As perdas nas lavouras de soja em Minas Gerais nesta safra devem chegar a 15%, de acordo com estimativas da Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja-MG) do estado, principalmente por causa da chamada chuva de manga, de características esparsas e que afetou muitos produtores neste ano, especialmente na fase de plantio e enchimento de grão, entre o final de 2018 e começo deste ano.
Mas muitos produtores têm descoberto na integração entre lavoura e pecuária uma forma de contornar o problema da falta de chuvas, especialmente por conseguir conciliar a fertilização do solo com matéria orgânica oriunda do gado. Em contrapartida, a lavoura fornece a ração necessária para abastecer o rebanho, em um ciclo que se completa gerando economia e eficiência. Um exemplo é o que ocorre nas fazendas do pecuarista Paulo Roberto Nascimento, que, de certa forma, vende milho em forma de boi.
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Nascimento possui duas propriedades, uma em Capinópolis, no Sul de Minas, e outra em Santa Cruz do Xingu, no Norte do Mato Grosso. Na fazenda de MG, ele cultiva 700 hectares de milho de primeira safra e outros 200 ha na safrinha. Nenhum grão é comercializado e o insumo é inteiramente voltado para fazer ração para o gado. Apesar disso, o produtor não descuida com a qualidade do produto, que se reflete nas espigas graúdas e repletas de grãos.
Em Capinópolis, Nascimento mantém 26 mil cabeças de gado, que se alimentam da silagem produzida a partir do milho e sorgo cultivados na fazenda. Com a integração das atividades na propriedade, o esterco dos bois – 30 mil toneladas por ano – vira adubo para o solo, que rende 140 sacas de milho/ha verão e 100 sacas na safrinha. “Fazemos agricultura de precisão, com mapeamento de solo e da colheita, além de análise do solo”, explica. Além disso, o adubo orgânico representa uma economia de 30% no custo em comparação com os fertilizantes comuns.
Na fazenda do Mato Grosso, a integração também se revelou uma boa prática. A safra de soja produzida lá e que é vendida normalmente no mercado, está com índices de 72 sacas por hectare. E Nascimento ainda tem mais mil hectares de milho safrinha, também com boa produtividade. A integração com a agricultura eu considero como uma extensão do meu produto. Não tem coisa melhor, porque o boi não precisa fazer adaptação para o confinamento. Ele já está acostumado com a ração, o que torna o processo de engorda mais rápido”, explica.
Colheita acelerada
Em Uberlândia, na região do Triângulo Mineiro, a produtividade das lavouras também tem por trás um investimento em conhecimento das boas práticas de cultivo, com auxílio de tecnologia e informação. Apesar de não trabalhar com pecuária, os índices de 68 sacas/ha que estão sendo colhidos, em média, na propriedade de Júlio Cesar Pereira Junior não deixa dúvidas sobre a qualidade do manejo do solo ali. Alguns talhões, estão tendo picos de mais de 70 sacas, enquanto a média de Minas Gerais gira em torno de 55 sacas/ha.
Engenheiro agrônomo e economista formado, Pereira Junior vai colher toda a safra de soja em apenas 25 dias, plantando a safrinha de milho na sequência. “Muita gente está começando a colher hoje enquanto nós aqui já estamos no fim, falando 15% da área para colher”, diz. Para isso, ele triplicou a capacidade da fazenda para cobrir toda a área de 3,1 mil hectares de soja num ritmo de 125 hectares colhidos por dia.
“Estou muito feliz pelo nosso ano, que foi um ano difícil por causa da estiagem. Hoje, 60% do negócio da fazenda é soja e é ela que me dá a margem operacional dos negócios”, explica o produtor. Ele conta que com a antecipação do plantio e da colheita, os índices de produtividade da fazenda subiram, pois é possível aproveitar melhor as condições climáticas das janelas de plantio – até 15 de outubro para a soja e até 20 de fevereiro no caso do milho.
Safrinha recente
A safrinha de milho começou a ser plantada na região há apenas 6 anos e os produtores ainda estão aprendendo a lidar com ela, segundo Pereira Junior, que cultiva 2,5 mil hectares do grão na propriedade. De acordo com ele, o milho tem ajudado a melhorar a qualidade da primeira safra, principalmente por fornecer a palhada que irá proteger e manter a fertilidade do solo. Para este ano, a safrinha deve render 120 sacas/ha, mais do que no ano anterior, quando deu 119 sacas/ha.
O bom momento da Fazenda Pombo vai na contramão do que está sendo esperado em outras regiões de Minas Gerais, onde as chuvas pontuais criaram diferenças de grandes de produtividade, às vezes dentro de uma mesma propriedade. “A estiagem deve reduzir o nível tecnológico implantado na safrinha. O camarada que saiu da safra de verão frustrado vai utilizar mais sorgo na safrinha, que é mais garantido, no lugar de milho”, afirma o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Minas Gerais (Aprosoja-MG), Wesley Barbosa de Freitas.
“Quem plantou mais tarde, ganhou. Eu mesmo, na última área que plantei, que foi de 13 a 15 de novembro, vou produzir melhor, porque quando veio a fase crítica do sol a planta ainda estava nova e quando chegou a chuva ela teve condição de se recuperar”, afirma. Mesmo assim, Freitas conta que em áreas onde no ano passado colheu 78 sacas/ha neste ano tirou apenas 40 sacas.
No caso de Pereira Junior, a segurança no negócio da fazenda é tanta que ele comercializa antecipadamente 80% da soja primeira safra e metade da safrinha. “Quando você tem confiança no negócio você investe”, resume o produtor. “É claro que Deus tem que ajudar com a chuva na hora certa, mas a gente tem que fazer o dever de casa também”, conclui.