo de produção; informações técnicas de manejo, transporte, classificação e pesagem; registro fotográfico; e um certificado com sua classificação no Desafio.

Como num carro de Fórmula 1, o segredo para atingir uma produtividade espantosa de 143,1 sacas de soja por hectare (recorde atual, estabelecido na safra 2016/17 pelo produtor de Guarapuava Marcos Seitz) nunca está apenas no piloto ou em algum único aspecto tecnológico. Existe, no entanto, um ponto cuidadosamente observado pelo campeões do desafio da soja. “O arranjo espacial é um detalhe fundamental. Ter a quantidade de plantas de soja num hectare conforme o que foi definido pela pesquisa da empresa que chegou àquela variedade. A distribuição das plantas numa unidade de área traz um resultado impressionante. Não é invenção, não é achismo. É conclusão após dez anos de pesquisa com participação de mais de 50 mil produtores”, assegura Ribas.

“Não existe nada milagroso, não tem bicho papão nem invenção. É usar as boas práticas que vêm sendo construídas há varios anos. Se temos feras na pilotagem das lavouras, é porque estamos falando de gente que acredita, que busca a inovação e aplica os resultados da pesquisa”.

A julgar pelo recorde mundial de produtividade - 11.499 kg de soja por hectare, obtidos na temporada 2016/17 pelo produtor americano Randy Dowdy, da Georgia - os produtores brasileiros podem sonhar com voos ainda mais altos em suas colheitas.

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