O tombo na safra deste ano na região do Matopiba, formada por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, não deve ser pequeno. A estimativa mais recente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de que a quebra nesses estados seja de 11,27% em relação à safra passada – só na Bahia as perdas chegarão a 21,1%. Mas quem olha o retrato de momento corre o risco de não enxergar o enorme potencial produtor da região, que para crescer precisa superar desafios que vão da condição climática à falta de infraestrutura para o escoamento dos grãos.
Considerada como a fronteira agrícola brasileira, o Matopiba nos últimos dez anos triplicou o volume de soja produzido e a área cultivada, com exceção da Bahia, que “apenas” dobrou a área de plantio. No entanto, nos últimos seis anos, o ritmo de crescimento diminuiu, acompanhando os movimentos da produção nacional, muitas vezes afetada pelo clima entre um ciclo e outro. Foi o caso da quebra projetada para este ano, com redução de expectativa devido à estiagem que afetou os principais estados produtores do país.
Apesar de ainda ser uma região recente do ponto de vista da produção de grãos, o Matopiba já responde por quase 12% da produção de soja do país, com um volume esperado para este ano de mais de 13 milhões de toneladas. O estudo “O Futuro da Agricultura Brasileira”, divulgado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), sugere que a região poderá chegar a uma produção de 26 milhões de t em 2026/2027.
Esse potencial, no entanto, esbarra em obstáculos como a falta de infraestrutura adequada para a região, como poucas estradas – muitas delas ainda de chão batido. “Entre os principais problemas estão as longas distâncias a serem percorridas em estradas inadequadas, o que encarece o frete, a maior parte feito por caminhão, que nessas condições cobram mais caro pelo transporte”, explica o pesquisador Leonardo José Motta Campos, engenheiro agrônomo da Embrapa Soja do núcleo de Palmas (TO).
Para o superintendente de Informações do Agronegócio da Conab, Cleverton Santana, apesar das dificuldades o Matopiba pode crescer mais, até porque possui uma demanda interna (que abrange também a Região Nordeste do país) e áreas cultiváveis planas e boas para a agricultura por ser região do Cerrado. “O Matopiba já mostrou a que veio e tem potencial para continuar crescendo”, aposta. As produtividades médias da região se mantiveram próximas ou até acima das médias nacionais, como na soja, que chegou a 3.448 kg/ha na região no ano passado, enquanto isso o país produziu menos no mesmo período: 3.394 kg/ha.
Conversa com o produtor
A partir desta semana, a equipe da Expedição Safra vai acompanhar de perto a fase de colheita da safra de soja e milho no Matopiba. O objetivo é conversar com produtores, especialistas e pesquisadores para saber quais os desafios e oportunidades que a região oferece. Entre janeiro e abril de 2019, as equipes da Expedição percorrerão quase 50 mil quilômetros em 12 estados das Regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste. O roteiro inclui ainda visitas a áreas de produção agrícola no Paraguai, Argentina, Uruguai, México e Estados Unidos.
Além do levantamento quantitativo da safra, verificando tecnologia das lavouras, custos de produção e impacto do clima – o foco de centenas de entrevistas, depoimentos e coleta de dados será entender, e traduzir, os movimentos do mercado e desafios ligados à logística, à comercialização e ao consumo.
Neste ano, o projeto reforça uma discussão temática do projeto, que também passa pelas engenharias, em especial a Agronomia. A parceria com o Sistema Confea-Crea ajudará a dar ainda mais capilaridade à pesquisa de campo da Expedição, visto que o Confea representa 100 mil profissionais da engenharia agronômica no país.
A Expedição Safra 2018/19 é apresentada pelo Sistema Confea/Crea e Mutua. Com patrocínios da Caixa Econômica Federal, Sementes e Fertilizantes Castrolanda, Agrotec, Alta, Solaris e Sociedade Rural do Paraná. O apoio logístico é do Groupe Renault. Veja mais informações sobre o projeto no hotsite da Expedição Safra.
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