As barcaças do Rio Paraguai abriram em 2018 um novo destino internacional para a soja brasileira, com potencial de consumir pelo menos 10 milhões de toneladas por ano.
Pela primeira vez a soja do Mato Grosso do Sul desceu o Rio Paraguai a partir do embarque no porto de Concepción, a 200 km da fronteira em Ponta Porã, com destino às plantas industriais esmagadoras de soja na Argentina. “Em nossa operação, foram apenas 45 mil toneladas, parece um volume pequeno, mas serviu para testar essa nova rota, especialmente em relação à parte documental da aduana nos dois países. E tudo transcorreu bem. Em 2019, com a integração da aduana paraguaia e a Receita Federal brasileira, esse processo todo será mais rápido e eficiente”, diz Rodrigo Soto, gerente comercial da Baden S.A., subsidiária local da Imperial Shipping, empresa sul-africana que tem sede na Alemanha.
A janela de oportunidade para a soja brasileira descer o Rio Paraguai sob encomenda de clientes argentinos se abre todos os anos entre janeiro e abril, antes da entrada da safra do país vizinho. “É um período de 45 dias em que a Argentina não tem soja, mas segue com capacidade para moer 15 milhões de toneladas de grãos. Pelo menos 10 milhões de toneladas podem vir do Brasil. Em vez de pensar na China ou Índia, tendo de cruzar o Atlântico, os produtores podem vender a soja diretamente às plantas que produzem óleo de soja na Argentina”, aponta o diretor geral da Baden S.A, Fabian Sesto.
O operador paraguaio destaca que, neste ano, somente um cliente argentino já consumiu 600 mil toneladas de soja brasileira por via fluvial – incluindo na conta os embarques em outros portos ao longo do Rio Paraguai, como Murtinho, Ladário e Corumbá. O terminal de Concepción quer atrair o transporte de soja da área produtiva num raio de 150km ao redor de Ponta Porã. “Não queremos roubar carga de outros portos. Nesse raio próximo de Ponta Porã, é logisticamente mais sensato ir a Concepción em vez de subir pela rodovia até Porto Murtinho e depois descer novamente pelo rio”, sublinha Sesto. “Nossa expectativa é dobrar ou triplicar o volume de soja brasileira transportada pelas barcaças do Rio Paraguai nos próximos anos”.
A agilidade no desembaraço aduaneiro é considerada ponto-chave para que a rota fluvial paraguaia atinja seu potencial de transporte da soja brasileira. O caminho pelo rio até a região de San Lorenzo, na Argentina, leva sete dias. “Aumentar em três dias o tempo de deslocamento, somente por causa de documentação, encarece muito a logística para exportar. Na medida em que haja mais agilidade para liberar as cargas, isso permitirá um volume maior de negócios”, destaca Rodrigo Soto.
Acordo bilateral
A falta de espaço para estacionamento dos caminhões de soja no lado brasileiro da fronteira, em Ponta Porã, será solucionada a partir de um convênio já assinado entre os dois países. A Receita Federal e o Ministério da Agricultura ocuparão uma área no lado paraguaio, onde podem estacionar mais de 150 caminhões. Com a integração do trabalho das aduanas, a expectativa é que sejam liberados até 120 caminhões por dia, de segunda a sexta-feira.
“A agilidade na aduana em Ponta Porã e Pedro Juan Caballero e a liberação do fluxo de caminhões bitrens são dois fatores que ajudariam muito essa logística”, aponta Nigel Lopez Gorman, diretor da Sarcom Paraguai, que mantém um terminal com capacidade de armazenar 53 mil toneladas de soja em Concepción. Neste ano, a Sarcom exportou 80 mil toneladas da leguminosa, toda ela do Paraguai.
O aproveitamento da logística do Rio Paraguai começou há dois anos, com embarque de 45 mil toneladas em Porto Murtinho. Desde então, o volume exportado apenas naquele porto já cresceu quase dez vezes, chegando a 430 mil toneladas, até agora, neste ano. Para o agricultor e presidente da Associação dos Produtores de Soja do Mato Grosso do Sul, Juliano Schmaedecke, a saída pelos terminais de Concepción é vantajosa economicamente para a região sul do estado. “Esse caminho é seis dólares mais barato por tonelada do que subir até porto Murtinho. O tabelamento de fretes tornou muito viável a saída pelo Rio Paraguai. A produtividade está crescendo muito e não estamos conseguindo acompanhar em logística. Se conseguirmos viabilizar Concepción, será uma maravilha”.
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