Alessandro Nadal, engenheiro civil formado na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), passa 25 dias trabalhando de sol a sol no Paraguai, alternados com cinco dias de folga, em que viaja para rever a família em Curitiba, cidade natal.
Essa rotina deve seguir por quatro anos, tempo estimado para construção da rodovia chamada de “Corredor da Exportação”, que se estende numa extensão de 147 km, correndo paralela ao Rio Paraná, próximo à fronteira com o Brasil. A obra está prevista para três anos mas, devido ao regime de chuvas no Paraguai - cerca de cinco meses por ano- , já se projeta que será necessário pelo menos mais um ano para concluir a estrada. No percurso da rodovia estão onze portos fluviais, situados a uma distância entre 4 e 17 km do eixo da estrada, que servirá como um canal de rápido escoamento da safra de grãos das principais áreas produtivas, do centro-leste ao sul do país.
Quem ganhou um dos três lotes da empreitada é a construtora sul-coreana Ilsung, para quem Nadal trabalha no comando de uma equipe de 300 operários. O brasileiro lidera as obras no trecho mais desafiador, de 47 km, onde será construída uma ponte de 100 metros sobre o Rio Ñacunday, no departamento de Alto Paraná.
“A fiscalização da obra da rodovia e da ponte é japonesa, ocorrem auditorias frequentes para assegurar o alto padrão exigido. A ponte terá de ser muito resistente porque o caudal do rio é muito forte. Inclusive vamos ter que esperar a época de baixa do leito do rio para fazer as sapatas da fundação. Eu trouxe alguns trabalhadores comigo do Brasil, gente de minha confiança para ajudar no tramo”, diz Nadal, já misturando o português com o espanhol, ao trocar a palavra trecho por tramo, entre outros inevitáveis empréstimos linguísticos.
Os 220 milhões de dólares para construir a rodovia do Corredor de Exportação vêm de um empréstimo da Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA), do qual o governo paraguaio é fiador. O Paraguai tem apenas 6 mil quilômetros de estradas pavimentadas, ou apenas 40% da infraestrutura rodoviária necessária para escoar a produção agrícola. O déficit é de 9 mil quilômetros. Nadal avalia que o ex-presidente Horacio Cartes, que deixou o poder em abril, fez uma revolução à moda de Juscelino Kubitschek.
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“Nos últimos cinco anos foi feito em estradas no Paraguai o que não tinha sido realizado em 25 anos”, assegura. Entre as grandes obras em andamento, além da recém iniciada rota do Corredor de Exportação, está a duplicação da rodovia que liga Assunção a Ciudad de Leste, a Ruta 8, as costaneras Norte e Sul e a rodovia Bioceânica, que criará uma ligação do Centro-Sul do Brasil a portos do Oceano Pacífico, no Chile, atravessando território da Argentina e o Chaco paraguaio. Essa última obra, que estava parada há anos, foi licitada e é um compromisso do governo paraguaio com os países vizinhos.
“A gente está com essa força-tarefa de contribuir para o desenvolvimento e a infraestrutura do país. Já tive outras oportunidades fora do Brasil, mas agora estou mais próximo de nosso país e isso dá um vigor por estar construindo algo que a gente se beneficia diretamente, pela própria distância”, diz Nadal.
Brasil ‘agradece’
O Paraguai exporta pelos rios 9,1 milhões de toneladas de grãos, ou 96% do que produz. O porto de Concepción, a 200 km da fronteira brasileira em Ponta Porã, quer atrair cargas do Mato Grosso do Sul, enquanto os portos mais ao norte do Rio Paraguai, como Murtinho, Ladário e Corumbá, são estratégicos para escoamento da safra do Mato Grosso.
Reportagem da Expedição Safra 2018/19 mostrou nesta semana que, se forem superados os embaraços aduaneiros, o Brasil tem potencial para enviar pelo Rio Paraguai 10 milhões de toneladas para serem esmagadas pela indústria argentina, na “janela” de mercado entre janeiro e abril, quando falta soja no país vizinho.
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